As Olimpíadas ainda nom rematárom mas já houvo numerosas controvérsias. A última foi a protagonizada por Rauven Saunders, a atleta norte-americana que alcançou a prata na prova de arremesso de peso. No pódio, durante a cerimónia da entrega de medalhas, Saunders cruzou os braços por acima da sua cabeça em forma de X, gesto que representa “a intersecçom onde todas as pessoas oprimidas se encontram”.

Saunders é ativista polos direitos LGBTI+ e pertence a vários coletivos oprimidos, pois é negra, lesbiana, e também confessou que tivo problemas de saúde mental.  Segundo as suas próprias palavras, fixo o gesto para “dar à luz a todas as pessoas do mundo que lutam e que nom tenhem umha plataforma para falar por si mesmas”.

Mas por este gesto o Comité Olímpico Internacional (COI) abreu umha investigaçom e ameaça que poderia quitar-lhe a medalha à atleta. O COI ampara-se na regra 50 da Carta Olímpica, regra que dize que “nom é permitido nenhum tipo de demonstraçom ou propaganda política, religiosa ou racial em qualquer local, instalaçom ou outro local que seja considerado parte dos locais olímpicos”.

Mas enquanto investiga o gesto de Saunders, é habitual ver a desportistas fazer gestos religiosos durante as provas e durante a entrega de medalhas, como é o caso de desportistas persignando-se ou o caso do rezo conjunto de todos os jogadores de Fiji logo de ganhar a final olímpica de rúgbi 7, sem que o COI atua-se em nenhum destes episódios.

Tampouco se pode obviar o facto tam evidente de que a própria competiçom dos Jogos Olímpicos é por países, com toda a carga política que isto implica. Qualquer prova das Olimpíadas é um desfile de bandeiras “nacionais”. Existe algo mais político que umha bandeira? O apoio ao equipo olímpico espanhol é também um posicionamento político, igual de político que mostrar rejeiçom cara os símbolos espanhóis. Ana Peleteiro saiu coa bandeira espanhola no peito quando subiu a recolher a sua medalha, e considera-se o “normal” enquanto seria sancionada se subisse ao pódio coa Estreleira na mão.

Apenas aqueles gestos que incomodam ao poder som suscetíveis de ser considerados “propaganda política” e por tanto, sancionáveis. Mas a dia de hoje é indiscutível que o desporto de elite, e nomeadamente as Olimpíadas, é um assunto político. É tam óbvio que nom deveria ser necessário dizê-lo. O simples feito de que os médios recordem continuamente que nom se deve misturar desporto e política é a prova de que já som indissociáveis. O discurso dominante de “nom politizar o desporto” tem como único objetivo manter e reforçar o status quo.

Por último, é significativo que os momentos históricos sobre os que se sustenta a imagem dos Jogos Olímpicos som aqueles que hoje em dia estám proibidos polo COI, como a imagem que vai baixo estas linhas.

O gesto de rebeldia de Tommie Smith e John Carlos o dia de entrega de medalhas dos 200 metros nas Olimpíadas da Cidade do México. Dous homens negros descalços, com as cabeças baixas, de punhos erguidos com luvas pretas, enquanto tocava o hino dos Estados Unidos. Um forte gesto simbólico para reivindicar os direitos civis afro-americanos num ano de tragédias, com as mortes de Martin Luther King e de Bob Kennedy.