(Imagem: Aurora Marco) Na secçom de memória do fim de semana, trazemos umha figura importante para conhecer alguns dos capítulos mais dignos do antifascismo de raiz galega, e também do papel das mulheres num mundo hegemonizado por homens.

Chamava-se Joaquina Dorado Pita, num bairro obreiro da Corunha em 1917. Os agudos contrastes de classe naquela Galiza dos anos 20 levam-na a tomar consciência, e logo a aderir ao forte movimento anarco-sindicalista da cidade. Na sua primeira mocidade a família emigra a Barcelona; lá, fai-se tapiceira e ingressa na CNT e nas Juventudes Libertárias.

Em plena guerra civil, e no processo revolucionário barcelonês, ocupa o posto de presidenta no Conselho Económico da Indústria da Madeira Socializada. É a primeira e única mulher com tal posto nesta organizaçom. A sua vontade de luita era muita, e de feito fijo parte dum grupo de dezoito mulheres que, na altura, pretendêrom marchar a França, e adquirir competência como pilotos de caça para intervir na guerra. O contexto de forte politizaçom da altura, o papel ganhado pola mulher num contexto bélico e revolucionário, explica decisions tam audazes.

Nos sucessos de maio de 1937, onde a oficialidade da República se enfrenta com anarquistas e poumistas (que pretendiam desatar a revoluçom social), participa da luita nos arredores de Telefónica e fai parte do grupo Luz y Cultura. No meio de feitos tam dramáticos conhece Liberto Sarrau, um militante do grupo de acçom Tres de Mayo que se fará o seu companheiro sentimental de por vida.

Joaquina é mais umha das milhares de pessoas que, com a queda da Catalunha, tem que exilar-se para a França a pé. Interceptada polos fascistas, é torturada selvagemente. Crendo-a morta, os torturadores deixam-na deitada num caminho, mas companheiros anarquistas conseguem reanimá-la e curá-la. Após passar por vários campos de concentraçom franceses, retoma o seu compromisso. Em 1946 temo-la já de novo nas Juventudes Libertárias e no grupo Tres de Mayo. No pior da posguerra, Joaquina, com o seu moço e outros militantes, decidem voltar a Catalunha e enfrentar a ditadura. Nom demoram em ser detidos, pagando duas condenas consecutivamente. Em 1954 acha-se em liberdade condicional.

Imagem. Diagonal

Mas esta militante quase nom conheceu o acougo. A meados dos 50 conhece a Quico Sabaté, que já rachara com a CNT pola oposiçom do sindicato à luita armada. Joaquina simpatiza com este ponto de vista e envolve-se no trabalho clandestino com este militante enquanto fai a sua vida ordinária, mantém os seus pais e angaria fundos para o moço Liberto, preso em Madrid.

A finais dos anos 50 volve passar a França, onde se reunirá com o seu companheiro já em liberdade, e ganha a vida como costureira. Nom deixam nenhum dos dous o compromisso libertário, desde que  fundam o Movimento de Resistência Popular e colaboram com Defesa Interior, organismo com o que os libertários do interior pretendiam a execuçom de Franco.

Joaquina voltou à sua Terra em 2007 quando, com mais trinta mulheres galegas, recebe umha homenagem da Junta da Galiza no Teatro Principal, em Compostela. Em 2008 participa na Homenagem ao Exílio e nas jornadas Exílios Femininos, realizadas na Ilha de Sam Simom, antigo campo de concentraçom fascista.

Finou em 2017, com 99 anos. Poucos meses depois, o Novas da Galiza entrevistava a Ricard de Vargas, historiador libertário que escreveu a sua biografia.