Já está a acontecer: o que fora prognosticado há décadas pola literatura decrescentista cobra visos de realidade para o inverno. As oligarquias económicas e políticas, junto os seus meios de comunicaçom, mentalizam-nos: possíveis racionamentos, curtes de subministro, tensom entre potências por umha riqueza à míngua. Repassamos umha semana de tensom que pivota por volta da energia. Apenas as vozes dissidentes ponhem o acento no papel subordinado da Galiza para servir a sociedades devoradoras de recursos, que ameaçam claramente o nosso futuro.
É um feito que o esgotamento energético e a crise ambiental é um potenciador de crises políticas e continua a abrir fendas entre blocos dos Estados dominantes, como salientava, entre outras, a imprensa portuguesa na passada semana.
O debate sobre ‘quem deve ajudar a quem’, sem pôr em causa a continuidade do modelo, começa a recordar o que tinha lugar durante a crise das finanças 2008-2014; mas neste caso reclama-se ao sul da Europa que introduza racionamentos para ajudar o sócio alemao.
O que acontece na Alemanha, que demonstra as fraquezas do centro capitalista, chama já a atençom do mundo, e pode ser o primeiro sinal dum mundo desglobalizado e caminho do decrescimento (caótico ou planificado).
Tampouco outras zonas do centro capitalista se livram da tensom. Na Grande Bretanha, o pavor ante o que acontece na Alemanha, com um possível curte de subministro no inverno, está a potenciar o nacionalismo chauvinista, e os chamados ao ‘auto-abastecimento’, indiferente aos custes ambientais dum modelo caduco.
Ante o medo, abrolham de novo propostas regressivas, como as que no Reino Unido chamam a explorar os potenciais de ser ‘umha ilha de carvom rodeada dum mar com petróleo’. ‘Nada como realismo dumha guerra’, afirma web direitista reaction.life, para fazer ‘acordar o realismo, de que nom há condiçons para as emissons zero.’
Pode a crise energética levar à histéria das classes dominantes, que se decidiriam a queimar carvom até abocar a nossa descendência à despariçom? Certos dissensos já se percebem, e frente o entusiasmo do lobby fossilista, outro sector das elites questiona por exemplo, com muitos matizes, a continuidade da térmica pontesa.
Os efeitos inegáveis da mudança climática, beirando o catastrófico, fam com que o debate energético se vaia introduzindo nos meios do Regime; e se bem a palavra ‘decrescimento’ continua maiormente vedada, o lobby fossilista é questionado timidamente mesmo por plumas que simpatizam com o sistema.
Em Portugal, e contra a tendência dominante na Europa, e a sua disposiçom ao fossilismo para salvar o actual modelo social e económico, o ecologismo institucional impediu que o gás e a nuclear se considerassem energias verdes.
Na nossa Terra, a questom energética está atravessada pola questom nacional. Nom faltou nestes dias quem apontara a clássica denúncia do nacionalismo sobre o papel adjudicado no mapa energético internacional; quando as carências se agudizam no centro, as periferias pagam especialmente duro a situaçom.
Bem que a maioria da populaçom ainda nom aderiu, nem de longe, a umha atitude em favor da mudança de modelo ante este verdadeiro ponto de inflexom, iniciativas de base ecologistas seguem a apontar que o problema nom é a escasseza, senom um modelo energético literalmente suicida. Ecologistas em Acçom aproveitárom este verao para assinalar as consequências da dependência gasística.