Nalgum dos seus trabalhos historiográficos, o investigador Justo Beramendi fala de ‘sarampelo arredista’ para se referir ao independentismo efémero e superficial de algum dos vultos da nossa história política, de Ramom Vilar Ponte a Fernández del Riego. Na expressom, de tom burlesco, ecoa algo do anti-independentismo do autor, mas também aparece umha parte de verdade: o sarampelo é umha afecçom própria da idade infantil, e o independentismo foi nalgumha das melhores cabeças da Galiza umha explossom pontual, tam apaixonada e tam passageira como o som as paixons na adolescência. É por isso que a nossa proposta política é adoito contemplada com a mesma atitude condescendente que suscitam algumhas outras formas de rebeldia juvenil: o romantismo decimonónico, a cultura punk ou o hipismo. Todas elas nobres, todas elas entranháveis, mas todas elas escassamente conciliáveis com os rigores da vida real e com as regras de ferro que reinam na sociedade dos adultos.

Acontece que o independentismo galego, pola vez primeira na nossa história, deixou de ser um movimento essencialmente juvenil. Nom somos sociólogos e, obviamente, falamos sem estatísticas na mao (o que deixa a nossa tese numha certa provisionalidade). Mas qualquer vista de olhos às mobilizaçons desta corrente, às biografias dos quadros mais conhecidos, ás idades dos seus presos e presas, às autoras e autores dos seus textos, às pessoas que o financiam…concluirám facilmente que a mediana idade constitui o grosso do seu soporte. Pessoas formadas no ciclo mobilizador da Galiza de entre-séculos (marés negras, greves gerais, LOU), educadas vital e politicamente na sua adolescência ou primeira juventude na militáncia radical, e que hoje combinam as obrigas das suas vidas prosaicas, as responsabilidades laborais e familiares, com um activismo enormemente exigente, que no passado impunha dedicaçons absorventes e, podemos dizer sem demasiado exagero, muitas vezes a vida ou morte.

Certamente que esta maduraçom das fileiras arredistas é comum a boa parte dos movimentos contestatários neste século que andamos. Com a excepçom do feminismo e a reacçom juvenil à catástrofe climática, todas as outras dinámicas colectivas estám nutridas de outras geraçons, e aquela velha associaçom entre mocidade e rebeldia nom semelha tam inequívoca como o era no século XX. As causas som muitas: o processo de maduraçom das pessoas virou mais lento no mundo occidental, o que demora as tomadas de responsabilidade tam sérias como as que supom a militáncia; um estilo de criança permisivo, e por vezes quase anómico, privou a juventude das experiências do choque e dos limites, tam aleccionadoras logo para enfrentar o poder e os seus lacaios; e obviamente, o nascimento dumha segunda vida na esfera virtual introduziu novas chaves de relaçom que os nom nativos digitais compreendemos só mui borrosamente.

Das décadas de luita, da coerência sostida e da experiência acumulada, podemos orgulhar-nos sem falsa modéstia, e comprovar como o respeito com a que se observam as nossas propostas ganhou enteiros, e como a maior parte das nossas prediçons resultárom validadas. Mas isto nom devesse levar à fachenda veterana, tam velha e repetitiva como a história, que acusa à mocidade dumhas carências que nós nunca tivemos. A idealizaçom do passado é falsa, e a crença de que podemos ignorar as chaves absolutamente essenciais da mocidade, muito perigosa. O intercámbio de experiências e pontos de vista entre as geraçons veteranas e as que, meritoriamente, se somam à luita, resulta quiçá umha das tarefas mais apremiantes. A aspereza destes tempos incertos, que previsivelmente se intensificará, farám mui importante transmitir toda aquela bagagem de resistência em condiçons mui duras do independentismo histórico; mas a fluidez e as chaves absolutamente inéditas que vivemos na revoluçom tecnológica e ante um provável colapso obrigam-nos a incorporar as achegas mais inovadoras, que apenas a mocidade pode formular. Passado e futuro encontram-se no presente, e o hoje é já se transforma no amanhá.