O sindicalismo convencional nom se ajeita à luita de classes actual

Seguindo o referente do capitalismo europeu, o modelo sindical que abrolhou dos Pactos da Moncloa absorveu para o Estado a representaçom dos trabalhadores. De armas revolucionárias principais nos esquemas antifranquistas, os sindicatos convertérom-se em empresas sémi-públicas que canalizam a problemática laboral polos condutos estabelecidos no paradigma keynesiano. A funcionarizaçom dos dirigentes sindicais, a geraçom de dependências económicas e a homologaçom das suas estruturas coas do Estado, marcárom a culminaçom do processo. A imagem dumha assessoria combativa mas estreitamente vinculada às margens de representaçom delimitadas polo Estado de Bem-Estar fica mais próxima da realidade do que a evocaçom revolucionária.

Do mesmo jeito, o marco que constringe toda representaçom laboral determina também umha centralidade da dinâmica eleitoral com efeitos idênticos aos da política institucional. A profissionalizaçom do dirigente sindical, nom a existência de liberados em si própria, produz, inexorável e frente aos filiados, o seqüestro das organizaçons polo seu quadro de pessoal. Conseqüentemente, as funçons principais de formaçom ideológica e organizaçom da classe trabalhadora em contrapoder ordenado desaparecem da folha de rota quotidiana arrombadas polos ritmos do sistema. O fortalecimento da organizaçom consolida-se como fim em si próprio. O emprego da estética ideologista e da retórica antisistema, reduzidas a rituais unificadores, amortecem os remorsos que provocam as prácticas trade-unionistas. A submissom, por dependências partidistas das burocracias dirigentes, aos interesses eleitorais das forças político-institucionais completa o quadro da assimilaçom.

A negociaçom colectiva, a sua principal ferramenta, o operário fordista e o funcionário público, os seus clientes ideais, e o crescimento económico sustido, sobresaem-se como piares deste modelo. Mas em épocas de recessom, o único papel que o capitalismo lhes consente aos sindicatos homologados por ele rebaixa-se ao de reguladores da oposiçom às suas medidas regressivas. As barricadas que exigiam subidas salariais há quinze anos brilham pola sua ausência diante dos despedimentos massivos do presente com mínimas e por isso senlheiras excepçons.

Por outra banda, um paradigma que parte da presunçom da abundância de trabalho desbota a organizaçom efectiva dos desempregados e precários. Porém, as transformaçons sociais protagonizam-nas os segmentos mais novos da sociedade, as revoluçons nom as empurram as massas de velhotes. Da mesma maneira, a vanguarda constitui-se desde os que nom temem perder nada, nom desde os que cedem para conservar o pouco que lhes resta. Por isso, quando no país mais avelhentado de Europa, mais da metade da mocidade se encontra no paro e emigrando, sem possibilidade de organizar-se e ter influência real no esquema sindical que lhes oferecemos, evidencia-se um terrível desajuste entre prática e retórica.

Na apoteose neoliberal, o exército de comerciais especializados no trafego eleitoral e na negociaçom colectiva inutiliza-se ao perderem estas a sua importância. Da mesma maneira, como ocorre coa representaçom institucional, o monopólio das decisons por umha casta de dirigentes profissionais resulta intolerável para quem está educado em formas participativas de organizaçom no dia a dia. A extensom do direito à educaçom e o salto das novas tecnologias da comunicaçom que impujo a mundializaçom capitalista provocárom inevitáveis mudanças nas relaçons sociais. O novo contexto permite a proliferaçom de modelos de toma de decisom menos hierárquicos paralelos aos reforçados pola irrupçom da internete. Cada vez percebem-se menos necessárias as figuras do intérprete administrador da (in)formaçom e do representante profissional. A corrupçom generalizada do regime espanhol que padecemos alimenta ainda mais esta visom. O perfil do novo militante afasta-se do velho quadro submisso à disciplina interna e achega-se mais ao activista crítico e consciente. Desde esta perspectiva, empregar as paquidérmicas maquinárias sindicais, democratizadas, para a construçom dum tecido popular e proto-estatal galego que encha os ocos da despariçom do chamado Estado de Bem-Estar espanhol, perfila-se, quiçais, como a melhor saída estratégica.

2ª O partido eleitoral é inadequado como principal ferramenta transformadora nesta etapa

As ferramentas de acçom social som fruto das ideias e necessidades de cada momento histórico. As teóricas potencialidades transformadoras dos partidos eleitorais nos regimes keynesianos esvaecem de vez quando este mesmo modelo capitalista é ultrapassado. Na guerra de classes neoliberal, nom há espaço para formalismos pseudodemocráticos. A tradicional centralidade da luita institucional na esquerda ocidental perde o seu sentido.

Este institucionalismo da esquerda vira-se ainda mais absurdo na Galiza. Aqui nem sequer se pretende praticar desde umhas estruturas formalmente soberanas frente ao poder do capital, senom desde as da metrópole histórica. Erra quem esquece que, no canto de instituiçons criadas por nós para as nossas necessidades, a autonomia e os concelhos se reduzem a manifestaçons regionais e locais do Estado que usurpa a nossa livre decisom. Estratégias de emancipaçom democrática desde elas, polas vias eleitorais convencionais, apenas resultam realistas coa ajuda dumha burguesia nacional, aqui inexistente, que contribuísse à hegemonia interna e à projecçom internacional dum discurso próprio. O capital simbólico e as possibilidades que achega um Estado próprio, com todas as suas limitaçons atuais, nom se podem comparar coas de quem parte da consideraçom de simples administraçom regional ultraperiférica.

Desta perspetiva, a utilidade que pode fornecer o nacionalismo eleitoral, no momento de aceleraçom histórica que vivemos, reduz-se à sua submissom a um novo aglutinante simbólico, plural, que converta o descontentamento e a participaçom da sociedade galega em contra-hegemonia real, numha legitimidade nova. Na Galiza, luita nacional, luita social, luita anti-patriarcado e luita democrática apresentam-se hoje mais inseparáveis que nunca. A agudizaçom das contradiçons provoca que estas se aproximem. Porém, os interesses das elites partidistas, monopolizadoras do capital social do nacionalismo e fortalecidas no calor institucionalista da etapa anterior, erguem-se como a maior dificuldade para adaptar-se à nova tesitura. Quer através da reafirmaçom dogmática interessada, quer por meio da apropriaçom falsária da aparência renovadora. Ao cabo, a questom reduz-se ao mantimento cego do seu status e da inércia eleitoralista suicida que o alimenta. Em frente, umhas necessidades coletivas cada vez mais prementes, irresolúveis desde o marco institucional atual.

*Publicado no Novas da Galiza