A notícia fijo-se pública no passado dez de dezembro e, duas semanas depois, a denúncia de organismos variados em defesa dos direitos humanos, e de associaçons de jornalismo independente, ainda se fai ouvir em distintas latitudes. Julian Assange, o jornalista independente promotor de Wikileaks, está mais perto de ser extraditado aos Estados Unidos, após o Tribunal de Apelaçom de Londres dar a razom a Washington na sua petiçom de julgar o activista por ‘espionagem e intrusom informática.’ Nem a delicada situaçom de saúde de Assange, nem a excepcionalidade carcerária que pode enfrentar, dissuadírom os tribunais británicos.

Sem ser condenado formalmente por nenhum delito, Julian Assange leva já umha década confinado em território británico: sete anos refugiado como asilado político na embaixada do Equador, e desde a primavera de 2019, na prisom de maxima segurança de Belmarsh, em Londres. Os Estados Unidos reclamam-no por 18 alegados delitos de ‘espionagem e intrusom informática’. Os fios segredos que revelara Wikileaks, e dos que se aproveitara boa parte da imprensa mundial de grande tiragem, punham a nu múltiplos casos de vulneraçom de direitos humanos por parte dos Estados Unidos, nomeadamente nas guerras do Iraque e Afeganistám, nas que se incluíam mortes deliberadas de civis e jornalistas.

Situaçom extrema

Até o momento, a extradiçom de Assange estivo paralisada, desde que a justiça británica dera a razom à defesa do australiano: Assange padece sério risco de suicídio pola situaçom extrema que vive. Está submetido a condiçons de isolamento, consome antidepressivos e antipsicóticos, e padece sérias distorsons sensoriais e de memória. No passado outubro, sofreu um derrame cerebral que lhe puido custar a vida.

A chamada de atençom sobre a experiência extrema que vive este cidadao australiano nom parte de nenhuma radicalidade política, senom dumha voz tam institucional como a de Nils Melzer, o relator da ONU que se encarrega de fiscalizar as puniçons crueis e degradantes ao longo do mundo. Com muita clareza, Melzer manifestou-se sobre o tratamento que as autoridades británicas dam a Assange: ‘nom sendo que for libertado da pressom constante do isolamento, a arbitrariedade e da perseguiçom, a sua saúde iria entrar numha espiral descendente que poria em perigo a sua vida. O Reino Unido está-o a torturar literalmente até a morte.’

Neste mês, porém, o Tribunal de Apelaçom británico acede às razons da administraçom estadounidense. Para se completar o processo, falta agora que o caso vaia à Corte de Magistrados de Westminster, de primeira instáncia,e daí à Ministra de Interior, Peiti Patel, que terá a última palavra.

Promessas e ameaças

A vaga promessa das autoridades estadounidenses é que Assange nom vai ser submetido ao conhecido regime de ‘Medidas Administrativas Especiais’ (SAM). Os seus defensores, e colectivos de defesa dos direitos humanos, ponhem-no seriamente em causa, lembrando o conhecido caso de Daniel Hale. O ex-analista de inteligência do exército do aire dos Estados Unidos, que veu à tona da actualidade por denunciar os efeitos mortíferos dos ataques por dron, está hoje recluído na prisom de Marion, en Illinois, numha chamada ‘Unidade de Gestom de Comunicaçom’ (CMU). Com as comunicaçons intervidas e um severo isolamento, estas unidades som umha cópia do SAM que se aplicam a ex-servidores do Estado que o poder considera traidores.

Para enrarecer ainda mais a situaçom, no passado Outono transcendeu que a CIA utilizou a cobertura dumha empresa de segurança espanhola na Embaixada de Equador em Londres para espiar Assange e os seus advogados durante a sua jeira de asilo naquele prédio. O ex-director de inteligência norteamericano, Mike Pompeo, tampouco nom desmentiu as tentativas de assassinato de Assange a cargo da CIA. Em entrevista recente numha rádio estadounidense, respondeu a essa pergunta: ‘os maus dedicam-se a revelar segredos, e nós temos a obriga de ir trás eles.’

Com motivo deste novo passo cara a extradiçom, o jornalista espanhol Pascual Serrano assinalou duas curiosas coincidências que deitam muita luz sobre a saúde democrática do nosso mundo: a primeira, que o mesmo tribunal que aprova a extradiçom de Assange é o mesmo que se negou à extradiçom de Pinochet no seu dia ‘por razons de saúde.’ E umha outra, que a data em que este tribunal se pronunciava sobre a sorte do cidadao australiano, cumpriam-se 74 anos da aprovaçom da Declaraçom dos Direitos Humanos por parte da ONU.

Mais contudente foi ainda o jornalista Chris Edges, premiado com o Prémio Pulitzer, no seu blogue ‘The Sheerpost’: ‘o império sempre mata os que lhe impingem feridas fundas e sérias.’