Os princípios deste outono saiu do prelo o que ia ser o primeiro Dicionário do Galego de Astúrias. Esta obra, publicada pola Universidade de Vigo, conta nas suas 800 paginas com mais de 32.000 entradas, e som o froito dos mais de 20 anos de investigaçom e de trabalho de campo que inverteu nela Carlos Jesus Varela Aenlle; geógrafo de formaçom, doutor em Filologia Galega pola Universidade de Vigo e académico correspondente da Real Academia Galega para o Eu-Návia.

Hoje, e já com a primeira ediçom esgota, achegamo-nos a falar com ele para que nos conte os porquês, os problemas e os resultados desta obra, coa que nom só amostra o carinho face à comarca do Eu-Návia, senom, também, a sua responsabilidade com a língua e a cultura galega que lá sobrevive. Aliás, também aproveitaremos para conhecer brevemente qual é a situaçom que atravessa atualmente este galego de primeira linha, e como suporta os ataques que chegam dende as diferentes façons políticas e culturais que tentam borrar o sua pegada das Astúrias.

De onde nasce a ideia de fazer esta obra?

A ideia da necessidade dum dicionário da comarca do Eu-Návia já vem de longe. Primeiro, na década de 1940 com o filólogo Dámaso Alonso. Depois seguiu a tradiçom a Mesa para a Defesa do Galego de Astúrias (MDGA), onde também se tentou como um projeto de futuro. Esta ideia nom foi nunca abandonada, porém dada à riqueza linguística da zona, e num momento determinado, eu decidi acometer essa obra. Revisando os vocabulários que havia, que nom eram muitos, assim como os jornais, os livros das festas, etc., e com a ajuda de muitos informantes da comarca ao final saiu umha tese que derivou num Dicionário. E por último, também o figem com a intençom de incorporar todo esse léxico ao mundo do galego-português mais ao mundo “oficial” do galego; para o seu corpus e para nom perde-lo. Já que é inadmissível que em pleno século XXI nom tenhamos na rede um Dicionário Dialetológico Galego de todas as comarcas aonde se fala.

Quais forom os principais problemas ou atrancos cos que se encontrou?

Os problemas fôrom económicos. Mas às vezes também o nom poder aceder a determinadas fontes ou a falta de apoio por parte das instituiçons galegas, quitada a Universidade de Vigo. Aqui entramos numha contradiçom; por umha banda é um orgulho fazer um dicionário sem apoio económico nenhum, às vezes nem moral, e pondo quartos do meu peto, por amor a umha Terra e a umha língua, aliás, pola outra banda, produz um desacougo enorme essa falta de apoio económico e moral desde a própria Galiza. Deixando assim a comarca como umha zona erma, aonde se sofre a continua incursom de instituiçons alheias coma é a Academia da Llingua Asturiana (ALLA), que tem umha Secretaria para o Eu-Návia dirigida por umha pessoa que nem sequer sabe umha palavra de galego e menos da situaçom da comarca, Carmen Muñiz.

Que podemos encontrar no Dicionário do Galego em Astúrias?

No Dicionário encontrarám umhas 50.000 entradas. Deste jeito é o mais amplo feito até o de agora, e engloba os dezoito concelhos da área eunaviega assim como o galego de Negueira de Munhiz. Essa é a área dialetal tratada. Aparecem também todas as variantes que se puderom recolher, refráns, giros, vulgarismos, formas verbais, locuçons, interjeiçons, etc. Moitas vezes nom é umha entrada simples, senom enciclopédica. Nisso som seguidor doutros autores tipo Fritz Krüger, do mundo da etnografia, de descrever umha peça o mais que se puder, nom só nomeá-la se nom pôr também as suas caraterísticas. O mesmo acontece coas espécies vegetais, marinhas, animais, a arquitetura, etc. E engadindo moitas vezes o concelho onde foi recolhida a palavra.

Porque, se falamos dos seus e das suas utentes, qual é a saúde atual do galego na comarca?

A saúde da língua é boa em geral. Claramente as geraçons de mais idade som aquelas que mais falam galego, descendo nos mais novos. O mesmo acontece coa diferença entre o interior, mais galego falante, e a costa, onde diminui. Das duas línguas autóctones de Astúrias o galego é a mais falada percentualmente. Porém a despovoaçom e a falta de autoestima estám fazendo-a desaparecer, e vemos um vocabulário muito mais singelo, além da perda do vocabulário ancestral. Ademais da pouca promoçom, e da separaçom do seu tronco linguístico, o galego-português, e as nocivas políticas da ALLA e mais do Principado.

Nom tem a sensaçom que do galeguismo interior se deixou desprotegido o galego falado além dos limites institucionais do país?

