Hoy me propongo fundar un partido de sueños, talleres donde reparar alas de colibríes.
Se admiten tarados, enfermos, gordos sin amor, tullidos, enanos, vampiros y días sin sol.
Hoy voy a patrocinar el candor desahuciado, esa crítica masa de Dios que no es pos ni moderna.
Se admiten proscritos, rabiosos, pueblos sin hogar,desaparecidos, deudores del banco mundial.
Silvio Rodriguez, Cuba, 1996. Ala de colibrí.
Só se pode cuspir face arriba se estas disposto a voltar atrapar e tragar o cuspe. É o momento de ser mais punkis.
Alvaro Franco. Ponte Vedra. 2003.
Ainda nom evoluímos. Foi em 2008 quando começou está crise que estamos a viver e nom parece que vaia acabar. Muitos falam de crise terminal, estado senil do capitalismo, etc, por muito pre-clara que fosse a estratégia independentista previa ao colapso financieiro, com todos os seus acertos, na construçom nacional, crítica da turistificaçom, da enxurrada eólica que se avizinhava, no combate anti-capitalista adiantando este estado de cousas num momento de confiança total no sistema, etc nem era perfeita,nem o movimento capaz de aplica-la com a força necessária, nom previa todas as mudanças, pois acompanhando esta crise, vinha também a política e territorial, a crise social que nom é só económica, convertendo-se a passos agigantados em crise civilizacional e moveu todos os marcos da política nacional e internacional para um lado e para o outro repetidamente nos violentos e gélidos anos 10.
Umha década ancorados no porto do continuísmo e das lealdades vácuas, que nom às ineludíveis. A repressom estivo e está aí, com consequências duras a nivel pessoal e de movimento mas num dissimulado conformismo, algúns utilizam(o-la) de excussa fácil para muitos problemas. É certo que tivemos que dedicar um grande esforço ao campo anti-repressivo e manter o básico para nom acabar esfoladas mas num exercício de sinceridade e auto-crítica, ainda por fazer, devemos situar os erros próprios, cometidos coletivamente, na peneira analítica. A falta de debate político profundo e de base foi substituído por inércias e malas praxes organizativas. Nom vai ser neste breve texto que solucionemos erros estratégicos e táticos, mudanças assinaladas teoricamente sem acerto na sua implantaçom prática, alianças esnaquizadas polo peso do infantilismo, um vanguardismo sectário, incapaz de acumular a mínima força comum no tempo, mas elevado até a categoria de máximo expoente “político”, formas patriarcais que se despregam contra todas, homens incluídos, que questionam, que propõem alternativas à repetiçom continua de caminhos a nenhures ou pretendem situar a visom irmandinha na sua justa medida, ampliando-a fora do “guetto”, a todo o movemento e mais alá. Quem neste texto pretenda encontrar nomes e apelidos, de pessoas, organizaçons ou façons, que olhe para o espelho e comece a análise, que falta fai, continuar sem o fazer significará perder a confiança que resta.
Desde o ínício do milénio fomos todo o púnkis que conseguimos e nos deixárom, lá onde pudéssemos chamar a atençom do nosso povo, estávamos “dando a nota”. Todo o povo confiava no sistema, o nacionalismo galego estava a piques e tocou poder autonómico e a ilusom do progresso e o crescimento económico eram todo-poderosos. Neste contexto entende-se bem que abrir olhos a base de golpes na mesa do conformismo e a paz social fosse imperativo e preocupava menos ser percebidos como inadaptadas pois realmente éramos, só por pôr em causa certezas de palha. Como vimos defendendo, esse já nom é o contexto, que vai com os ritmos musicais atuais, onde as formulas de sucesso fusionam 2 ou 3 estilos, no mínimo e som muito mais bailáveis, mesmo para quem nom desfruta já de tanta mobilidade. O punk é um movimento juvenil de compromisso 24/7 e confronto incluso com a familia e precisamos doutro estilo, se calhar o do Luar (o programa musical da tvg, nom a organizaçom revolucionária portuguesa). Por suposto também se inclui o punk nas fusons, de facto é necessário pois, mais dumha vez, precisaremos provocar e também voltar tragar cuspe, mas nom como elemento principal dumha sinfonia que quer acompanhar vitórias e hegemonias. Há umha mudança de ciclo imparável, ou espelimos ou culminamos umha nova rutura geracional.
