A agricultura desorganizou o planeta mais do que qualquer outra cousa que fizéramos nunca, incluindo a queima de combustíveis fósseis. Um futuro sustentável depende de reconhecermos este feito, e de mudarmos radicalmente o jeito como cultivamos e comemos.

Mais do que qualquer outra invençom na história da humanidade, a agricultura transformou radicalmente a nossa civilizaçom e a nossa relaçom co mundo natural.

Como chegamos a este ponto?

Os primeiros humanos nom cultivavam a terra para se alimentar, eram caçadores-coletores que viviam do que encontravam ao seu redor. No entanto, desde um pobre início 12.000 anos atrás, começárom a aparecer formas primitivas de agricultura em todo o mundo, principalmente na Mesopotâmia, Índia e China. Ao longo dos séculos e milênios seguintes a agricultura estendeu-se lentamente por todo o mundo, transformando paisagens, economias e culturas polo caminho.

Durante a maior parte da história a nossa produçom de alimentos aumentou principalmente pola expansom da quantidade de terras em produçom. No século XX grandes áreas de terras aráveis ​​foram estabelecidas em todo o mundo, formando os “celeiros” que conhecemos hoje.

Mudanças no uso da terra para agricultura e perda de florestas tropicais entre 1750-2020. Dados: IGBP Great Acceleration. Gráfico: J. Foley © 2021

Mas desde 1960 fomos testemunhas dumha mudança drástica no jeito de como cultivamos coa chegada da chamada Revoluçom Verde, que mobilizou métodos agrícolas industriais que produziam mais colheitas por parcela, impulsionada por variedades de cultivo melhoradas e um grande aumento no uso de fertilizantes, irrigaçom e maquinária. Como resultado, a agricultura mundial passou dum longo período de expansom geográfica a um período de intensificaçom industrial. A agricultura nunca mais seria a mesma.

Mudanças no uso global de fertilizantes e poluiçom por nitrogênio que atinge os oceanos entre 1750-2020 Dados: IGBP Great Acceleration. Gráfico: J. Foley © 2021
Mudanças na construçom de barragens e no uso da água (principalmente para irrigaçom) entre 1750-2020. Dados: IGBP Great Acceleration. Gráfico: J. Foley © 2021

Em muitos aspectos a história da agricultura e da alimentaçom tem sido umha história de sucesso, polo menos à primeira vista. A agricultura fixo possível transformar sociedades de caçadores-coletores em assentamentos primitivos, cidades e, finalmente, na nossa moderna sociedade global. Vivemos mais, temos vidas mais saudáveis ​​e umha grande parte da populaçom mundial foi livrado de recolher alimentos para dedicar-se a outras atividades. O sucesso de nossa espécie deve-se, em parte, ao sucesso da agricultura e do sistema alimentar.

Mas esse sucesso tivo um preço. Um preço muito alto.

O nosso sistema alimentar é agora tam grande e insustentável que está pondo em perigo o sistema ambiental que o sustenta.

Embora normalmente pensemos em tubos de escape, chaminés e fábricas gigantescas como as principais causas dos danos ambientais no mundo, deparamos que a agricultura é a causa principal.

Nom acredita?

Primeiro, considere o tamanho da pegada geográfica da agricultura.

Mudanças no uso da terra para agricultura entre 1750-2020. Dados: IGBP Great Acceleration. Gráfico: J. Foley © 2021

Hoje, perto de 16 milhons de quilômetros quadrados de terra, ou umha área quase do tamanho da América do Sul, som usados ​​apenas para a agricultura. E outros 34 milhons de quilômetros quadrados, umha área do tamanho da África, som usados ​​para pastagens e terras de pastoreio.

Juntas, estas terras agrícolas cobrem aproximadamente o 37 por cento da superfície terrestre livre de gelo do planeta; o terreno urbano do mundo, em comparaçom, cobre aproximadamente o um por cento. Nenhuma outra atividade humana pode igualar a pegada geográfica da agricultura.

As plantaçons e pastagens cobrem cerca do 37 % da área de terra livre de gelo do mundo (Foley et al., 2011).

A maioria das pessoas surpreende-se ao saber que a maior parte dessa terra é usada para criar e alimentar animais. Perto do 75% das terras agrícolas do mundo som usadas para pastar ou produzir alimento para animais. Como resultado, a produçom animal e a nossa avidez pola carne e produtos láteos é umha das principais causas da pegada alimentar em todo o mundo.

À medida que as terras agrícolas se expandírom, enormes áreas naturais de pastagens, savanas e florestas fôrom arrasadas e modificadas ao seu passo. Esta conversom de paisagens naturais em agrícolas causou umha enorme perda de habitats em todo o mundo e a extinçom de inúmeras espécies.

Hoje, alguns ecossistemas inteiros, como as pastagens da América do Norte ou as florestas tropicais atlânticas do Brasil, praticamente desaparecérom, substituídos quase inteiramente por terras agrícolas, e outros estám desaparecendo a um ritmo alarmante. A agricultura consumiu mais terras e habitats e levou mais espécies à extinçom do que qualquer outra atividade humana na história. Nada pode nem sequer comparar-se.

