Hoje estivem visitando o Acampamento de Refugiados de “Las Raíces”, em Tenerife, Ilhas Canárias, e podo dizer, sem lugar a equivocar-me, que é o pior cenário humano que vim na minha vida.

[Escrito o 16 de março do 2021, mas mais vigente que nunca]

O Acampamento de Las Raíces é um cemitério de 1500 seres humanos vivos, umha lata humana, o pior tetris da historia. Desde fora vê-se umha gaiola interminável de carpas cheias de gente perdendo a sua vida no discorrer dum tempo aobrrecido, marcado polo clima frio e o silêncio dumha contorna despovoada. Som preto de 1500 pessoas amoreadas em carpas no meio da nada, onde nom se respeita nem um só direito humano, entre eles o direito para marchar dumha ilha convertida cárcere.

Tédio. Tristeza. Desesperaçom. Isso se respira e nom oxigeno, neste ambiente cheio de gente nova a quem lhes está roubando os sonhos, a saúde e o tempo, de forma sistematizada e institucionalizada. O acampamento foi colocado estrategicamente numha zona onde até a própria natureza lhe joga em contra às ganas de viver: friagem, chúvia, vento, humidade, névoa; e nada com que defender-se dela, nem sequer sapatos. A comida, doutra banda, é nauseabunda e escassa, o que implica que muitos quedem a diário sem comer. Ademais, compartem “quarto” pessoas de países, religions e culturas distintas, mesmo algumhas que estám em conflito político ou bélico agora mesmo, como marroquinos e saharauis. Sem comida, sem abrigo, sem futuro e amoreados: de forma inevitável, as tensons estám servidas. Isto é umha bomba de relojoaria disposta polo Governo de Espanha ao norte de Tenerife, ilhada numha ilha, valha a ironia, para que quando explode nom salpique a quem tem que salpicar. E sabemos a cargo de quem correrám as culpas, e também quem nom assumirá responsabilidades.

As greves de fame, as protestas e as manifestaçons venhem sendo desatendidas, o mesmo que o grupo de migrantes que decidiu nom entrar ao acampamento oficial (criando um acampamento alternativo na porta) e a Assembleia de Apoio a Migrantes de Tenerife (formada por pessoas locais e migrantes) que vêm denunciando a situaçom desde o principio. A gente das Raíces encontra-se num túnel de direcçom única que parece desembocar na morte, bem por omissom de responsabilidades, bem por decissom dos responsáveis, a menos que esta barbárie se frene a tempo. Porque volver, a maioria nom tem onde volver; e porque a incerteza, a discriminaçom e a desesperança, matam. E tam certo é isto, que as autolessons e os intentos de suicídio ja começam a deixar-se ver.

Esta visível situaçom de terror lança de forma contundente umha mensagem unívoca: “Nom sondes bem-vindos e ninguém coma vós o será. E isto é o que vos espera. Avisade o resto.” O dicionário Estraviz define terrorismo como Sucessão sistemática de atos de violência executados por indivíduos para impor a sua vontade. Quando quem executa é o Estado, chama-se Terrorismo de Estado.