Totalmente. Se excetuarmos partidos como Ligando ou o Partido da Terra, ou algumha associaçom como a Francisco Lanza de Ribadeo, o resto tem umha atitude que muitas vezes já é de ignorância sobre o tema ou se nom umha até negaçom de que seja galego o que se fala na comarca. É inadmissível que nos mapas do tempo da TVG ou nos culturais nom apareçam as comarcas estremeiras, nos eidos políticos que cada quem pense o que queira, pero na cultura está mui claro e praticamente sempre aparecem mapas da CAG. Por outra banda, no soberanismo maioritário, no BNG, o problema nem existe. As iniciativas referentes a estas comarcas som zero, e vemos como estes espaços que deixam som aproveitados pola extrema direita, pola UPL ou polas forças como Compromís. Esta situaçom era impensável há uns anos, pero radica numha estratégia totalmente errada. É mui bonito fazer unha comemoraçom do Partido Galeguista (PG), mas sabem realmente o que pensava o PG destas comarcas onde até tivo militantes na II República? Já nem falemos dos pactos para as eleiçons europeias, que vam com umha força negacionista do galego em Astúrias, como é Andecha Astur. Alguém se imagina a ERC indo da mao dos blaveiros do País Valencià? Surrealista, por empregar um termo benévolo.

Acha que de conhecermo mais as variedades do galego estremeiro estas podem ajudar a nossa língua? Quais deveriam ser os passos para começar a protegê-las e a valora-las como merecem?

Deveriam estar visibilizadas em todo o mundo cultural galego, RAG, ILG, RTVG etc. É indispensável, por exemplo, que a TVG tivesse correspondentes para a zona, e que sempre que se façam inquéritos sobre a língua galega estejam incluídas as variantes das comarcas estremeiras. Por outra parte, exigir-lhe ao governo asturiano que poda existir umha optativa de língua galega nos centros escolares e nom um engendro com umha qualidade mui baixa, que nem mira para a quantidade de riqueza que tem o espaço do galego-português, e que amais proíbe, de facto, que um professor de galego poda optar a essas vagas, que se obtenhem com um cursinho da Academia de la Llingua Asturiana.

Como foi recebido nos círculos asturianistas e na academia Asturiana o dicionário?

Em geral mal. Incompreensivelmente no século XXI, além de ser censurada em muitos foros das redes, chegam a receberem-se ameaças privadas, etc. Mas há que ter em conta que a ALLA vai fazer outro Dicionário em dous anos, segundo eles, com 40.000 euros dados polo estado, graças a Compromís. E nom há nengumha voz do soberanismo cultural galego em contra, porque nom o sabem ou bem nom o querem saber. Também é certo, que há exceçons sobranceiras que o recebérom bem, mas é um setor mui reduzido. O asturianismo tampouco é um movimento monolítico, é transversal, e luita pola oficialidade da sua língua e também do galego em certos setores, mais com muitos matizes.

Galego falado em Astúrias, “galego-asturiano”, ou “a fala”? Por que esse menosprezo à impronta galega nos territórios asturianos onde ainda mantenhem nom só a língua galega senom também umha cultura e umha história ligada a Galiza?

Todos esses termos estám promovidos para nom ter que chamar-lhe galego, realmente quando se fijo a Lei de uso e promoçom do Bable/Asturiano, até um deputado do Partíu Asturianista, Xuan Xosé Sánchez Vicente, académico da ALLA, negou-se a que se lhe puje-se o nome de “gallego-asturiano” numha postura lamentável. E mais lamentáveis fôrom as declaraçons dos anteriores ex-presidentes da ALLA, como Ana Cano, falando do termo galego como algo despectivo, um racismo totalmente fora de lugar. A baixa autoestima dos habitantes vem da ideia, bem metida no corpo, de que nos considerem maus asturianos ou que nos chamem “gallegos”.Este aspecto é moi promovido por sectores da extrema direita do jornal de La Nueva España e por certos sectores do asturianismo como Andecha Astur, extremos que finalmente se tocam. O tema daria para muitos estudos, desde os inquéritos identitários e falsas da ALLA, até o diferenciar-se da Galiza, etc., e que já fica mui bem explicado em estudos antropológicos como o do autor José Luís García dos Ozcos.

O certo é que essa teima de enfrentar-nos, ambos os dous povos galaicos, tem fundas raízes históricas. O último capitulo disto foi a teima do Principado em furtar-lhe o nome a Ria de Ribadeu. Como vê este conflito? Acha que tem motivos linguísticos claros ou em troques responde a outra classe de interesses?

O interesse é claramente político, já que lhe dá votos à direita e à esquerda mais jacobinos. É incrível que depois dum ditame maioritário do Instituto Geográfico Nacional (IGN), nos 2008, agora se mude o nome por condicionamentos políticos. Nengumha Ria se chama polo nome do Rio, nem sequer as asturianas (Avilés, Ribadeselha, Tinamayor, Navia). O resto é mentir. Os critérios nom som nem históricos nem geográficos, mesmo sim é um termo mui usado no franquismo. Que o governo asturiano estivesse empregando essa denominaçom, sendo ilegal dende os 2008, e que nem o Estado nem a Junta lhe dixessem nada… Se fosse em Euskadi ou em Catalunya o caso seria diferente, lembremos as cadeias de Nafarroa no escudo basco. Mesmo algum departamento da Junta de Meio Ambiente usou o topónimo deturpado. Umha parte que imponha a outra um topónimo e amais em espanhol diz-nos muito de como estám as cousas. Houvo um contrainforme da Galiza? Só um do Conselho da Cultura Galega que foi bastante frouxo, mas nengumha manifestaçom no Parlamento Galego, nem das forças galegas e só o Concelho de Ribadeo e mais a Deputaçom de Lugo recorrérom o ditame, mas bem tarde…