Chamava-se Maria de los Dolores Miramontes Matos e nasceu na paróquia de Santa Maria de Guísamo, em Bergondo, um dos concelhos das Marinhas. De muito nova marcha à Corunha, e nessa cidade começa a vida adulta da que será umha das mulheres mais importantes do galeguismo da primeira metade do século XX.

Maria Miramontes chegou a um dos espaços mais propícios para a politizaçom daquela Galiza de primeiros do século XX. Contra o tópico espalhado malintencionadamente polo pensamento hegemónico espanhol, a Corunha foi umha cidade chave no rexurdimento nacional. Desde finais do século XIX, e por volta da Cova Céltiga nucleada por Manuel Murguia e Carré Aldao, o ideário a prol dos direitos da nossa Tera ganhava força e novos argumentos. A pegada galeguista, junto com práticas de associativismo republicanas e obreiras, achaiárom o caminho para que novas geraçons, já declaradamente nacionalistas, erguessem o facho da reivindicaçom.

Aos 11 anos, Maria desempenha-se já no ofício de costureira, precisamente coincidindo com uns anos em que a cidade fora sacodida por importantes greves protagonizadas por mulheres. Desde a primeira greve feminina galega da que se tem notícia, a das cigarreiras em 1857, até o assalto de trabalhadoras aos armazéns para distribuirem-se alimentos em tempos de carestia, a cidade herculina tinha umha importante história de luita das mulheres. É neste contexto em que Maria Miramontes conhece Amparo López Jean, sufragista e galeguista corunhesa, e entra em contacto com a mestra nacionalista Elvira Bao Maceiras.

Excursom das Irmandades da Fala. Foto: Consello da Cultura Galega

Com só 23 anos topamos Maria Miramontes na direcçom local da Irmandade da Fala da Corunha, que tem por volta de 200 sócias. Provavelmente nos espaços do nacionalismo da cidade inicia relaçom com Ánxel Casal, que será o seu companeiro até 1936, quando os fascistas o executam extrajudicialmente numha gávia em Cacheiras, na comarca de Compostela.

Som os primeiros tempos de acasalamento, compromisso político e vida assalariada em conjunto. Ambos os dous saem avante com grande precariedade: mantenhem umha loja de teas na Rua Panadeiras, mas os seus poucos ingressos fam que Maria tenha que seguir a trabalhar de costureira, enquanto Ánxel Casal lecciona aulas de francês e fai traduçons. Ainda apesar das carências, mantenhem um compromisso intenso com a causa através das Irmandades, a editorial Nós, e as conhecidas ‘Escola de Insinho Galego’, antecessoras da Semente. Os tempos som de esperança, mas também de incertezas e atrancos: em 1927, Casal rompera com o seu sócio Leandro Carré por diferenças na gestom da Editorial Lar, o que supom um quebranto pessoal e político; aliás, Maria Miramontes sofre um aborto que lhe impede ter filhos de por vida, o que lhe provoca umha dura psicológica.

Dado o papel chave que estava a ganhar Compostela na incipiente Galiza política, Maria Miramontes e Ánxel Casal decidem mudar-se à capital do país. Corre o ano 1931, e enquanto o casal se dispom a abrir prelo na cidade, acompanhando editorialmente o Seminário de Estudos Galegos, nasce o Partido Galeguista. Maria Miramontes fai parte do exíguo grupo de mulheres que nutrem a nova estrutura. No Dia da Pátria de 1933 aparece como umha das assinantes dum chamado do PG às mulheres para estas se implicarem na causa de naçom, logo reproduzido em A Nosa Terra. Possivelmente por influência de Maria e as suas companheiras, o jornal do movimento vai inaugurar umha secçom fixa chamada ‘O recanto da mulher.’

É conhecida a capacidade de trabalho, entrega e resoluçom de Maria Miramontes, que canalizou na década de 30 à campanha pro-estatuto. A exitosa aprovaçom é curtada abruptamente polo golpe fascista; apesar de Ánxel Casal tomar as rédeas da alcaldia por decisom do Comité Republicano da cidade, as autoridades fascistas forçam-no a demitir. Refugiado o casal na aldeia de Vilantime, em Arçua, Casal é detido por mor da delaçom dum vizinho.


O assassinato de Casal em Agosto de 1936 deixa destroçada a Maria Miramontes, que prepara a saída ao exílio. Via Lisboa, embarca para Bos Aires, onde a acolhe a sua família. Lá retorna à sua velha profisom de modista e vive a jeira final da sua vida, em companhia da sua nova parelha, Pedro Miramontes.

Por trás de iniciativas tam essenciais para compreender a Galiza contemporánea, como a editorial Nós, estám o esforço humano, a economia e o talento político de Maria Miramontes. Por enquanto, o único recordo público que a Galiza lhe dedicou foi umha rua que leva o seu nome em Compostela desde 2007.