Em novembro de 2020 afiliei-me a Causa Galiza, ameaçados nove dos seus militantes -junto com três da solidária Ceivar- a penas de cárcere por criptoterrosimo e a própria organizaçom pendente da ilegalizaçom pola Audiência Nacional. Pedim a entrada coma um ato de apoio aos meus paisanos e de autodefensa política, pois tinha claro na liberdade política -e vital- destes independentistas defendia a própria, a de todos nós. Das imediatas razons políticas e institucionais da ofensiva do Estado espanhol para criminalizar a oposiçom política, de longa história e curta memória, contei em A Herdanza.

Explicar como é que já nom sigo na organizaçom resulta algo mais complicado. Coa surpresa pola completa absoluçom dos acusados a finais do passado ano e a definitiva confirmaçom de que a Fiscalia renunciava ao recurso, véu umha evidente desafogo e felicidade, mas também começárom a fazer-se evidentes os danos pessoais e organizativos, o custos vitais dos militantes e o esgotamento dumha organizaçom política perseguida policial e judicialmente durante seis longos anos, limitada pois e absolutamente condicionada no seu trabalho diário e obxectivos políticos à própria defensa e supervivência. Causa Galiza aparecia vitoriosa e ao tempo mui danada e cansa. Era evidente a necessidade de recomeçar e reconduzir a organizaçom e eu mesmo meditava sobre se marchar ou quedar umha vez desaparecida a ameaça de cárcere e ilegalizaçom. Decidim quedar um pouco mais ante a expectativa do processo Trevinca, co que neses momentos Causa Galiza tentava precisamente redefinir-se e afiançar a causa independentista além da sua mera supervivência como organizaçom. E justo nessa altura a organizaçom estoupou, estalárom as pessoas, finou a confiança. Certo que a reclusom polo covid dificultou moito as relaçons e seica aguilhoou a crise, mas os estragos que abrolhárom nom os causou o covid, manifestavam fondas eivas na organizaçom.

A faísca da crise fôrom umhas diferenças sobre umha palestra feminista por internet. O incidente, aparentemente casual, é de feito bem expressivo do fundo político da crise. Um reconhecido membro da executiva, um dos nove acusados e um dos mais activos e dedicados militantes de Causa Galiza, quijo impor quem havia ser invitada ás palestras à organizadora delas, coordenadora da comissom feminista e vozeira da organizaçom. Foi um claro exemplo de mansplaining e autoritarismo, e por riba a intervençom era um erro organizativo fenomenal num momento extremadamente sensível do feminismo, dividido ante a polémica Lei Trans. E até aí chegou. A coordenadora e a comissom feminista inteira plantárom-se exigindo um cambio real nas pessoas e nos modos. Mas o comité executivo nom foi quem de dar os mínimos passos, e de ali a umhas semanas a coordenadora feminista decidiu fazer público o problema. Dividida e incapaz de resolver, a executiva deu a palavra á militância, que reunidos em assembleia constatamos a gravidade e fondura das nossas diferenças. Umha parte da militância entendia a denuncia pública da comissom feminista coma umha traiçom à organizaçom, no entanto outros entendíamos que justo essa via de resoluçom interna era a que fracassara e que fazer público os danos privados é o fundamento da política. Com todo, na assembleia ainda fomos quem de acordar umha declaraçom em apoio à comissom feminista e nomear una executiva provisional para organizar umha nova assembleia na que, atingindo a máxima participaçom da militância, elegéssemos por votaçom e de modo conjunto políticas e pessoas para superar a crise. Porém, um dia antes desta segunda assembleia, as contas de Causa Galiza nas redes sociais declaravam-na desconvocada e ilegítimos os seus acordos. Em certo modo, este foi um segundo intento de ilegalizaçom do independentismo, e surpreendentemente esta vez desde a própria organizaçom. Nessas semanas muitos militantes deixárom a organizaçom, já cansos de anos de luitas e resistências e desbordados pola liorta, divididos eles mesmos por velhas lealdades e afetos. Pareceu-me que eu nom tinha muita excusa para desentender-me precisamente entom, e quedei.

Mália a ilegalizaçom virtual, a assembleia tivo lugar como estava previsto e com seis dos oito membros da executiva provisional nela, e assim conhecemos que os outros dous se alçaram para si coa representaçom pública de Causa Galiza censurando umha assembleia que contavam perder. Esta segunda ilegalizaçom, tam fantasiosa como a da AN, se bem muito menos perigosa, amostrava a realidade da estrutura de gestom hierárquica e patriarcal que a comissom feminista denunciara e na que alguns membros guardavam zelosamente as chaves do aparato administrativo e de comunicaçom como se a organizaçom fosse património seu. Nunca me pareceu casual que a crise acontecesse justo após a absoluçom, quando a defensa político-judicial dos acusados e da própria organizaçom deixou de ser prioridade absoluta. É bem conhecido o propícios que os estados de emergência som ás dinámicas de usurpaçom e controlo, e neste sentido a situaçom de Causa Galiza bem pode entender-se como umha sequela mais dos seis anos suportando umha situaçom política excepcional. Na crise da organizaçom o feminismo nom só foi o catalizador, desmonstrou -outra vez- ser o sujeito político hegemónico do momento atual em tanto ao través dele se manifestam e expressam a generalidade dos conflitos. Definitivamente, o pessoal é o político. Na estranha segunda assembleia de Causa Galiza votamos de jeito quase unânime a única candidatura presente, formada por cinco mulheres e três homens, incluíndo três das cinco componentes da comissom feminista que denunciara o machismo na organizaçom. E de novo os acontecimentos surprendérom-me ao comprovar que eram as integrantes desta candidatura quem mais rejeitavam reproduzir um novo ciclo de enfrentamento, agora contra velhos companheiros que pretendiam ilegitimar-nos, preferindo dedicar o seu tempo e energias ao processo de abertura e renovaçom do independentismo que pudesse superar os danos de seis anos de luita política e judicial, defendendo a memoria do feito mais sem nostálgia nengumha do passado. Assim dérom começo as Asembleas Abertas Independentistas, e aí estou agora.

A independência de Galiza é umha aspiraçom minoritária no país, e até agora marginal, marginalizada. A mera possibilidade dumha Galiza soberana arrepia o espanholismo e por isso perseguírom e buscárom ilegalizar Causa Galiza ou Ceivar. Porém, tenho claro que Galiza merece quando menos essa possibilidade, pois ter a simples possibilibilidade de eleger fai-nos já mais livres. Que hoje o independentismo siga a ser una opçom política legal e legítima devemos-lha a quem defendeu a legalidade e legitimidade dessa política frente ao intento de criminalizaçom do Estado espanhol. Agora o propósito é reforçar a possibilidade, convertê-la numha oportunidade real para todas as galegas e galegos.

Oscar Pazos R. é participante nas Assembleias Abertas Independentistas em Vigo