Qualquer vista de olhos à imprensa de grande tiragem confirma que é a prática totalidade do território nacional o que está a ser ameaçado por um sector económico, o extractivismo energético, que pretende ocupar com moinhos muitos cúmios emblemáticos, além de empecer umha utilizaçom do território mais respeitosa e diversa. Movimento popular alerta contra o perigo que correm serras como o Galinheiro, Trevinca, Suído, e agora sabemos também que as empresas nom se detenhem às portas dos Ancares. Becerreá e vários concelhos bercianos organizam-se para dar resposta.
O Berzo, na área de expansom eólica
Na Galiza oriental, os concelhos de Barja, Oência, Trabadelo e Veiga de Valcarce tivérom notícia neste início de ano dum novo plano de ocupaçom do território. A Sociedad Desarrollos Renovables Iberia Delta, dependente da norueguesa Statkraft, pretende colocar 22 anerogeneradores de mais de 150 metros a apenas 206 metros da Serra dos Ancares. Statkraft é umha empresa pública norueguesa com grande influência económica e política no continente: chega a comprar dívida pública de Estados como o espanhol, e na actualidade é a primeira empresa eólica da Europa. É esta mesma companhia a que desenha o contestado parque eólico da Serra do Eixe, que pom em perigo Trevinca.
Esta zona leste dos Ancares é um lugar classificado com vários níveis de protecçom ambiental segundo a legislaçom europeia, e também um área que fai parte dos chamados ‘Planos de Conservaçom e Gestom do Lobo de Castela e Leom e Galiza.’ Vizinhança e comuneiros da comarca manifestárom aos meios que ‘o acesso à informaçom nom é doado’. As empresas demoram em dar a documentaçom pertinente, e por vezes ainda precisam ir ao Valedor do Povo para conseguirem todos os dados necessários. Além disso, e segundo denunciam entidades como Verdegaia, a total informatizaçom imposta pola crise do Covid ainda comprimiu os prazos de alegaçons: o de consultas passou de 2 a 3 meses, e a tramitaçom de participaçom pública passou de 15 a 9 meses.
Oposiçom em Becerreá
Em Becerreá, na porta occidental dos Ancares, a associaçom Rente ao Couce, em colaboraçom com outros colectivos da zona, vem de dar os primeiros passos para organizar a oposiçom a outra tentativa empresarial de apropriaçom da riqueza colectiva. Desta volta, o plano vem de mao da transnacional italiana Enel Green Power, em cuja direcçom se acha a ex-conselheira Beatriz Mato. O plano é erguer sete aerogeneradores de 115 metros e 40MW de potência na Serra do Furco, a apenas 380 metros do lugar de Sarceada, e a menos dum kilómetro dos lugares de Sam Pedro e Todom.
O projecto está na fase inicial de consultas para a sua avaliaçom, e Rente ao Couce já manifestou que se iria apresentar como parte interessada nas alegaçons. O colectivo ancarês manifesta que ‘o projecto procura apenas benefício empresarial, e nom pensa em absoluto num uso mais racional e justo do território, nem fixa populaçom’. Embora o parque semelha de pequenas dimensons, se o compararmos com mega-estruturas que avançam em outras comarcas, de Rente ao Couce recordam que ‘estamos ante mais um caso de fragmentaçom trampulheira dos projectos para serem aprovados com maior facilidade; e vários projectos parciais vam dar lugar a um só mega-projecto. Pretendem furar o nosso concelho com até sete parques’.
Política e empresa
A posiçom da extrema direita empoleirada na Junta é inequívoca, como também a é a do governo espanhol que, por acçom ou omissom, autoriza tais projectos. Na semana passada, o Conselheiro de Economia Francisco Conde compareceu diante dos meios para apresentar o chamado ‘Polo para a transformaçom da Galiza’. Através da colaboraçom público-privada, e da atracçom de fundos europeus canalizados cara transnacionais, dará-se um novo pulo a formas de capitalismo extractivista. Desde que a democracia formal ainda coloca certos obstáculos à total impunidade das empresas, Conde salientou a importáncia ‘da simplificaçom administrativa e do apoio ao investimento’. Dos quatro projectos tractores apresentados, um seria o desenvolvimento de nova potência renovável. Confirmaria-se assim a sobreproduçom eléctrica galega através de eólicos que, com 115 kw/m2, supera países como Alemanha (76kw/m2) ou Espanha (46kw/m²).
Oposiçom multiplica-se
A aposta pola produçom indiscriminada, alheia a quaisquer critérios ambientais ou sociais, está a ser tam chamativa que as mostras de oposiçom proliferam no ámbito comarcal, no nacional, e mesmo no internacional. Nas passadas semanas, várias figuras da intelectualidade galega uniam-se a vozes de Espanha no Manifesto em Defesa do Cordal Cantábrico, que denunciava o afám exclusivamente economicista por trás duns parques eólicos que já inçárom ‘até 6000 moinhos das costas da Galiza à Nafarroa.’
Na nossa terra, a plataforma Aldeas com Horizonte agrupa vizinhança mobilizada de bisbarras como Costa da Morte, Val Minhor, Suído, a Marinha, Ancares, Trevinca… e fornece informaçom para os colectivos artelharem a sua batalha no plano jurídico e legal, primeiro passo para obstaculizar o avanço destes gigantes energéticos.
Nom é umha voz isolada: o Observatório Eólico da Galiza, nascido em 2019, agrupa vozes autorizadas da economia e o ambientalismo, como o professor Xavier Simom, da Universidade de Vigo. O organismo tem vincado umha e outra vez ‘no pouco ou nulo papel que se lhe dá às comunidades na tomada de decisons sobre o seu território’. O recurso permanente à ameaça ou facto da expropriaçom forçosa, maquilhada por um alegado ‘interesse público’, é a mostra mais evidente desta filosofia, segundo aponta o Observatório.
A visom crítica supera com muito colectivos de base ou movimentos sociais situados nas margens do sistema. Justificando a paralisaçom do projecto da Serra do Iríbio, o Tribunal Superior de Justiça da Galiza manifestava na sua sentença:
‘a sociedade nom tem canais para a participaçom no desenvolvimento das renováveis, que ficam relegadas a um papel passivo, de afectados, face um papel activo de agressores e beneficiários das empresas e da administraçom (por mor) da inexistência dumha política sectorial global em relaçom aos assentamentos eólicos.’