A quase um ano de pandemia ou como di umha amiga, plandemia, abafamos cos mercachifres do enredo. Atrapados entre a coartada do mal menor (nom o da socialdemocracia quando a Guerra Fria, da que nos fala Peter Sloterdijk em Las epidemias políticas, senom do mal menor do neoliberalismo atroz) e a saída perversa, essa hostilidade cara a aqueles que poderiam ser os meus pares e nom cara aos meus superiores, da que nos fala Francisco Sampedro em Setenta ideias para a (pos)pandemia. Padecemos dumha afáxia social, um dano estrutural resultante dum accidente colapsovascular debido á obstruçom dum virus da economia da globalizaçom que nos suspende a capacidade crítica e nos leva a umha pulsom de repeticióm.

Nessa disjuntiva polar entre saída perversa do fascismo e mal menor do neoliberalismo selvagem levamos enredados desde a queda do muro de Berlím. Esse segredo a voces da pandemia nom fixo mais que desenbafar o espelho no que nos miramos. Tanto é assim que no mundo da pandemia a autocensura leva-nos a tal grau de submissom que serve de fertilizante para umha espécie de ditadura sem fascismo onde a autotitulada esquerda reclama obediência cega à gestom neoliberal, tam selvagem que desperta na populaçom mais danada o alimento do fáscio: a desesperaçom das massas. Se Tajani presidindo o Parlamento europeu ousou louvar a Mussolini, o atual Sassoli mistura migraçom, câmbio climático e revoluçom digital como quem emite sons de chifres cuidando que qualquer pito fai melodia e facendo ouvidos xordos à possibilidade dum colapso energético e ambiental. E se em Espanha Vox parasita os corpos abandonados por aquele Estado que se chamou do Bem-Estar e hoje se chama precariado perpétuo, em Portugal a socialista apoiada por ecologistas, Ana Gomes, véu de sobardar por mui pouco o ultradereitista André Ventura. Porque se a privatizaçom da Sanidade e os Serviços sociais junto à precarizaçom extrema no laboral multiplicarom a mortandade dum vírus que só a globalizaçom económica fijo pandémico, teremos que construir outra normalidade que nom passe por sacrificar a classe trabalhadora e o resto de seres e ecosistemas planetários.

Mas os mercachifres do enredo som cobiçosos demais para repartir a riqueza e evitar o colapso social. Tenhem todos os meios ao seu dispor. Nom, nom som aqueles mercachifres de Lima que após a conquista de Peru vendiam teias e sementes nas praças principais sem se acolher à regras do comercio imperial. Aqueles mercachifres eram pobres locais ou imigrantes que faziam venda ambulante caminhando longas distâncias para ganhar o pam. No século XVIII, os mercachifres eram o precariado do comércio por isso saltavam as leis dos Dom Celedónios (aquele tendeiro avarento de Risco n’O porco de pé). Era tal a miséria dos mercachifres de antano que Ernesto Saguier di na sua Genealogia de la Tragedia Argentina, que estavam incluso por baixo dos que regentavam pulperías na pirâmide mercantil e em ocasions eram o antecedente dum futuro tendeiro ou um polveiro.

Aqueles mercachifres do passado eram como os manteiros dos nossos tempos. Vendiam a quem nom podiam permitir-se o comercio legal e nom sempre eram chilindrainas de escasso valor senom que muitas vezes eram artesanias, essas que fôrom também apropiadas polo Capital para encher o planeta de bazares das grandes cadeias do plástico e a exploraçom estrutural (leia-se A Caverna de Saramago). Ainda que existem outros manteiros ascendidos a falsos autónomos que esparegem as mercadorias dum lado ao outro do mundo para enriquecemento de D. Amazom.

Os comerciantes minoristas eram chacoteados como figuras de sainete ao igual que a pranchadora ou o espanhol anarquista e assim chegou a nós a palavra mercachifre em sentido despetivo. Porque o melhor dos povos é malversado polo poder para voltar-lho sempre em feitio ridículo e de refugalho.

Também em Ferrol tivemos vendedoras ambulantes como Marcela Seco do Cantóm, que vendia estraperlo dos comércios que fechavam e traía-o de longe carregando-o na cabeça para revendê-lo junto coa quincalha e os joguetes na praça. As mulheres trabalhadoras sempre termando do mundo nas suas cabeças. Amais Marcela sabia ler e escrevia-lhe cartas à gente cobrando-lhe segundo as suas possibilidades. Algo que nunca faria um mercachifre moderno.

Hoje os mercachifres som dumha outra catadura. Trabalham juntos, sem sabê-lo, os ananos de Ferreiro cos mercantilistas criminosos da gram banca mundial. O comércio dos manteiros já substituiu a artesania local pola marca pirata fabricada pola mesma mao de obra escrava que o comercio legal. E os migrantes do top manta portam hualí, essa alegria medonhenta que nem o acoso policial é quem de matar.

Em fim, ao abeiro da pandemia os mercachifres das finanças assobiam o mesminho que o chifre dos capadores que iam de aldea em aldea anunciando a porcos e donos a sua chegada. Ainda que os D. Celidónios sabem de certo que nom toda a vida ficarám de pé após a matança.