Xosé Antón Araúxo é todo um corredor de fundo dos movimentos populares do Val Minhor: participou do associativismo vicinal e das comissons de festas, foi concelheiro nacionalista com responsabilidades de governo, participou da directiva do Instituto de Estudos Minhoranos, trabalhou no sindicalismo de classe, e hoje consagra os seus esforços à presidência da junta da comunidade de montes em mao comum da paróquia de Couso, no concelho de Gondomar. O modelo de gestom do território que ensaiam, que mereceu prémios da ONU ou mençons nos Estados Unidos, segue dando nestes dias que falar: o monte comunal acolherá agora um ‘Bosque da Língua’, ferramenta didáctica e conservacionista que jungue memória, terra e futuro.

Conta-nos para começar como te envolviches na luita pola mao comum

Em 2008 um grupo de vizinhos decidimo-nos a plantejar umha candidatura alternativa à directiva existente, que tinha o monte num estado de semi-abandono, e por dizê-lo com palavras grossas, como um autêntico vertedoiro. Estaba deslabaçado, sem ordenar, e funcionava apenas como um depósito de madeira, obviamente de espécies de crescimento rápido.

A nova equipa chegou à directiva e viu um potencial enorme, quer para a produçom de riqueza, para quer para a restauraçom ambiental, quer para a criaçom de postos de trabalho. Claro que, para encetarmos um plano ambicioso, o primeiro era limpar, ordenar a superfície, e pôr cada espécie no lugar que lhe corresponde. Tínhamos a certeza de que um maior rendimento partia polo potenciamento de espécies de ciclo longo tais como o castinheiro, a cerdeira, a nogueira, que iam ser complementadas com os ingressos anuais das setas ou dos froitos vermelhos.

Junta da Comunidade de Montes de Couso

Qual foi a acolhida que tivo o vosso plantejamento?

Boa, sem dúvida, ainda que cumpre pensar que este é um trabalho de médio e longo prazo, nós levamos implicados já treze anos. Tivemos e estamos a ter um grande reconhecimento, e nom só no Val Minhor, e nom só na Galiza, senom além das nossas fronteiras. Claro que isto nom é um processo doado: para que a gente comece a sentir orgulho polo seu monte, para isso cumpre assimilar novos modelos, e isto custa, porque o modelo clássico de monte baseado no eucalipto é aparentemente muito fácil, muito rendível, muito simples. Logo sabemos que nom é tam assim, que os rendimentos nom som tam bons como parecem. Mas isso é certamente o que está no caletre de boa parte da gente no início.

Instalaçons habilitadas na imediaçom do monte de Couso

Que dificuldades topastes?

Fôrom de vários tipos. Apoio político nunca houvo, nom sendo umha pequena parêntese com a presença nacionalista no governo municipal. A Junta tem-nos fechado as portas em reunions, mas nom nos rendimos, e procuramos outras saídas: solicitamos subvençons de prevençom de incêndios, aspiramos a projectos da UE.

Logo existem dificuldades de tipo técnico ou económico, que tenhem a ver com o tecido produtivo galego. Porque está nas nossas maos produzir um produto de qualidade e com valor engadido, caso das setas shiitake, mas a posteriori resulta complicado dar com canais de comercializaçom. Cumpre ir a um nicho de mercado muito específico, polo regular caro. Gostávamos de vender a outro preço, mas evidentemente, com as grandes empresas nom podemos concorrer, porque nom nos seria rendível, e é polo que procuramos estes nichos tam específicos.

Com que nível de profissionalizaçom funciona a comunidade?

Nom há exactamente pessoas fixas, mas si quatro comuneiros que trabalham praticamente todo o ano. O trabalho está um chisco em funçom da venda de madeira, que é bastante volátil, e por isso a nossa intençom é estabilizar ingressos. Para isso precisamos, polo si ou polo nom, reduzir a superfície de monocultura de crescimento rápido. Hoje o eucalipto representa um 40%, e queremos reduzi-lo num 15%. O 90% dos nossos ganhos reivistem-se no monte, esse é um critério básico.

Que diríades a essas pessoas ou comunidades que seguem a apostar cegamente no eucalipto?

Pois diriamos-lhe que o eucalipto nom tem um rendimento tam alto como parece, é bastante baixo, e aliás chega cada vinte anos. Que fique claro que nós ainda recorremos a ele de maneira secundária, e nom por gosto, mas por necessidade, e ano trás ano tencionamos reduzir um chisco a extensom que ocupa. E temos claro portanto que há formas mais seguras e mais rendíveis, mais respeitosas com a terra, para focar o investimento no nosso monte, por isso procuramos produçons de tipo anual como as setas, com a ideia de alcançarmos um volume suficiente para fazê-la muito proveitável.

Estes som os argumentos de tipo económico, mas como todos e todas sabemos, há umha outra série de razons que vam além do produtivismo, porque o monte nom é apenas produçom.

Que linhas de acçom estabelecestes para além do económico?

Tentamos ter muito presente sempre que o monte pode ter uns usos recriativos e formativos enormes, e se falamos de montes como estes, relativamente cercanos a áreas urbanas, mais ainda. Por isso nós habilitamos rotas de sendeirismo, restauramos moinhos, sinalizamos mámoas e castros. Temos também umha zona específica para usos de lazer e dança arredor dumha pequena barragem. No monte comunal de Couso existe aliás um área que chamamos Bosque das Memórias, onde lembramos as pessoas que já nom estám com nós, situado no Cham da Baamonda. Familiares ou amizades da comunidade de montes, ou cercanos, que perderam seres queridos, chantam lá umha pedra com o seu nome, acarom dumha árvore.

Toma de possessom da direçom da Comunidade de Montes de Couso

E neste fim de ano lançades a inovadora ideia do Bosque da Língua

Si, vimos de fazê-lo público, e fazemos um apelo à implicaçom popular, porque estamos a piques já de lançar umha campanha de crowfunding na que esperamos conseguir 21000 euros. Como comunidade de montes, é o nosso modesto grau de areia para evitar a morte do idioma, e ao mesmo tempo demonstrar como um espaço assim pode funcionar como recurso didáctico. Neste bosque dará-se espaço a criadores e criadoras galegas que recriárom a natureza na sua produçom literária, e as crianças do país formarám-se ao mesmo tempo em botánica e biologia, em literatura, e em amor polo nosso. O Bosque incluirá um anfiteatro para a organizaçom de eventos. É um projecto de Couso, de Gondomar e do Val Minhor, mas pensamos que terá um alcanço nacional.

O monte de Couso com espécies autóctones

Para rematar: mergulhados como estamos de cheio em várias crises (sanitária, económica, ambiental), formas de gestom alternativa dos recursos, como a mao comum, som observadas com crescente interesse. Que lhe dirias sobre o seu potencial às nossas leitoras e leitores?

Pois diria muito claramente que temos que ir a procurar quanto antes alternativas para a nossa subsistência: o sector terciário está a esmorecer; aqui, nesta área industrial da Galiza sul, temos claro que a boa parte da indústria, como a automoçom, nom lhe resta muito. É urgente pormos em valor os recursos naturais que temos, que nom som poucos, e geri-los com visom de futuro e orgulho, pois os tempos que se achegam vam-no exigir. Nom se trata do interesse apenas da comunidade dumha paróquia, trata-se dum interesse social global.