Artigo dentro da campanha “12 meses pelos direitos sociais”. Zambra.

“Despesas militares para escolas e hospitais”. Esta frase nom só é umha proclama que temos pronunciado e escutado em muitas manifestaçons e protestos às que temos assistido, é umha petiçom, umha exigência baseada numha realidade que atravessa nossa vida.

Essa realidade diz-nos que enquanto grande parte da populaçom do estado espanhol se encontra em situaçons acuciantes de precariedade e pobreza, sem saber como levar um prato de comida à mesa, destina-se umha quantidade ingente de recursos a investimentos militares, compra, fabricaçom e exportaçom de armamento; só há que pôr em cima da mesa alguns dados que nos ajudem a compreender de que estamos a falar: em 2019, a despesa em educaçom foi de 2.541 milhóns de euros (um 0,69 % do orçamento total espanhol). Nesse mesmo ano, a despesa em serviços sociais foi de 2.631 milhóns de euros (um 0,71 % do orçamento total). O investimento em saúde pública nom chega ao 6% de PIB espanhol e só um 1% desse investimento está destinado a atençom primária. Nom entanto, a despesa militar no estado espanhol em 2019 atingiu os 20.050 milhóns de euros.

Cabe perguntar-se por que? A que responde esta diferença de investimento de recursos públicos? Por que se seguem alimentado numerosos conflitos armados em países do mau chamado “terceiro mundo”? A prioridade nom deveria ser assegurar a vida digna das pessoas? umha das possíveis respostas a estas perguntas é muito singela: as armas são um grande negócio e, como mostra, um botom; os grandes bancos espanhóis (como banco Santander ou BBVA) investiram mais de 7.000 milhóns de euros na indústria militar entre o ano 2014 e o 2019. Os mesmos bancos que seguem despejando a milhares de pessoas com o único objetivo de especular, pondo em xaque um direito fundamental como é o da moradia. Todo isso permitido e alentado pela Uniom Européia, a qual facilita e pom ao serviço dos estados o terreno de jogo que lhes permite a uns poucos seguir se enriquecendo a costa do sofrimento e precariedade vital de outras muitas.

E ante esta realidade insustentável, a luta social parece ser a possibilidade mais lógica e lícita. Querem-nos mortas ou submetidas e temos o direito e a responsabilidade de defender-nos, protestar e encarar o poder dominante para gerar umha sociedade justa e sustentável mas a luta social nom é de balde, a repressom é a resposta dos corpos e forças de segurança do estado. Violência para que nada mude. Lei Mordaça como antídoto à dignidade. Som muitas as pessoas e coletivos que pom os seus corpos para evitar despejos, fazer frente à injustiça social, conservar o pouco médio natural que ainda nos fica, assinalar e combater o fascismo, pôr no candeeiro? o feminismo como resposta ante o heteropatriarcado, etc. E som muitas as represaliadas, agredidas e enjuiçadas por defender os direitos sociais, por dizer abonda já. Ativistas como Fran Molero, que leva quase três anos encerrado numa prissom por protestar em frente ao Congresso, por exigir dignidade. As montagens policiais estam à ordem do dia, as agressoms em comisarias, o controle e a repressom policial em bairros empobrecidos é umha constante e os cárceres seguem sendo o reflexo e a resposta institucional e totalmente normalizada às situaçons de empobrecimento.

Nem a arte escapa da violência do estado; Pablo Hasel, Valtonic ou o caso dos Titiriteros som alguns dos artistas que têm sofrido repressom por pôr em prática a liberdade de expressom. Enquanto, permitem-se com total impunidade expressões fascistas em nossas ruas, inclusive em tempos atuais de COVID, baixo a desculpa de umha suspuesta protecçom da cidadania e do cumprimento das medidas sanitárias, tem sido muita a violência exercida por parte da polícia a pessoas cujo único delito tem sido nom levar posta a máscara ou sair a correr para reduzir a ansiedade em momentos de confinamento. Nada de investimento em cuidados psicológicos para preservar a saúde mental da sociedade, a soluçom do estado sempre passa pela repressão. E o pior é que esta repressom baseada na nom obediência cega pode que tenha vindo para ficar. Produz-se a criminalizaçom sistémica a movimentos como o 8M por pôr em perigo a saúde pública numha manifestaçom, enquanto, no entanto, nom se questiona a massificaçom dos metros e autocarros para se ir empregar nem a concentração nos terraços dos bares de pessoas que consomem. Casualidade… ou nom?

Desde Zambra entendemos que a prioridade deve ser que todas as pessoas tenham direito a cobrir as necessidades básicas e a viver dignamente, que a Renda Básica das Iguais nom só é possível, senão necessária, que é necessário umha partilha justa da riqueza existente. Ante a injustiça social, a luta é legítima e nunca pode ser represaliada pela violência do estado. Por isso, exigimos a Amnistia social para todas aquelas pessoas multadas ou encarceradas por defender os direitos mais fundamentais. A vida nom pode estar supeditada ao negócio de uns poucos e a repressão nom é nem será a soluçom à pobreza.