Cumprem-se cinco décadas da publicaçom do informe que, elaborado desde os próprios painéis de mandos do capitalismo, reconhecia pola vez primeira os riscos de colapso civilizatório. O trabalho, nas suas origens restrito ao interesse de especialistas e quadros do sistema, ganhou com a passagem do tempo a atençom dum público amplo, e hoje mesmo a imprensa de grande tiragem regista o aniversário do informe e reconhece que foi premonitório.

As origens do informe acham-se no chamado ‘Clube de Roma’, umha associaçom selecta de quadros políticos, económicos e cientistas do capitalismo que, na euforia do crescimento da II posguerra mundial (década de 60) começárom a detectar os riscos de alarmantes disrupçons. O pai do Clube de Roma foi Aurelio Peccei, um ex-membro da resistência italiana reconvertido a capitalista na indústria automobilística e aeronáutica. Peccei inquietou-se polo optimismo cego do mundo dos negócios da altura e contactou com Alexander King, um químico escocês que dava os primeiros passos na ideia do ‘desenvolvimento sustentável’; tal posiçom pretendia a conciliaçom do crescimento capitalista com o cuidado ambiental, tese que até o momento se tem provado errónea.

Primeiros passos

Com a intuiçom, na altura nom provada empiricamente, de que o crescimento económico ilimitado podia bater com os limites da biosfera, ambos notáveis fundam em 1968 o Clube de Roma, assim chamado por celebrar a sua primeira junta nos arredores da capital italiana. Após a fichagem de numerosos técnicos nas áreas mais diversas, o clube encarregou o conhecido informe The Limits of Growth, umha abordagem holística aos reptos da civilizaçom. Escrito justo antes da crise do petróleo, e portanto numha jeira de euforia económica, a pesquisa foi encarregada ao Massachussets Institute of Technology baixo a direcçom da biofísica Donella Meadow, especialista em dinámica de sistemas. As 17 profissionais que assinárom o informe eram talhantes: ‘se o actual incremento da populaçom mundial, a industrializaçom, a poluiçom, a produçom de alimentos e a exploraçom de recursos naturais se mantém sem variaçom, acadará os limites absolutos de crescimento na Terra durante os vindouros cem anos.’

O informe

As autoras do informe partírom dum programa de simulaçom informática chamado World3, que recriava todas as variáveis a considerar para comprovar o incremento da ‘pegada ecológica’ no período dum século. Numha tese forte que logo faria sua o decrescimento, afirma-se que ‘num planeta limitado, as dinámicas de crescimento exponencial (populaçom e produto per cápita) nom som sostíveis.’ A extralimitaçom no uso de recursos, e o seu progressivo esgotamento, levaria ‘a um colapso na produçom agrícola e industrial, e logo a um decrescimento brusco da populaçom humana.’ Como ideia genérica ante tal desafio, Meadow e a sua equipa bosquejárom a ideia de ‘crescimento zero’ ou ‘estado estacionário’, logo feita sua polo ambientalismo conivente com as teses do livre mercado. Ainda, esta proposta topou com a absoluta incompreensom do mundo dos negócios, desde que a dinámica autónoma do capital nom permite nenhum freo à engrenagem.

Incidência

Os efeitos do informe fôrom ambivalentes. Apesar de os seus autores estarem homologados à política e economia dominantes, o seu chamado foi absolutamente desouvido; tanto é assim que, entre os vários modelos de prediçom elaborados polo MIT, de se continuar no caminho de ‘business as usual’, o resultado iria ser catastrófico. Este foi o vieiro seguido por umha populaçom que medra a medida que medra o seu consumo exponencial de recursos, guiada pola fe inquebrantável nas bondades do consumismo. Por outra parte, e num certo paralelismo com a crescente atençom pública à crise climática, o informe conseguiu fazer acordar umha nova consciência ambiental, pouco influente nas decisons reais, mas ao cabo mui extendida. No próprio 1972, a ONU aprova a conhecida proclama ambientalista ‘Declaraçom de Estocolmo’; e a partir daqueles anos, o ecologismo organizado espalha-se polo mundo opulento. Na nossa terra, a associaçom precursora do ambientalismo, ADEGA, funda-se em 1974.

Revisons

Os sucessivos informes, elaborados também por equipas multidisciplinares em anos sucessivos, nom fixérom mais do que ratificar o que se alviscava nos primeiros 70. Em 1992 o mesmo Clube de Roma publica ‘Além dos limites do crescimento’, detalhando que ‘a humanidade já sobardara a capacidade de carga do planeta para aturar a populaçom’. E ainda depois de fazer um balanço 30 anos depois do texto original, em 2012 sai do prelo umha nova ediçom, atualizada e em francês, chamada Les limites à la croissance (dans un monde fini), que provam com dados perfeitamente atualizados que as prospectivas da equipa de Meadow eram atinadas. ‘Dançamos na beira dum volcám’, dim os autores há dez anos.

Umha década depois, a questom ambiental ocupa todos os cabeçalhos, mas ainda desligada da crítica ao modelo económico que auspicia a crise global. Por palavras do ecologista português Hans Heickoff, da portuguesa Rede para o Decrescimento

Apesar de ser inegável que tenha havido uma maior cobertura noticiosa da crise climática, esta informação está repleta de notícias avulsas sobre ondas de calor, seca, incêndios e outros desastres ambientais, sem relacionar esses fenómenos com um sistema extrativista assente no crescimento exponencial e infinito. Assistimos a debates televisivos sobre as conclusões do Painel Intergovernamental sobre as Alterações climáticas (IPCC) que são interrompidos por diretos intermináveis sobre um qualquer assunto do momento como, por exemplo, a chegada de uma atleta medalhado ao aeroporto, sem nunca enquadrar as verdadeiras causas do problema.”