Reproduzimos o limiar que José Maria Montes escreveu para a rediçom de “Reseña de los últimos acontecimentos políticos de Galicia” que em 1869 La Correspondencia de Galicia volveu tirar do prelo. A obra, fundamental para entender a Revoluçom Galega, foi publicada no mesmo ano dos feitos que narra, 1846, por Juan do Porto. Para alguns este era o heterónimo do revolucionário Rua Figueroa, para outros o nome auténtico dum advogado compostelano. A partir do narrado por do Porto, erguem-se obras posteriores sobre a Revoluçom Galega como a de Tettamancy y Gaston ou X. M. Barreiro, determinadas assim também polo seu positivismo novecentista e a ênfase na parte militar sobre a civil.

Capa da obra de Juan do Porto sobre a Revoluçom Galega de 1846

O prologuista José Maria Montes viveu de primeira mao os acontecimentos daquele Abril de lume e ferro do 46, já que fazia parte da geraçom de primeiros galeguistas que participou no apoio ao governo galego revolucionário de Pio Rodríguez Terraço e Antolim Faraldo. Aliás, continuou na sua militância o resto da vida, mesmo como participante no Banquete de Conjo, que comemorou o décimo aniversário da Revoluçom Galega e sinalou o começo do Rexurdimento. Admirador de Eduardo Pondal, atingiu fama escrevendo em espanhol obras de caráter patriótico galego como “Honor Gallego”; poesia, artigos e ensaios sobre gramática, literatura ou economia. Defendeu o emprego do nosso idioma em todos os âmbitos, mas nunca deu o passo de abandonar o espanhol para o exemplificar, como tantos galeguistas do XIX. Porém, som reiteradas as suas manifestaçons em prol da soberania galega ao longo das suas obras e artigos. Neste limiar, escrito poucos meses depois da “Septembrina” que destronou a Isabel II em 1868, achega-nos mais umha mostra da interpretaçom independentista da Revoluçom de 1846 que se soma a outras do século XIX recolhidas aqui. Os historiadores do regime espanhol dirám-nos que se refere à independência nacional espanhola ou que foi umha arroutada radical do autor lembrando a sua mocidade revolucionária, encorajado polo “Sexenio Democrático”. Julgue cada quem ao ler o texto:

<<As tentativas dos povos encaminhadas a conquistar a sua independência podem-se parecer a umha riola de meteoros, que faíscam a intervalos e desprendem um corusco claríssimo para se afundir depois nas tevras e reaparecer com mais fulgor para lhes marcar assim aos homens pensadores o vieiro que os guia a furar nos arcanos da natureza. Nestas observaçons isoladas que se ligam através dos tempos, dá-se constituído por último um sistema claro e compreensivo de fenómenos pouco antes desconhecidos e funda-se neles o indestrutível edifício da ciência.

Destarte, as naçons amantes da liberdade, que tenhem as maos aferrolhadas, pugnam um dia e outro por se ceivar dos ferros que as oprimem e executam açons sublimes que, mália o seu isolamento, reaparecem ainda mais heroicas noutras épocas. Até que, unindo-se entre si num estreito vínculo, constituem a era de suprema felicidade por tanto tempo arelada. Nom avonda, porém, que surjam de quando em vez essas luitas testemunhando a constância dos povos livres, cumpre também que existam cidadaos que, atentos sempre ao desenvolvimento do progresso social, consignem em páginas severas e imparciais tam sobranceiros acontecimentos para que saliente a unidade devida nas história imaculada das vítimas do despotismo.

Quando essas páginas brilhantes formam um livro como o que hoje reproduzimos, deitam um benefício imenso no coraçom do homem independente; porque o animam, se esmorece na luita titânica empreendida; porque o consolam se chora se quadra desencorajado sobre a tomba das suas mortas aspiraçons.

A um livro dessa espécie dirigem as suas olhadas as inteligências pensadoras, sempre que acontecimentos análogos aos que contém, venhem a difundir de novo a lapa pura do sol da regeneraçom política e social das naçons. Comparando daquela os feitos mais antigos cos atuais, enxerga-se como som os primeiros a escala gradual dos segundos. Compreende-se entom como os primeiros, os segundos e os sucesivos som elos postos pola mao da liberdade no carreiro que conduz ao tempo da glória. Deduz-se, ao cabo dum escrupuloso exame, que nom lhes é dado aos povos percorrer o espinhento caminho da sua independência sem tomar como ponto de apoio todos e cada um dos seus elos. Reflitamos para nos convencer desta verdade no lema da bandeira arvorada em Galiza no ano de 1846 e conheceremos quanto ficárom atrás hoje os princípios daquela consignados. Mas, quem duvida de que aqueles precedérom os atuais como gloriosos antecedentes das consequências promulgadas no levantamento de Setembro? As conquistas nos eidos físico e moral atingem o seu triunfo por meios graduais e seguros, evitando salvar os abismos com chimpos violentos, já que a instabilidade é o exato distintivo das situaçons forçadas.

Na seguinte “Resenha histórica” oferece-se-lhe ao nosso olhar um desses quadros que vem confirmar a verdade da nossa afirmaçom. Quadro digno sempre de se admirar com especialidade agora que as almas magoadas de tristura viram para os manes das vítimas sacrificadas em aras do despotismo. Nele, acham-se retratadas com pincel valente as diversas cenas dumha campanha curta ainda que cheia de glória para os defensores dos interesses populares. Nele, salientam umha crítica imparcial, umha alma, no seu autor livre de todo receio, canda umha narraçom singela e arrufada assemade com todas as galas dumha linguagem escolhida.

Nom ignorava o cronista das vítimas de Carral que a sua misom era difícil de vez, porque lhe cumpria ferir alguns ao arrancar dos seus rostos a máscara infame da traiçom. Nom ignorava menos que esses traidores, de triunfarem, lhe haviam exigir estreita conta dos cargos guindados contra eles. Tais presentimentos, que servírom para aquilatar ainda mais o valor do ânimo independente do senhor Do Porto, chegárom sem dúvida a cumprir-se, esnafrando-se até o ponto contra a sua teimosia inquebrantável.

Velaqui como esse dom de incorruptibilidade e liberdade, que constitui a principal garantia de fidelidade em todo historiador, foi causa da esbarrada espediçom dumha obra procurada por todos coa ansiedade própria de quem se interessar polos males da sua pátria.

Ao reproduzi-la no folhetim de “La Correspondencia de Galicia” queremos contribuir a popularizar tam precioso livro e render um testemunho de amor e de respeito às imortais vítimas de Carral.>>