Ao que parece o esperpento segue a ser o espelho deformante com que adoitam nos olhar desde Espanha. Quando já nos estávamos a repor da aldragem desse sonado programa televisivo de cozinha em que botárom mao dos eternos tópicos e do nosso sotaque, sai umha sentença dumha juíza de Marbelha que retira a custódia do seu filho dum ano a umha mulher por viver na Galiza profunda, onde seica nom há múltiplas possibilidades para o adequado desenvolvimento da personalidade dum neno e para que medre num ambiente feliz. O neno fica co pai em Marbelha por ser umha cidade cosmopolita com infraestruturas, um bom hospital e todo tipo de colégios, públicos e privados. Segundo a juíza, a Galiza profunda cai numha zona da ría de Muros e Noia longe de todo e sem opçons laborais.

Pode que a juíza nom ande tam descaminhada co de situar a Galiza profunda em Noia pois de todos é sabido que essa vetusta vila foi fundada por Noé, o da arca, em recuados tempos, que a sua igreja principal fica inconclusa e que alberga umha maldiçom. Tamém saberá a juíza que acô está o conjunto de lápidas mais importante de Europa, co perigo que isto supom para umha criatura, a Feira medieval mais fetém e a melhor empada de berberechos do mundo, depois da de Ferrolterra. Curiosidades ancestrais dum mundo atrasado. E ainda que está tam perto de Corunha e de Santiago, todos conhecemos que era terra de sapateiros e bem sabemos que o tronante e o demo frequentavam esse ofício. Que oportunidades educativas e laborais vai ter um pequeno de um ano no que foi um dos portos mais importantes do Atlántico? Imos privar ao pequecho de chegar a ser o rei do tijolo ou o xeque da noite marbelhí para rematar sendo um pobre mariscador que malvenda o ouro da ría a calquera restaurante malaguenho?. E ainda que Noia tivo três antigos hospitais no medievo quando Marbelha aínda nom fora conquistada, agora haveria que trasladar ao pequeno ao hospital de Santiago de se dar umha urgência, dionolo queira, isso sim, por umha autoestrada novinha. Por riba está essa torre inacabada coa lenda negra de que quem a rematara correria um destino fatal. E assim foi com um cineasta que nos anos 70, elevou umha torre de cartom pedra para a rodagem de A campá do inferno, precipitando-se acidentalmente da torre e morrendo.

Que vai fazer umha criança entre a Cova da Moura e a Cascada de Argalo senom se criar coma um selvagem megalítico ou se dourar ao sol, despido, no Castro de Baronha?Condenaremos ao cativo a viver coa sua nai como um simples muradám, exposto a esquecer a língua de Cervantes, esse escritor castelám de apelidos galegos, por um galego com gheadas, podendo ser políglota marbelhí a fazer negocios no Bounty Beach?. Podendo viver co seu pai numha cidade cosmopolita de próspera industria hoteleira e golfista no paraíso da Espanha seca, deixaremos que a criança viva coa nai que o pariu numha terra de bruxas, perigosas sereias que de jeito vertolám afogam marinheiros para levá-los aos seus leitos marinhos, maroutalhos, serpes voadoras, urcos que agoiram morte, destripadores de antano, malos olhos, companhas, tangaranhos, terroríficas lamias e lurpias, lavandeiras da noite que nos reclamam torzer-lhe as roupas dos defuntos, pedras abaladoiras, sortilégios e pentáculos do Ciprianilho, revoltas priscilianistas, santuarios de morte, ondas fecundadoras, rapas das bestas, krakens e congros gigantes?. É de recibo acaso privar a um neno de se desenvolver no meio de urbanizaçons de turistas torrados ao sol que mais quenta em areais de grava ou de ter lazer no parque comercial de La Canhada com cem mil metros quadrados de tenda para os escassos dias de chuva nom mais que para o meter numha profunda ria onde a brétema pare pantasmas e chove que nom escampasse?

Que juíza nos seus cabales, cambiaria o luxo asiático e chic de Puerto Banús onde nos seus restaurantes VIP se pode desfrutar dum centolo por um olho da cara ou os dous pola mar brava do porto de Muros ou Noia?.

Bem pensado e deixando a chacota, magoa que umha letrada nom saiba que Noia estivo sempre bem comunicada, pola pedreira e vedranha Ponte Nafonso por onde íam e vinham pessoas e mercadorias cara às bisbarras de Outes e pola Ponte de Traba, na antiga calçada romana, caminho da tam galega Braga. Pero ainda magoa mais que se lixe a palavra profunda para se referir ao mundo rural ou vilego como sinónimo de carente de cultura ou possibilidades de se desenvolver umha criança no paraíso da Ibéria vaziada.

Se a juíza marbelhí reparara no inferno que vai supor a suba da temperatura e das águas polo cambio climático livraria ao neno daquele clima abafante.