O trabalho de recuperaçom historiográfica e social do que levamos de século resgatou, entre milhares de outros nomes, o de Brígida Muñiz Suárez, mulher boirense, precursora no activismo sindical e político. Porém, o feito de ser mulher naquele tempo histórico, e de padecer a enorme maquinária de humilhaçom e silenciamento franquista, nom nos permite ainda a aceder a tantos dados como gostaríamos. Sirvam estas linhas para reinvindicá-la, e para animar a leitura daquelas obras historiográficas que a tivérom em conta.
Nasceu no lugar de Trinháns, na paróquia boirense de Abanqueiro, em data que nom puidemos determinar. Sendo umha freguesia rodeada de mar e ainda hoje mui vinculada ao marisqueio, viviu historicamente volcada também ao agro, e a profissom de Brígida era a de lavradora. Desde a segunda década do século XX, a Galiza rural -que era como dizer quase toda a Galiza da altura- politiza-se através do movimento agrarista, ideologicamente mui diverso, mas enormemente radicalizado no combate antiforal. Nas suas expressons mais avançadas, o agrarismo achegou-se ao republicanismo e ao socialismo, e este foi o caso de Brígida, que aderiu à Sociedade Agrária ‘La Fraternidad’, e também às fileiras do PSOE. Naquele ciclo tam intenso de mobilizaçom popular, e com a vitória da coaliçom esquerdista nas eleiçons de fevereiro de 36, Brígida chega a concelheira em Boiro. Começava a ser habitual que a classe labrega, e em geral a classe trabalhadora, acedesse a postos de representaçom política, mas ainda era extraordinário que umha mulher fosse concelheira. Junto com a alcaldesa da Canhiça por Izquierda Republicana, Maria Gómez, condenada a perpetuidade em 1936, foi a única mulher que exerceu umha responsabilidade institucional naquela década.
A humilhaçom
A partir do golpe, Brígida padeceu todas as modalidades de repressom que os fascistas ensaiavam, pois encarnava aquilo mais odiado pola reacçom: mulher organizada e com autoridade, ideologia esquerdista, e orgulho de classe labrega galega. Perdeu obviamente o seu direito à participaçom política, requisárom-se-lhe as vacas, e foi passeada publicamente polas ruas da vila com as siglas UHP pintadas na fronte (‘Uníos Hermanos Proletarios’, que os fascistas traduziam a ‘Uníos Hijos de Puta’). Como culminaçom, é rapada, castigo especificamente sexista que se considerava, com a violaçom, a máxima aldragem a que se podia submeter umha mulher.
A tentativa de desfeita pessoal de Brígida era umha liçom para todo o povo rebelde, e dá ideia da profundidade dos planos de destruçom postos em andamento: só no ámbito institucional, quatro concelheiros boirenses fôrom assassinados, e no conjunto do Barbança, 42 cargos públicos padecêrom repressom, física, judicial ou económica. (VVAA: Xeración perdida. Coruña 36 : representatividade institucional e represión : as corporacións municipais da provincia da Coruña na II República, 2018). Para termos umha ideia da dimensom do acontecido, lembremos que na Galiza fôrom executados os quatro governadores civis, os alcaldes de cinco das sete cidades, e os de 26 vilas de importáncia.
O ódio à mulher
Aurora Marco tem abordado em várias das suas obras os decisivos avanços da mulher galega na II República espanhola, o seu posterior papel sobressaliente na resistência, e o discurso de ridiculizaçom e escarnho lançado polos franquistas contra aquelas que nom se rendiam. (Aurora Marco: ‘Contra o silencio. Mulleres na resistencia antifranquista’, in Ana Acuña: Letras nómades. Experiencias de mobilidade feminina na literatura galega, 2014). Aurora Marco recorda o papel de Dolores Blanco a presidir ‘La Reivindicadora’ de Cangas, de Elvira Bao Maceiras e Amparo López Jean a dirigir a Agrupación Republicana Femenina da Corunha, ou a viguesa Concepción Alfaya, concorrendo às eleiçons como candidata republicana antes de terem as mulheres direito a voto. Para o jornal fascista ‘Arriba’ e o movimento triunfante, as armas deviam impor ‘contra el feminismo, feminidad’, segundo escreviam em 1939, e nesses anos sucedem-se os relatos que riscam de ‘perversas’, ‘pouco femininas’, ‘bandoleiras’, quando nom ‘amantes dos bandoleiros’ ou ‘putas’ , as mulheres que resistem na clandestinidade, assegurando a subsistência das estruturas políticas e militares, ou tendendo pontes de comunicaçom e apoio entre as famílias e os presos.
Com Brígida Muñiz venhem à memória colectiva os casos da vianesa Asunción Casado Atanes ‘Pasionaria’, a asturiana Consuelo Alonso González ‘A Comunista’, as viguesas Peregrina Comesaña Costas e Rosario Hernández Diéguez ‘A Calesa’, a marinesa Elsa Omil, a canguesa Benigna Rodal Fernández ‘A Peteira’, a canguesa Benigna Rodal Fernández, ou Cecilia Comesaña. Todas elas vítimas da repressom, cuja memória foi felizmente restaurada; porém, enquanto as vítimas tenhem um rueiro, monumentos comemorativos e livros que estudam as suas figuras, umha nova-velha extrema direita com apoio de massas ocupa as instituiçons e branquea denodadamente o genocídio.