A pluralidade do independentismo anti-capitalista galego é incrível e longe de ser um entrave representa o caminho à maturidade, pode ser a sua maior fortaleza. É possível artelhar um projeto político comum e umha estratégia de futuro partilhada mas esta deve surgir, além dos objetivos estratégicos e da análise política, da realidade do trabalho no seio do povo, evoluir com base nas contradiçons neste e fugir de apriorismos ideológicos. Pode ser como o 12º aniversário, o nosso Bar Mitzvá coletivo, iremos trabalhar o campo e os adultos, porfim, falarám-nos em galego e entom começaremos a aprender, as cançons que permanecem. Necessitamos umha organizaçom política do independentismo galego e nom umha organizaçom para o independentismo galego. Devemos começar por colocar as paredes de vidro, incluso antes do que as portas, passando a nível interno das palavras valeiras aos feitos transformadores; no que a isto se refere, nom se pode ser mais descrida neste mundo do que o é umha independentista galega.
Sonho com umha abertura. Abertura a grande família galega, sem que o auto-ódio nos engane. Neste país todas nós conhecemos e nom falo só das independentistas, que como dim os fala-barato, cabemos num táxi. Sobre relaçons familiares, um esquio pode cruzar o país desde Navia até a Guarda. Poucas naçons tam povoadas, dispersas no seu próprio território e fortemente interligadas existem no mundo como a Galiza e pouco o temos em conta. Precariedade e monocultivos. Trás varias ruturas geracionais nas últimas décadas, temos, agora, a posibilidade de compor melodias e retrousos que cante gente de todas as idades, mesmo, quem sabe, um hino, um “ghit” desses que perduram para sempre e cos que as avós arrolam as netas. Só vai ser possível trocando a estratégia. O reconhecimento (que nom conhecimento) do nosso movimento por parte do povo galego só o conseguiremos desde o feminismo, a pluralidade, a empatia, o impulso intergeracional, a reproduçom social nas comarcas rurais e vilas meias e na integraçom dos setores juvenis urbanos alheados da cultura nacional. Desde 2017 nom participo de nenhumha organizaçom nacional e estar imerso em processos repressivos dificultou-me sonhar, igual que a muitas companheiras, mas agora com essa absoluçom na mao, sonho até acordado e dou voltas aos pequenos ou grandes passos necessários para avançar na agregaçom de vontades que possibilite criar a nova estratégia comum e acho vai ter que encetar desde o impulso social, onde conseguimos as pequenas vitórias e onde conservamos algumha base de apoio. O País está para nós, nom há razóns objetivas, além da repressom imperial, que dificultem o desenvolvimento do projeto político.
Ao longo destes anos de luita comprovamos que nom se constrói país, nem irmandade, nem alternativa política, na teoria “certa” ou na vanguarda bem compacta (onde ficárom?) mais polo contrario reproduzimos as íntimas solidariedades, os acertos da vontade e o acaso, os graus mais elevados de camaradagem entre libertárias e marxistas, proletárias de décadas e jovens precarizadas ou que “nem estudam nem trabalham” e sendo todas arredistas e anti-capitalistas com o tempo percebemos, ainda intuitivamente, essas olhadas e atitudes de boas e generosas nas que confiamos muito mais alá do que umha corrente política, nacional ou internacional, poda representar. A nova estratégia comum nom vai ser elaborada com tijolos emocionais, também nom ideológicos ou políticos, necessitamos todas as perspectivas mas nom podemos utilizar tijolos para um futuro de terremotos e furacáns, precisamos, por se fosse pouca cousa já, novos materiais. Contamos com umha história, da que devemos aprender mas nom ficar enfeitizadas, se realmente queremos, dumha vez, adaptarmo-nos a este novo tempo político cheio de inestabilidades, onde os elásticos e costuras do movimento estám e estarám constantemente a prova. Temos tarefas por cumprir e polo bem do país, nom podem, nem devem, ser cobertas por nenhum outro agente político. Contamos coa base humana inicial para levá-lo avante mas temos que dar-lhe um novo equilíbrio, perspetivas de futuro e organizaçom irmandinha.
Só desde as contradiçons na sociedade avançaremos e só desde a legitimidade popular faremos política transformadora.