Entrevistamos aos organizadores do II encontro de homens da Galiza, que se celebrou na passada fim de semana.
Que é um grupo de homens?
Bom! Depende de a quem lhe preguntes! Para nós, é um espaço formado por pessoas de identidades masculinas no que tratar as nossas vivências e como nos afeta o rol social que se lhe atribui, que nos atribuímos, aos homes e às identidades masculinas.
É a possibilidade de gerar contextos relacionais nos que podamos disputar o nosso rol assumido e vivenciar outras formas de ser e estar, entre homes e com o resto de pessoas: amossar vulnerabilidade, melhorar a gestom das nossas emoçons, pôr sobre a mesa e tratar as agressons que podamos ter cometido cara outras pessoas, etc. Mas, sobre todo, é um espaço de intimidade e cuidados.
Como nasce a ideia de criar este grupo?
O ano passado, vários compas da equipa organizativa deste encontro, homens com vontade de trabalhar as masculinidades, e com umha certa bagagem prévia formando parte de grupos ou obradoiros com homens, levárom a cabo umha primeira juntança em Ourense. Esse encontro deixou-nos a todos os assistentes com moi bom sabor de boca e os que pudemos, subimo-nos ao carro para ajudar com esta segunda juntança.
Em que vai consistir o encontro deste fim de semana?*
Vai ser um convívio de três dias nos que levaremos a cabo quatro obradoiros nos que trataremos questons intrinsicamente relacionadas com as nossas masculinidades: o que fazer nos grupos de homens, as paternidades responsáveis, a gestom das emoçons e como reagir ante as agressons que podamos infringir a outras pessoas.
Ademais dos obradoiros, criaremos espaços de convivência, de descanso, de corresponsabilidade nas tarefas de autogestom do espaço, de reflexom compartida a partir do visionado de documentais que tratam a masculinidade, de lazer. Temos mais atividades das que poderemos levar a cabo, provavelmente.
Como convenceriades a um homem de que participe deste encontro e de que forme parte dum grupo coma o vosso?
Depende de em que circunstancias vitais se encontre e da sua relaçom consigo mesmo. A autoaceitaçom e o bom trato cara um mesmo seriam um bom ponto de partida para fazer um trabalho de reflexom acerca do nosso género, tanto a nível individual como grupal.
De todos os jeitos, provavelmente nom esteamos todos de acordo em que desejemos convencer a ninguém, mas impulsar a quem senta um interesse em compartir com outros homens como se sente. Provavelmente, parte dos assistentes deste encontro serám compas que venham já com um interesse prévio, pessoas que ao longo da sua vida se lhes espertassem preguntas ou a necessidade de compartir com outros homens certas incomodidades ou dissonâncias e mal-estares relacionados com a atribuiçom que se nos fai como identidades masculinas. Em moi poucas horas saberemo-lo!
Achades que os homens sabem gerir as emoçons?
Classicamente os homens temos sido sancionados à hora de expressar outras emoçons além da raiva. Polo que é comum que encontremos resistências e dificuldades quando se trata de vivenciar o amplo espectro das emoçons humanas. Cremos que ainda temos muito espaço para a melhora nesta área e é por isso que faremos um obradoiro tratando isto no encontro deste fim de semana. Seguro que encontramos cousas surpreendentes que nos deem pé a seguir trabalhando polo caminho de normalizar umha gestom de emoçons mais amplo e saudável para nós mesmos e para quem nos rodeia.
Como vedes a situaçom atual? Estamos no bom caminho?
Nesta pregunta imos estender-nos bastante porque non fomos capazes de sintetizar mais.
Vemos um mapa que, a priori, pode semelhar desalentador, mas nom o é tanto. A respeito das agressons e violências (sexistas, cisheteropatriarcais, etc) semelha que as novas geraçons normalizam em muitos casos essas condutas, e a cadência destas agressons parece aumentar. A semana passada, sem ir mais longe, dérom-se várias violaçons grupais, umha delas a crianças pequenas. A normalizaçom destas violências pode provir tanto duns médios de comunicaçom que fabricam titulares que branqueiam aos responsáveis, como dunha falta de consciência e, polo tanto, de implicaçom dos homes na construçom de estratégias coletivas para confrontar e deixar de transigir com o pacto de silencio e cumplicidade que, dalgum jeito, ampara essas violências e os discursos políticos misóginos que as originam.
Ademais, o papel das redes sociais na normalizaçom destas violências é crucial, e temos homens com milhons de seguidores (muitos deles em etapas vitais moi influenciáveis) espalhando mensagens que podem estar fomentando a cultura da violaçom, ou que justificam (ou negam a existência de) a violência de gênero.
Pola contra, achamos que, ainda que as redes som um arma de dobre filo, também funcionam como alto-falante nom só para as identidades hegemónicas que se vem questionadas, mas também para as mulheres e identidades dissidentes, que vem amplificada a sua capacidade de incidência na construçom dum tecido de resistência e organizando-se para respostar, ademais de que nelas se partilham recursos pedagógicos que ajudam também a que aqueles homens com umha intençom de mudar comportamentos e escutar encontrem ferramentas mais facilmente.
Pensamos que neste sentido está a fazer-se um trabalho enorme, e ainda que às vezes nom vejamos que esse labor se reflita no dia a dia no trabalho ou na rua, si vemos um incremento da consciência e cada vez mais espaços onde nom se consentem abusos, e onde muitos tios estám/estamos a problematizar, a pôr o corpo e tomando umha posiçom. Neste sentido, somos optimistas.
É um caminho longo, mas que estamos a percorrer com alegria e raiva, no que muitos homens estamos a encontrar-nos no lugar da ternura, e trabalhando por desenvolver umha cultura dos cuidados que dispute a configuraçom patriarcal das nossas identidades e desejos, e as consequências tam indesejáveis que provoca nas nossas vidas e nas do resto de pessoas.
* A entrevista foi realizada nos dias prévios ao encontro celebrado este fim de semana (https://www.galizalivre.com/2022/05/19/ii-encontro-de-homens-da-galiza-sobre-masculinidade-e-feminismos/)