Nas passadas semanas, um instituto de análise estatística fazia públicos os resultados dum inquérito em que a populaçom da CAG confessava, num 63%, ser ‘abertamente pessimista’ sobre o futuro; os níveis de desesperança medravam ao 73% no arco da populaçom assalariada, e nos segmentos etários mais novos. De pano de fundo, custes energéticos desbocados, inflaçom, falta de fornecimento de certas matérias primas, e sinais climáticos inquietantes. Fugindo da tentaçom sensacionalista e do catastrofismo, tam recorrentes, queremos ajudar a compreender o que se está a cozer, e assim poder navegar estas águas turbulentas.
Neste mês, a factoria de Stellantis, em Vigo, parou certas quendas da sua produçom por falta de materiais de primeira necessidade para a construçom de carros. O Clúster de Empresas de Automoçom da Galiza anunciou publicamente que estimam que os curtes de matérias primas no País ‘podem dar-se até 2023.’ Remontando-nos de causa em causa, parte dos problemas de fornecimento tenhem a ver com a descida da extracçom de magnésio, básico para a produçom. O 87% do utilizado na nossa Terra procede da China, que tivo que enfrear a produçom por contínuos apagons eléctricos.
Este sector é mais um entre outros muitos: na Galiza -e em geral na Europa- também o sector dos brinquedos adverte sobre um Natal ‘atípico’. Como muito, o joguete para crianças virá ‘disparado de preços’, confessam os fabricantes. Aumentos de 40% de preços, escasseza de bicis, triciclos, ou consolas como a PlayStation; falta de camionistas (na Galiza, até uns 2000) chaves para agilizar o comércio globalizado.
Na hostelaria, revigorizada pola trégua na pandemia e a abertura de controlo social, há expectativas semelhantes: a escasseza em alumínio e aço com que se fabricam os contentores de transporte marítimo diminui a possibilidade de importaçons; a escasseza atinge aliás ao vidro -chave no sector bodegueiro, que deixou uva sem envassar num ano de magnífica vendima-, e o cartom, tam importante em bares, restaurantes e pubs, encareceu-se num 30%.
Pinceladas dumha anormalidade global
Antes de debruçarmos na análise de fundo, continuemos a dar pinceladas do contexto global, pois só assim teremos ideia das trovoadas sócio-económicas e obviamente ambientais que se achegam à Galiza.
Na Áustria, o governo reconheceu a princípios deste outono estar a preparar a populaçom para um ‘apagom de envergadura e certa duraçom’. A sua ministra de defesa, Klaudia Tanner, foi mais longe ao manifestar: ‘a questom nom é haver ou nom haver apagom, senom quando vai acontecer este’.
Na Moldávia, a companhia russa Gazprom ameaçou com curtar o subministro gasista neste inverno, o que deixaria sem aquecimento mais de 2,6 milhons de habitantes (aproximadamente, a populaçom galega em território CAG). A empresa, que elevou os preços de 550 a 790 dólares, denuncia impagamento governamental, e os sectores pró-ocidentais da Moldávia querem ver a decisom umha forma de pressom política após a eleiçom de Maria Sandu, política pro-UE e pro-USA.
Mas nom é só a decadente Europa a que se enfrenta a tremores mais do que conjunturais. Certamente que representantes do Reino de Espanha tivérom que viajar de urgência à Argélia para garantirem fornecimento gassístico do norte. Porém, as turbulências energéticas vam muito além: na China, 21 das 31 províncias em que se divide o país sofrêrom apagons; a escasseza de carvom e gas natural levou a esta dinámica, que salpicou também o sector dos combustíveis automobilísticos: um certo pánico, semelhante ao vivido a finais de verao no Reino Unido, levou à formaçom de grandes fileiras de compradores ansiosos nas gasolineiras, que apostárom nalguns casos pola racionalizaçom do diesel.
Algumha razom de fundo: extracçom e transportes
Estudiosos universitários, nom necessariamente ligados a propostas radicais, levam já anos -e especialmente meses- alertando de graves disfunçons no mercado global.
No contexto do Reino de Espanha, umha das vozes mais valentes ao apontar as raízes desta desorde que vivemos é Alicia Valero, da Universidade de Saragoça. Valero é responsável polo Centro de Investigaçons de Recursos e Consumos Energéticos, e assinala que neste ‘outono quente’ combinam-se duas crises entrelaçadas: crise extractiva e crise de transportes.
Autora da obra ‘Thantia: os limites materiais do planeta’, Valero tem declarado em entrevistas na imprensa mainstream que ‘a sociedade de usar e deitar ao lixo na que vivemos nom é mais sostível’. O que estamos a viver, segundo a autora, é um pequeno assomo na escasseza da extracçom de vários materiais essenciais na nossa sociedade tecnológica.
A voracidade consumista nom pode satisfazer-se nestes momentos com a actual cantidade circulante de certos materiais: o lítio e o manganeso com que se fabricam as nossas bateriias, o teluro de cádmio com que se fabricam as láminas fotovoltaicas, o gálio e o germánio que está na base da iluminaçom led, e o irídio, que é básico para os ecrás táctis.
A escasseza relativa de minerais raros veu confluir com umha crise de certas dimensons no transporte, motivada à sua volta polo encarecimento dos combustíveis: a produçom de diesel caiu um 10% desde o ano 2018, e a produçom de petróleo está regida já por um défice de 2,5% em comparaçom com a procura. O resultado: umha multiplicaçom de preços no transporte global que fai quase inassumível a nossa compra diária. Segundo Freightos, umha consultora especializada em fletes marítimos, o encarecimento dos transportes oceánicos nos últimos tempos beira o 840%.