O 23 de Abril de 1883, Galicia Diplomática publicou no seu número 43 um especial sobre a Revoluçom Galega de 1846. Tiramos dele um extrato em que o autor narra como se somou Ponte-Vedra ao movimento revolucionário da mao do militar de Portas Manuel Buceta. Porém, o mais salientável constitui-o a reflexom sobre como o que começara como mais um pronunciamento espanhol acaba por adoptar um caráter soberanista assim que o povo galego o fai seu. Continuamos a achegar evidências que resgatem a revoluçom de 1846 da caricatura regionalista difundida pola academia do regime espanhol.

<<Ao chegar a duas léguas de Ponte-Vedra luitando com inumeráveis pensamentos, (Buceta) adiantou-se só coa cavalaria e encontrou a porta em estado de defensa e guardada por algumhas companhias. Saíu da cidade decontado e encontrou a sua coluna já mesturada na ponte com um povo numeroso. Ao nom lhe poder dar ordens aos seus soldados por este motivo, apenas berrou: -Soldados! Tendes confiança em mim? -Temos, senhor! Respondérom. -Havedes fazer quanto vos mande? -Havemos, senhor. -Havedes responder os vivas que eu der?-Havemos, senhor. Daquela dirigiu-se ao oficial e apenas lhe dixo: -Conto também com você. E pondo-se à frente da sua coluna berrou com voz enérgica: -Viva a Junta de Santiago! As forças de Segóvia e carabineiros tomárom as armas. O povo correu sem saber por onde. Corrérom também os soldados dum e doutro bando para a Ferraria. Com tal velocidade, que preparárom as armas ao mesmo tempo num corredor do convento de Sam Francisco cruzando as baionetas dumha e outra parte por riba do pescoço do cavalo de Buceta.

Rendido o Paço de Governo, saiu Buceta à praça para reanimar o espírito público. Mas a sua surpresa foi grande quando o provincial de Segóvia fechou as portas do convento e corrérom os soldados cara às fendas de disparo do muro. Em tam críticos momentos, só o povo de Ponte-Vedra deu salvado o temerário Buceta. O concelho declarou pronunciada a capital, e já enquanto se redigia o bando se constituiu a Junta. Ao pouco tempo aderiu-se toda a guarniçom.

Desde o momento em que o povo galego tomou parte direta na revoluçom, variou o seu programa dum jeito essencialíssimo. A Junta de Santiago publicou o dia 10 o seguinte bando: “Esta Junta de Governo, como a primeira que se pujo à frente da revoluçom e em uso das suas faculdades soberanas, tivo a bem decretar o seguinte ARTIGO ÚNICO: Declaram-se nulos todos os atos do governo de Madrid desde o dia 2 deste mês. -Pio Rodríguez Terraço, presidente. -Por acordo da Junta, António Romero Ortiz, vocal secretário.

Galiza e Espanha declaravam-se em certo modo separadas e a primeira, lembrando o seu antigo reino e a sua anterior grandeza, quando era livre, dava-lhe à sua Junta de Santiago o título de soberana. Título que já tivera nos azarados tempos da guerra francesa em que se esnaquizava a uniom dos reinos espanhóis por mor dos grandes erros e desacertos do trono.

E quem sabe se esta época nom passaria à imortalidade gloriosa da história se as mesquinhas rivalidades das cidades nom interpugessem o seu alporizante influxo! Vigo, Baiona canda o seu castelo, Tui, Redondela, a rica península do Morraço, Muros, Rianjo, Noia, A Póvoa, Vila Garcia, Cambados, Cangas, Padrom, Caldas, A Guarda, quase todas as vilas das províncias de Ourense e Lugo, que nom tinham rem que invejar a Santiago, nem capitalidade nem preeminência nengumha, sujeitárom-se à sua Junta Superior de Governo. Mas nom assim A Corunha, a cujas portas chamou o exército libertador o dia 15. Também nom Ferrol, diante de cujos muros ficou todo o dia 19 sem encontrar abeiro. Porém, nom faltavam nestas duas cidades, seica, numerosos comprometidos. Mesmo as autoridades, febles em defensa, tinham vapores de guerra constantemente preparados e coas caldeiras acessas para fugir. Nom foi a sua obstinaçom a trava para a vitória, senom a carência de armas e muniçons para prover a numerosa paisanagem que se regulava em 15.000 homens. O próprio Batalhom Literário tivo que se desarmar para que aproveitassem os seus fuzis combatentes mais veteranos. Mas ainda sem armas nem muniçons, muito dariam que fazer as vilas se nom se lhe confiasse o mando da segunda divisom revolucionária ao brigadier D. Leoncio Rubín. Ele, cos braços cruzados, deixou penetrar a divisom de Concha até Cacheiras, defendendo, que nom aguilhoando a sua retaguarda.>>