Num artigo recentemente escrito no digital catalám ‘Critic’, Sergi Picazo apontava umha frase muito certeira: ‘demasiadas cousas que semelhavam impossíveis estám-nos a acontecer ao mesmo tempo’. Suba de preços, escasseza de materiais de primeira necessidade, vírus mundial, tensons geopolíticas e fenómenos climáticos extremos concatenados. Neste portal levamos várias semanas tencionando dimensionar o que vivemos, longe de todo sensacionalismo, para dirimir se a emergência é conjuntural ou veu para ficar. De partida, e como Picazo diz, ‘todo é confuso, todo é incerto, todo é complexo.’

Como sempre acontece, factos pontuais, mais ou menos importantes, venhem a revelar estados mentais de fundo. Neste outono convulso, a alarma social saltou com motivo dumha campanha do Ministério de Defesa austríaco, advertindo da possibilidade ‘dum grande apagom europeu’ no vindouro lustro. Longe da mera alerta, o que chamou a atençom da advertência governamental era a concreçom das medidas propostas: as forças armadas do país editavam um video sobre que fazer em tais difíceis circunstáncias, complementavam-no com umha página web informativa, e editava dous folhetos em papel.

Fantasias apocalípticas?

Seguindo umha posta em cena que remite a filmes apocalípticos que tam recorrentes som nos ecrás, o governo austríaco instruía sobre como acumular conservas, filtrar água, conseguir candeias ou realizar primeiros auxílios sem assistência profissional. Em pleno coraçom da Europa, a notícia parecia pura fantasia, e porém o governo francês de Macron, que neste outono se declarou plenamente favorável de reforçar a energia nuclear, editou um manual muito semelhante on line, chamando a atençom sobre a dificuldade de ‘enfrentar tais situaçons, por súpetas e imprevistas’.

Na lógica capitalista de tirar lucro de qualquer calamidade, o mundo virtual inçou-se de ofertas inauditas de venda tramitada por Amazon, também no Reino de Espanha: camisolas térmicas para frios extremos, depuradores de água, baterias solares, contentores de conservas…o pánico fijo o seu efeito, e na própria Galiza, vendedores de bombonas, camping gas ou geradores eléctricos manifestárom o seu abraio por vendas que quase liquidam os stocks.

Prudência espanhola

A balbúrdia criada foi tal que mesmo Teresa Ribera, ministra espanhola de Transiçom Energética e Repto Demográfico se viu na obriga de comparecer publicamente. Chamou a atençom contra as ‘fake news’ e salientou que o modelo espanhol, pola sua alta auto-suficiência ‘é objecto de cópia’ por parte de outros países. Há parte de verdade nesta afirmaçom, desde que o Reino de Espanha só tem um 2,8% de conexom com o resto do continente, o que semelha ser blindagem contra males maiores. Prestigiosos professores como Pedro Linares, catedrático do Departamento de Organizaçom Industrial da Universidad Pontificia de Comillas, manifestava nos meios que a crença num possível apagom respondia a ‘mensagens demasiado catastróficas e fora de contexto.’

E porém, nas reportagens circulantes cumpre, como sempre, ler as matizaçons e a letra pequena. Ainda que a Rede Eléctrica Espanhola propagandeava que o sistema hispano é objecto de cópia, um documento oficial de 2017, intitulado ‘Estratégia de Segurança Nacional’, reconhecia que a força do sistema espanhol era paradoxalmente a sua vulnerabilidade, pois ainda que protegia de falências europeias, também abria a porta a disrupçons internas se falharem as fontes de fornecimento próprias. Na mesma linha incidia o Informe Anual de Segurança Nacional 2020, no que 200 expertos advertiam que Espanha devia aspirar a um ‘15% de interconexom eléctrica com a UE em 2030.’

Peças que nom encaixam

Pola vez primeira, o discurso de omnipotência do poder mostra pequenas fendas, porque a incerteza acada os altos níveis da hierarquia. Para além da controvérsia dos apagons -apenas umha mostra do que está a ferver-, a média maioritária incide na tese de que a escasseza e o encarecimento se devem ao fenómeno do ‘colo da garrafa’: demasiada procura súbita, ao finalizarem as corentenas, para umha indústria enfreada. Conhecidos decrescentistas ponhem em causa que isso seja a causa última. O cientista do CSIC, Antonio Turiel dizia há pouco, a modo de exemplo, numha das suas muitas entrevistas: ‘falta vidro. Falamos dum material reciclável e de proximidade, logo, neste caso o problema também finca no problema dos colos de garrafa logísticos? Nom se trata mais bem de que os custes energéticos de produzir o vidro abafam a indústria?’

Ainda que nom poidamos dimensionar realmente a dimensom do que nos toca viver, o grande debate situa-se entom entre quem pensam numha conjuntura especialmente volátil, normalmente nas redondezas do poder e os seus meios afins, e aqueles pensadores independentes que falam dumha convulsom de modelo marcada polos limites energéticos e ambientais.