Ainda que a apresentassem como um fenómeno de casos isolados, hoje há poucas dúvidas que a corrupçom é umha linha de actuaçom instalada no sistema de jeito mais alô do conjuntural. Queiramos ou nom é umha maneira de fazer nalgumhas gobernanças. Outra cousa é que podamos encontrar casos – sem conexom aparente de saída- e depois fossem conformando as numerosas tramas atuantes, das que tanto escuitamos falar.
Umha explicaçom possível, a minha, tem como referência a teoria de Kandinsky. Nela di o seu autor que, a linha geométrica é um ponto em movimento sobre o plano mais ao escaralhar-se o repouso do ponto, este move-se polo espaço dando origem à linha. Seguramente no começo alguns “pontos filipinos” com listura davondo percatárom-se da possibilidade de encher a caixa fazendo-se piratas modernos sem papagaio mas com assessores. O “choio” podia dar muito só precisavam de movimento no espaço (quanto mais grande, mais possibilidades de” fazer caixa”), dando origem a umha linha de feitos em que convergérom umha ânsia sem medida das pessoas, umhas necessidades de financiamento das estruturas políticas que medravam em progressom geométrica e um método de trabalho nebuloso com “engenharia”, “intendência”e “permissividade” do poder. Mais adiante as linhas fôrom cruzando, umhas com outras, convertendo-se em tramas mui mestas.
Acaso cada quem na sua contorna nom olhava enriquecementos indevidos? Ou nom escuitávamos falar? … “roubará algo, mas fai cousas”. Houvo cumplicidade mesmo para justificar ou silenciar as poucas vozes que se atrevérom a denunciar. Talvez o efeito mais nojento da corrupçom é o falseamento do sistema democrático gerando um clima de desconcerto na sociedade que observa como o seu funcionamento diário vira em torno a escandaleiras, abusos, e em geral condutas que se afastam muito dumha gestom ética do público.
Mas nom deveríamos laiar-nos tanto agora sem fazer umha mínima autocrítica. Seica nom houvo laudatórias públicas e privadas da acumulaçom da riqueza quanto mais aginha melhor . Demasiados aplausos e cobertura de todo tipo para quem diante dos nossos olhos tivo umha “resistível ascensom” económica-política e social, da que tanto e também nos falou Bertolt Brecht na sua tentativa por explicar o ascenso de Hitler representado em Arturo Ui no espelho amanhado do cenário e o que atinge o poder mediante o terror, o crime, a traiçom e o engano numha envolvente de crise, gángsters, mercado e política.
A obriga democrática, ademais de exigir e fazer justiça, é pôr novos muros de contençom jurídicos, políticos e cidadaos de tal jeito que os casos que podam acontecer de novo, sejam comportamentos individuais sem nengumha possibilidade de amparo ou proteçom dos poderes e dumha parte da sociedade. Concretizemos as penalizaçons das responsabilidades políticas e penais dumha vez e, se de verdade entendemoso que é umha prioridade, exijamos a depuraçom de responsabilidades dotando de meios e independência a quem o tem que fazer. Exigir que os e as responsáveis da “pirataria contemporânea ” devolvam o botim roubado leva aparelhado instrumentos e legislaçom equilibrados a tal fim.
As democracias atuais precisam dumha cultura cívica sólida que participe e tome interesse polos assuntos públicos. A melhor menzinha é a responsabilidade e a transparência diante de qualquer limitaçom ou sançom à liberdade de expresom.Temos necessidade dum impulso nessa direcçom e mantenho a esperança nalguns sectores do jornalismo, da xustiza, da política e da maioria da gente para fazê-lo depois da autocrítica.
Os grandes grupos dos meios de comunicaçom dedicam-se a muitas cousas mas no seu papel de supervisores do poder público e político tenhem eivas. Parecem mais interessados em jogar o rol de organismos envorcados de jeito prioritário nos sua política e economia. Nom acredito nas filtraçons interessadas, nem selectivas. A informaçom vai além de ser o primeiro em dar umha noticia a qualquer prezo ou dum tratamento dela, desde a perspetiva da “amizade” e dos interesses criados. Para mais e melhor democracia precisamos debater também o papel dos meios de comunicaçom e saber das “ajudas ” também dos porquês nos seus desequilíbrios e discriminaçons.
Nom podemos desconhecer que assistimos a umha nova relaçom entre Estado-meios-sociedade. Em cada conflito podemos mirar os meios como umha força carregada de interesses pronta para intervir politicamente no momento em que lhe convinher. Por isso nom é de estranhar que as forças de poder que os dirigem nom se dediquem ás análises da realidade senom que tratem de construi-la coa sua ideologia.
Nom me surprende tampouco a efetividade do ” marketing político” nem que as sondagens eleitorais tenham umha pegada às vezes aparentemente contraditória. Som ilustrativos para explicar o efeito “Podemos” e “Ciudadanos” pola possibilidade de influenciar na gente provocando umha volatilidade no seu voto com certas semelhanças co que acontece nos investidores da Bolsa co medo. Atenta deveria estar Iolanda Diaz a este assunto da ascensom deste jeito aos “altares” da política.
Chegam novos processos electorais. Seguro que assistiremos a mudanças na representaçom (estám cantados, ademais de serem necessarios). Ainda assim, duvido que tenham a intensidade, profundidade e decisom para resolver algumha das questons prioritárias, das que quigem falar hoje. Isolar a corrupçom (que sempre existirá na condiçom humana) para que deixe de ser estrutural, precisa também dumha sançom negativa no ato eleitoral. É verdade que os governados tenhem coartada davondo nos governantes e nos membros das elites dos outros poderes para deixarem passar o assunto e cair de novo na trampa da utilidade e do pragmatismo ou do “que mais tem!, som todos iguais”.
Votar é bastante mais que umha festa da democracia. Talvez na saída da ditadura essa interpretaçom “festiva” tinha sentido por questons óbvias. Hoje mesmo publicá-lo assim seria tanto como rebaixar o papel da cidadania ao mesmo plano que outro divertimento ou prazer. A democracia nom consiste em só votar um dia; precisa ser um processo de participaçom mais com umha delegaçom permanente. Umha papeleta depositada numha urna é um ato de responsabilidade para quem se sinta ator dumha obra sempre sem rematar chamada democracia, mais também pode ser conformismo com seguir sendo espetadores dumha farsa co mesmo titulo.