Chamava-se Juana Capdevielle era umha recém chegada à efervescente Galiza republicana na década de 30. As suas origens estavam em Espanha, onde se formou e encetou vida militante. Em 1936, sem ter apenas tempo para se familiarizar com a vida daquela Corunha galeguista e de esquerdas, foi mais umha vítima do fascismo, imisericorde com toda forma de compromisso popular, e 85 anos depois ainda espera por umha grande homenagem popular.

Chamava-se Juana Capdevielle San Martín e nasceu em Madrid o 12 de agosto de 1905. Licenciou-se em Filosofia e Letras na capital espanhola, o que na altura estava permitido a muito poucas mulheres. Em várias viagens pola Europa, aumentou a sua formaçom. Pouco depois, entrou no corpo de Arquiveiros e Bibliotecários, e a sua vida ligou-se doravante aos livros e à defesa da cultura.

No ano 1935 topamo-la na preparaçom do II Congresso Internacional de Bibliotecas e Bibliografia, que se celebrou a cavalo das cidades de Madrid e Barcelona. De posiçons sociais enormemente avançadas para a época, foi umha das participantes das Primeiras Jornadas Eugénicas Espanholas de Genética, Eugenesia e Pedagogia Sexual; como palestrante naquele encontro, apresentou um trabalho sobre ‘o amor no ambiente universitário’. No seu discurso, atreveu-se a rebater as teorias de Nóvoa Santos e Sender, intelectuais muito reputados do pensamento republicano, que ainda teimavam na superioridade masculina. A teoria do amor de Juana Capdevielle apoiava-se na defesa da sinceridade, liberdade e consciência, o que na época era denominado ‘amor livre’, quer dizer, nom atado às dinámicas de conveniência e à hipocrisia familiar. Por outra parte, Capdevielle insistia que o fundamental para o progresso era ‘a actuaçom social’ além da família, isto é, a implicaçom social.

É por isso que se envolve também num serviço circulante de leitura para os doentes dos hospitais Clínico e da Cruz Vermelha, responsabilidade que combina com gestom da tesouraria da Associaçom de Bibliotecários e Bibliógrafos.

Mergulhada na sua dinámica formativa, e muito longe do turbilhom político que se estava a generar, no inverno de 1936 visitava vários países europeus, becada pola Junta para a Ampliaçom de Estudos, e aumentando ainda o seu conhecimento em gestom de bibliotecas e arquivos.

acorunhadasmulheres.com

Poucos meses depois, em março, casava com o advogado, também madrileno, Francisco Pérez Carballo. Ao ser nomeado governador civil polo governo da Frente Popular, ambos os dous mudam-se à Corunha. Carballo era um jovem político que começara a sua andaina no Ateneo de Madrid e nas juventudes de Izquierda Republicana. Já na Corunha, e nos dias do golpe de Estado, tenciona manter a legalidade vigorante no governo civil com um pequeno grupo de Guardias de Asalto e voluntários. Resistem três horas, mas umha bataria de artilharia destrói parte do prédio. Quatro dias depois desta resistência, Carballo foi fusilado junto com o comandante Quesada e o capitám Tejero, militares de lealdade republicana.

Sem nenhuma responsabilidade política pública, Juana é detida pouco depois e é na prisom quando tem notícia da morte do seu homem. Os fascistas tinham um ódio terrível por mulheres como Juana Capdevielle, pois representavam aquela mudança social que aos poucos ia superando a marginaçom por género, e situava-as à frente da cultura, um dos terrenos que o patriarcado lhe tinha proibido. Possivelmente polo seu perfil mais bem neutro, nem os repressores mais crueis se atrevêrom a fusilá-la à luz pública. Libertárom-na da cadeia e permitírom-lhe refugiar-se na casa do deputado de Izquierda Republicana, Victorino Veiga. Lá foi sequestrada pouco depois por guardas civis: o 18 de agosto de 1936 o seu corpo apareceu perto de Rábade, na Terra Cha. O assassinato cometeu-se quando Juana levava já vários meses de gravidez e esperava um meninho.

Em 2008, temporariamente levantados os vetos à memória polo desaloxo do PP da administraçom autonómica, foi inaugurado um monólito no km 526 da estrada Madrid- Corunha. A obra, do escultor Couselo, foi complementada com a leitura de poemas dos escritores lucenses Claudio Rodríguez Fer e Carmen Blanco. Hoje, umha fonte e umha biblioteca universitárioa corunhesa levam o seu nome.

Ainda hoje, num blogue negacionista dos que permite a legalidade espanhola, Capdevielle é apresentada como ‘extremista de filiaçom comunista que arengava as massas punho em alto’ e contextualiza-se a sua ‘eliminaçom’. http://laninhadelexorcista.blogspot.com/2010/08/la-malvada-juana-capdevielle.html

*Parte dos dados para escrever este artigo fôrom tirados do Arquivo das Mulheres do Conselho da Cultura Galega.