(Imagem: arquehabitat.wordpress.com) Há apenas uns anos, as proclamas de volta ao rural eram património de círculos muito alternativos relacionados com a resistência política ou com formas de vida alternativas. Hoje, num país sacodido pola pandemia a ideia de ‘recuperar a casa dos avôs’ escuita-se com certa frequência, e recentemente, a intençom alcançou o ámbito institucional. O Centro de Saberes para a Sustentabilidade vem de elevar umha proposta à comissom de reactivaçom post-covid do parlamento galego.
O Centro de Saberes para a Sustentabilidade é umha instituiçom especializada e multidisciplinar reconhecida oficialmente pola ONU no ano 2017. Polas próprias palavras do seu documento fundacional, apresenta-se como umha entidade que incentiva ‘a transformaçom social necessária para o cumprimento dos objectivos de desenvolvimento sustentável com os pés na terra’. Expressado de outro modo, a pretensom é traduzir ambiciosos objectivos de transformaçom global ao quadro territorial galego. Na sua direcçom acham-se economistas como Xoán Doldán -o seu coordenador- ou activistas como Iolanda Mato, membro da Sociedade Histórica e Cultural Coluna Sam Fins, em Lousame. Junto a eles, representantes das comunidades de montes vicinais em mao comum, sindicalistas agrários, militantes ecologistas, decrescentistas…
Desta volta, a sua voz chegará ao parlamento, onde está já em andamento umha comissom nom permanente especial para lançar um estudo ‘sobre a reactivaçom económica, social e cultural da Galiza pola crise do covid’.
O informe: o colapso e as instituiçons
O documento apresentado intitula-se ‘Resiliencia, reagrarización e poscrecemento na Galicia poscovid 2019’, e foi redigido por Manuel Casal Lodeiro. A grandes traços, giza um panorama do imediato futuro vem conhecido pola militáncia dos movimentos populares do país, marcado pola escasseza energética, manifestaçons virulentas da mudança climática e um contexto de crise multifacética ‘que nom tem visos de rematar’.
É por isso que diagnoses como estas chegam às instituiçons, e vai ser neste caso o parlamento galego quem o submeta a exame numha comissom post-crise. É notório, por outra parte, que as forças dominantes nessa cámara, muito conectadas com grandes interesses empresariais e de visom produtivista, farám caso omisso ao documento.
Dito de outro jeito, fora das visons conjunturais da recessom que manejam as instituiçons, e que entendem as crises como momentos pontuais do século que andamos (crise das finanças 2008-2013, crise do covid 2020-2021), especialistas, avalados por multidom de informes, afirmam que nos adentramos já numha crise civilizatória produzida polo ‘sobrepassamento ou overshoot’ do modelo capitalista industrial.
Os autores e autoras ponhem em causa que a reconversom verde da economia poida alterar no sucessivo o processo na direcçom dumha maior prosperidade, e negam que a perda de importáncia das energias fósseis altere o curso regressivo. Para ilustrá-lo, recorrem a umha cita contundente do cientista Antonio Turiel, que manifesta ‘nom há absolutamente ninguém dentro da comunidade científica que sostenha que com o sistema de energias renováveis vaiamos poder seguir medrando.’
Agro galego: umha recuperaçom possível
Na diagnose sobre a situaçom galega que aborda o informe, os claro-obscuros som a nota dominante. O modelo produtivo e industrial galego nom se livra da crítica, e de facto rebate-se a comum ideia de a Galiza ser ‘excedentária’ em energia, quando ‘mais da metade’ do consumo interno procede de fontes da importaçom. Para além disso, aponta-se que o nosso país está dentro das chaves de vida e produçom do chamado mundo desenvolvido, e é por isso que as nossas pautas de consumo e transporte fam que ‘dupliquemos a pegada ecológica’(isto é, que consumamos e produzamos o duplo de desperdícios que o nosso território pode permitir-se).
Por outra parte, existem dados enormente alentadores no que diz respeito a um outro modelo, mais apoiado no potencial agrário: umha vasta porçom de território susceptível de aproveitar-se para usos produtivos nom extractivistas, redes de populaçom dispersas, e um sector primário que resistiu com força o embate da covid. De facto, é este sector o que menos se ressentiu em cifras neste ano de pandemia, e o que apresenta umhas taxas de paro mais baixas.
Para as e os promotores do documento, o sector agro-gadeiro e florestal jogaria um papel sobranceiro numha Galiza futura que reduzisse dependências do exterior, blindasse serviços públicos e apostasse numha ‘economia quase circular’ baseada na produçom de manufacturas básicas.
O documento propom incentivar a ‘transferência de trabalhadores vulneráveis, em sectores pouco resilientes, caso da automoçom, hostelaria ou turismo, ou térmicas de carvom’, ao sector primário, contribuindo assim para umha soberania alimentar ainda muito longe de ser conseguida. Na actualidade, e segundo regista o estudo, apenas o 50% dos alimentos que consumimos procedem da Galiza.
Do mesmo modo, na reagrarizaçom proposta incluiria-se um novo equilíbrio demográfico que passaria por‘reduzir o tamanho das cidades, nomeadamente as grandes’, e tecer um plano de repopulaçom rural. Em dita estratégia, dacordo com o texto, teria umha importáncia especial garantir umha rede de transportes digna e eficientes telecomunicaçons nas áreas nom urbanas.
Com toda claridade, a orientaçom exigida no documento inclui umha utilizaçom totalmente diferente que a desenhada pola Junta a partir de Fundos Next Generation e do Plano de Recuperaçom, Transformaçom e Resiliência, este último sufragado por Espanha. O executivo em maos da direita espanhola pretende mais bem ignorar as comunidades locais e simplificar processos administrativos com o fim de abrir caminho ao extractivismo eólico e florestal, segundo leva anos denunciando o activismo de base. O documento do CSS aposta, em troca, ‘por umha revisom global das estratégias galegas.’
Quem quiger descarregar na íntegra o documento, pode fazê-lo aqui.