Na passada semana, a alcaldesa de Lugo, obediente a um chamado do partido que lhe desputa o mando municipal, o PP, decidiu retirar a estreleira que ondeava em pleno centro da cidade, colocada polo centro social Mádia leva num acto de recordo da revoluçom de 1846. Que o PSOE responde às exigências dos que mandam de verdade, nas grandes e nas pequenas questons, já o sabíamos há tempo; e que recorre à mentira para justificar decisons injustas, disso também éramos conscientes. Neste caso, Lara Méndez defendeu apagar a dissidência do espaço público argumentando que a estreleira ‘é umha bandeira de formaçons políticas.’

O razoamento nom é novo e tem sido relativamente aceite em muitos ámbitos; e nestes tempos em que a estreleira alcança presença em cada vez mais lugares da nossa geografia, dos cúmios dos Ancares até o castro de Santa Trega, podemo-nos perguntar quais som as razons dos seus detractores.

No espanholismo tenhem-se manexado dous argumentos diferenciados, mas ao cabo complementares, na pretensom de reduzir a representatividade desta ensenha. Um primeiro, o mais pobre, é o que se resume na expressom coloquial ‘a bandeira do bloque’. Obviamente, umha formaçom política sempre é bem menos – em extensom e profundidade- do que umha naçom, e por isso dar àquela a propriedade dum símbolo supom encolher este, restringi-lo, e fazê-lo frágil; pois vincula a sua sorte aos acasos polos que atravessa qualquer partido, por definiçom inestável e sujeito aos vaivéns da luita polo poder institucional. Um segundo, mais elaborado, diz que reduzir a galeguidade -ou também a língua- a ‘nacionalismo’ impede a extensom da nossa identidade, que viraria assi num atributo sectário, antes do que cívico. Nom cumpre ser historiador para entender que a Galiza é bem mais que o nacionalismo, certo, mas tampouco é preciso ser um erudito para conhecer que boa parte dos referentes que nos acolhem a galegas e galegos além de barreiras ideológicas, religiosas, geracionais ou geográficas som invençons nacionalistas que demonstrárom ser muito sólidas, consensuais e perduráveis no tempo. Nacionalista é nas suas origens a bandeira branquiazul sem estrela (e que provocava as iras de regionalistas reaccionários a primeiros do século passado), nacionalista é o mito do celtismo, nacionalistas som a iconografia da vaca que popularizou Castelao ou o hino popular ‘A Rianxeira’ e, nacionalista é a recuperaçom da palavra ‘galego’, deturpada pola ainda mui comum ‘gallego’; em termos mais recentes e mais modestos, nacionalistas som o Apalpador ou o Merdeiro; e se assumimos que o significante ‘nacionalismo’ tem o mesmo ou quase idêntico significado que outros significantes anteriores como ‘provincialismo’ ou ‘regionalismo’, concluiremos que também som ‘invençons nacionalistas’ o hino galego, a Real Academia Galega ou os versos de ‘adios rios adios fontes.’ Para tratar-se dum movimento que riscam de fracassado, minoritário, e arredado da hegemonia, nom está nada mal.

Ainda que menos virulento, o receio com a estreleira irrompe com periodicidade também em espaços favoráveis aos direitos nacionais. A estreleira, afirma-se, representa um ideário demasiado restrito no social, e ainda escurece outros símbolos nacionais igualmente representativos; e porém, se outras ensenhas da Galiza ganhárom presença no espaço público nos últimos tempos foi acompanhando, e nunca substituindo a estreleira; pola simples razom que fôrom aquelas pessoas mais empenhadas na socializaçom da chamada ‘bandeira da pátria’ as que se encarregárom simultaneamente de enriquecer o repertório visual galego: a primeiros deste século, foi o independentismo o que introduziu massivamente nas manifestaçons o escudo da sereia, e poucos anos mais tarde, o mesmo movimento, sobretodo a partir do trabalho de recuperaçom da memória dos centros sociais, o que pujo na rua a bandeira sueva. Neste passado 2021, e pola primeira vez desde a época do galeguismo irmandinho, o Projeto Estreleira fazia ondear a bandeira do cáliz e as cruzes na cadeia humana que se desdobrou na muralha de Lugo.

Dizia Chesterton que, assi como é muito doado argumentar sinteticamente porque rejeitamos algumha cousa, é quase impossível argumentar porque amamos o que amamos; demasiadas razons, e demasiado fundas, para exponhê-las em argumentos. O que significa a estreleira para a nossa comunidade nacional resulta complexo de exprimir em papel escrito; e mesmo se quigéssemos enumerar num fólio todos os sectores e tipos de pessoas que a entendem como própria e a podem nomear como um elemento importante nas suas biografias, nom nos chegaria o espaço dum artigo de opiniom. Baixo ela acolhem-se, já o sabemos, militantes entregados e devotos, mas também adolescentes espanhol-falantes que a levam ao futebol, labregos que a ondeárom nas tractoradas, mocidade que vai de troula a um concerto de Tanxugueiras, intelectuais e eruditos, antifascistas…a lista é inacabável, e mesmo poderiamos dizer que nalguns aspectos contraditória. Se umha naçom é um grupo humano que se reproduz através de geraçons num propósito comum de ser e governar-se, soldando nesta pretensom inúmeras fendas, fica claro que a naçom galega existe, e que esse pedaço de teia tricolor que hoje chamamos estreleira representa como nenhum outro a jeira de afirmaçom mais intensa em mais de douscentos anos de história contemporánea. Precisamente porque tem a capacidade de representar a quase todo o mundo, ao mesmo tempo de nom ser propriedade de ninguém, a alcaldesa de Lugo retira a estreleira dum prédio público, e a extrema direita nom descansa por bani-la da rua com ameaças e com multas.