A agricultura também tem um impacto tremendo nas fontes de água do nosso planeta. A agricultura é responsável por quase um 70 % de todas as captaçons de água no mundo (aproximadamente 2.800 quilômetros cúbicos de água por ano), sendo extraída a água doce de aquíferos, rios e lagos por todo o mundo. Se falarmos de consumo de água, em que a água é extraída, mas nom devolvida à mesma bacia, esse número sobe até quase o 85 %.

O uso da água para a agricultura tem causado o colapso de rios, lagos e até mares em todo o planeta. O rio Colorado, por exemplo, raramente chega hoje ao oceano. O Mar de Aral quase desapareceu desde que as suas principais fontes de água fôrom desviadas para o cultivo de algodom nos desertos da Ásia Central.

A agricultura industrial também foi umha importante fonte de poluiçom em todo o mundo. Talvez o impacto mais óbvio venha do uso de fertilizantes químicos. Na atualidade o uso de fertilizantes é tam alto que quase dobrou os fluxos geológicos normais de nitrogênio e fósforo na superfície da Terra.

Mas o maior impacto nom se vê no solo, mas nas águas do nosso planeta. O excesso de nitrogênio e fósforo poluiu os cursos de água em todo o mundo, afogando-os com o crescimento excessivo de plantas e algas, e pode degradar gravemente lagos, bacias hidrográficas inteiras e até mesmo as áreas costeiras dos nossos mares. Por exemplo, a “zona morta” no Golfo do México é causada por vertidos  de fertilizantes de granjas do meio-oeste transportados polo rio Mississippi até o mar. Outras “zonas mortas” aparecem em quase todas as zonas costeiras rio abaixo da agricultura industrial.

Os fertilizantes nitrogenados, junto com sedimentos, fluem do rio Mississippi para o Golfo do México. Imagem cortesia da NASA

Além disso, as práticas agrícolas contribuem enormemente para a mudança climática no planeta.

A deflorestaçom, empregada principalmente para converter florestas em plantaçons e pastagens, é umha importante fonte de dióxido de carbono (CO2). Outras práticas agrícolas, particularmente a pecuária vacuna e o cultivo de arroz, som grandes emissores de metano (CH4) à atmosfera, um poderoso gás de efeito estufa. E o uso excessivo de fertilizantes e esterco pode liberar óxido de nitrogênio (N2O) dos solos agrícolas do mundo na atmosfera, outro potente gás de efeito estufa.

Distribuiçom das emissons de gases de efeito estufa por setor e atividade. Dados: Quinto Relatório de Avaliaçom do IPCC, grupo de trabalho três. Gráfico: J. Foley © 2021.

Juntas, as práticas agrícolas e o uso da terra som diretamente responsáveis ​​dum 24 % das emissons mundiais de gases do efeito estufa, tornando-as a segunda maior fonte de gases do efeito estufa para a atmosfera. (Em comparaçom, produzir toda a eletricidade do mundo emite aproximadamente o 25 %). Portanto, se quisermos enfrentar a mudança climática, repensar a agricultura deve de algumha forma estar entre as principais prioridades.

Essas som emissons diretas da alimentaçom, da agricultura e do uso da terra. Mas acontece que todo o sistema alimentar, incluindo o transporte, a embalagem, a refrigeraçom e o cozinhado dos alimentos, emite ainda mais. Um estudo recente publicado em Nature mostra que o sistema alimentar é responsável por quase um terço das emissons globais quando também som incluídas essas emissons indiretas.

Sem dúvida, o jeito no que cultivamos os alimentos do mundo está causando um sério impacto no meio ambiente. Usa mais terra do que qualquer outra cousa que fazemos. É o principal responsável da extinçom de espécies e da degradaçom dos ecossistemas. Também o maior consumidor e poluidor de água do planeta. E é um dos maiores contribuintes para a mudança climática no mundo.

Os números falam por si próprios. O sistema agrícola e alimentar do mundo:

  • Usa entre o 35 e o 40% de toda a superfície do mundo (o 75 % é usado para criar ou alimentar animais).
  • É a maior causa de perda de habitat e declínio de espécies na história da humanidade.
  • É responsável por cerca do 70% das extraçons totais de água do mundo e do 85 % de nosso consumo global de água.
  • É a maior fonte de poluiçom da água, especialmente na forma de vertidos de nitrogênio e fósforo para os ecossistemas aquáticos e áreas costeiras.
  • É uma das maiores fontes de gases de efeito estufa, causando diretamente o 24% de nossas emissons ou o 35% delas quando incluímos as emissons indiretas do sistema alimentar.

E, no entanto, todos nós precisamos comer. Nom podemos simplesmente parar de cultivar em prol do meio ambiente.

Produzir alimentos é talvez umha das atividades mais importantes e absolutamente necessárias, que ocupam aos humanos. Sem eles, literalmente, deixaríamos de existir como civilizaçom. E a necessidade de alimentos está crescendo à medida que a populaçom continua a aumentar e mais pessoas mudam para dietas com alto conteúdo de carne.

O que é crucial para o nosso futuro é encontrar maneiras de alimentar um mundo cada vez mais povoado sem destruir o planeta do qual dependemos.

* Traduçom do galizalivre.org