O apelido Tobio associa-se facilmente com umha das mais conhecidas sagas do galeguismo, e vários dos membros desta família desenvolvêrom-se distintas fasquias relacionadas com a defesa da Terra, a cultura ou, no caso que nos ocupa, do papel protagonista da mulher e do combate ao seu ostracismo. Maria Tobio tem parte das suas raízes em Briom, pois o seu pai, Lois Tobio Campos, estava emparentado com Rosalia de Castro. Escreveu poesia em galego, praticou a etnografia afeiçoada e educou as suas crianças no amor polo nosso País; é conhecido o papel do seu filho, Luís Tobio, no nacionalismo nas décadas de 20 e 30, e posteriormente no mundo da intelectualidade galega do exílio. Polo peso de dinámicas patriarcais, pouco sabemos porém de Maria Tobio, que representou, na sua própria biografia, o avanço das posiçons da mulher galega no século XX.

As suas origens familiares estám na classe dos lavradores enriquecidos que, a finais do século XIX, abrem a possibilidade dos estudos universitários aos seus descendentes, e enveredam para a carreira do magistério e o amor polas letras. O pai, Lois Tobio, exerce a carreira docente em Viveiro, pátria pequena dos seus filhos Luis e Maria. Esta última recebe, ainda sendo mulher, umha educaçom esmerada que a fai políglota e ainda assim, pola dinámica diglóssica das classes médias da altura, é criada em espanhol e foi falante desta língua. Quando se decida a escrever as suas memórias (‘Anacos da vida dunha muller galega’, 2003), fará-o no entanto em galego, como homenagem à cultura que aprendeu a amar no seu entorno.

Aos oito anos Maria marcha com toda a família a Santiago de Compostela; a capital da Galiza vai ser, na sua vida forçosamente nómade, umha das referências fundamentais. Por teima da sua mae, que se arrepujo aos receios do contorno, Maria Tobio estudou Filosofia e Letras. Foi umha precursora numha USC monopolizada por homens; polas suas próprias palavras, o contacto com a biblioteca universitária, auxiliada pola bibliotecária Luísa Cuesta, ‘acordou nela umha afeiçom que me durou toda a vida, e que me ajudou a reflectir sobre questons daquela intocáveis.’

Na jeira republicana casa com o também mestre Pedro Martul, da comarca de Chantada, com o que se desloca a Madrid. Lá oposita com sucesso ao Corpo de Auxiliares de Arquivos, Bibliotecas e Museus, um elemento chave da nova lógica de alfabetizaçom republicana; após fugazes estadias na Galiza, o golpe fascista atrapa ambos em Madrid em companhia de duas crianças; Maria Tobio é responsabilizada polo governo republicano para participar da Comissom Gestora do Corpo Facultativo de Arquivos, Bibliotecas e Museus, que luita pola conservaçom dos fundos em tempos de guerra. A piques de cair Madrid, prossegue semelhante tarefa entre o País Valenciano e Murcia, até que a iminência da vitória fascista conduz o matrimónio ao exílio.

Nas suas memórias Maria Tobio reconstrói o traumático passo pola fronteira dos Pirineus, cruzando perigosos caminhos polo gelo, e em companhia de famílias famentas e aterecidas. A doença respiratória que contraem Maria e o seu filho Juan Carlos acaba coa vida deste último, no que foi o capítulo mais traumático de toda a sua vida. Em ‘Anacos de vida dunha muller galega’ a autora recorda como durante toda a sua vida, os pesadelos nocturnos que a acompanhavam sempre tinham a ver com aquela rota infernal polos cúmios dos Pirineus.

Como milhares de exilados da guerra civil, a família Martul-Tobio tem que passar pola experiência dos campos de refugiados. Por influências familiares, e com a ajuda do Comité Técnico de Ajuda aos Refugiados Espanhóis, o casal, com o seu filho Pedro, embarcam no Ipanema rumo a México, onde o governo Cárdenas mantinha umha política de aberta solidariedade, quase em solitário, com a causa republicana. Num contexto mais benévolo e calmo, a vida de Maria Tobio e Pedro Martul volve a relacionar-se com a docência e o livro. Em 1939 colaboram com a posta em andamento do Instituto Hispano-Mexicano Ruíz de Alarcón.


Em 1948 a família decide voltar a Galiza, onde umha ampla rede familiar e umha situaçom económica relativamente cómoda permitia tentar a sua reintegraçom na dura sociedade de posguerra. Já na terra nasce o seu filho Luís e ela pode voltar ao ofício de bibliotecária, mas sancionada, degradada e inabilitada para a ocupaçom de cargos directivos. Como aconteceu com tantas pessoas vítimas do ‘exílio interior’, Maria Tobio trabalha deslocada e em postos secundários no Arquivo Geral da Galiza, na biblioteca da USC e no Instituto Arcebispo Gelmires de Compostela. Em qualquer caso, e polos efeitos de longa duraçom da guerra e a ditadura, Maria Tobio apenas puido desenvolver os seus talentos com plena liberdade e em relaçom com a Galiza até os 28 anos, pois o resto da sua vida seria umha exiliada, ou umha republicana condenada ao ostracismo, e abocada a um papel secundário na sociedade que pretendeu melhorar.