O mar fica embaixo, e as pateras onde Mohamed e outros sobrevivem apenas se distinguem. O aviom atravessa o céu e para o aviom nom há fronteiras nem barreiras geográficas, tampouco semelha haver pestes nem infeçons coletivas. Previamente os sistemas de controlo procuravam atar toda documentaçom médica e legal com o fim de evitar qualquer elemento que interferisse no voo. Umha vez no céu, convertemo-nos em usuárias deste asséptico pássaro de metal.
Ignoro a necessidade que tem o ser humano do turismo depredador. Do mesmo jeito, e sem querer fazer da necessidade virtude, confesso que tenho pánico às alturas, e que por momentos necessitei superá-lo e enfrentar tal problema do primeiro mundo. Todo isso sendo consciente do negócio das infraestruturas, do negócio colonizador e depredador do meio ambiente, do consumismo, e sem deixar de chamar-me a atençom a paixom que move às pessoas que passam literalmente todo o dia no trabalho com o consolo destas viagens.
Tem que haver um problema de poder em todo isto. No meu caso, na minha teima de superar o pánico às alturas, um problema ao nom ter a capacidade de poder utilizar todos os meios de transporte existentes em caso de contar com tempo e dinheiro, e querer fazê-lo, algo que me igualaria com os meus, e nom com aqueles meus como Mohamed, Karim ou Mustafá que se jogam a vida atravessando fronteiras polo mar. No caso das pessoas que necessitam esse turismo depredador, pode que seja o poder de sentir-se donas dumha existência que nom chega.
É certo que nom se pode viajar a todos os lugares, amar a todas as pessoas, comer todas as comidas, ler todos os livros, cheirar todos os olores… precisamente porque forma parte da nossa própria condiçom humana, e é insano ter a sensaçom de que nom é assim, tam insano tal vez como crer que medimos dous metros quando medimos metro e meio. Também, que o circuito de mercadorias e pessoas contemporáneo é um sistema complexo do que formamos parte queiramos ou nom, e que nele nos movemos e desde ele respiramos: podemos escolher cara ou cruz por momentos, mas habitamos na moeda. É nesta moeda que podemos decidir raspar, deixar marca nela ou vangloriar-nos das nossas misérias. De chegar a subir no aviom algum dia, eu prefiro nom tomar fotografias.