Com motivo do centenário do nascimento de Isaac Diaz Pardo (1920-2012), achegamo-nos à vida e obra dum autêntico homem do Renascimento, intelectual, artista e nacionalista galego que tencionou a tarefa de preservar, fortalecer e reconstruir a memória histórica da Galiza. Foi responsável de projetos tam relevantes como Sargadelos, Laboratório de Formas, Ediçons do Castro, Instituto Galego de Informaçom ou o Museu de Arte Contemporánea de Carlos Maside. Galiza foi centro e horizonte da sua obra, como símbolo da dignidade dum povo submetido durante mais de cinco séculos ao opróbrio da dependência espanhola.

Isaac nasce em Santiago de Compostela, a 22 de agosto de 1920. É filho de Camilo Diaz Balinho, famoso cenógrafo, pintor e desenhista de cartazes, o obradoiro do seu pai foi lugar de reuniom por onde passárom três geraçons de políticos, intelectuais e artistas, entre eles Castelao e Luis Seoane.

Militância socialista e represom fascista

Desde novo, Isaac, viveu num ambiente ligado à vindicaçom dos direitos nacionais galegos e à libertaçom das classes populares do seu país. Com 16 anos já era comunista e colabora com o seu pai ajudando-o na elaboraçom dos cartazes a prol do Estatuto de autonomia. Nesse ano, em 1936, quando militava nas Juventudes Socialistas Unificadas, é detido por apedrejar a farmácia de Víctor Muñoz reconhecido fascista compostelám, introdutor do ideário nazista na cidade. Como consequência do levante fascista, alistou-se na expediçom de voluntários da Câmara Municipal de Santiago contra o exército golpista na Corunha.

O 14 de agosto de 1936 é assassinado o seu pai polos sublevados fascistas em Palas de Rei e a vida de Diaz Pardo muda completamente: de adolescente activo na política e na renovaçom cultural do seu país, torna-se em possível alvo da repressom e terá quer ficar escondido durante 6 meses na casa dum familiar.

Isaac, viveu num ambiente ligado à vindicaçom dos direitos nacionais galegos e à libertaçom das classes populares do seu país.

Ao acabar a guerra, Isaac, a sua mae e a sua irmá vivirám na Corunha, onde ele começa a trabalhar na empresa Bianchi, na qual desenhava cartazes de carácter publicitário.

Cartaz desenhado por Isaac. Campanha do plebiscito do Estatuto de Autonomia, 1936

Isaac: Pintor

Ainda que o seu sonho era estudar Arquitectura, estes estudos nom eram possíveis na sua nova situaçom, portanto, graças a uma bolsa, começa os seus estudos de Belas Artes em Madrid, na Escola de Sam Fernando, onde realiza os quatro níveis em tam só dous anos académicos.

Isaac forma-se como artista e começa a destacar como pintor

Concerto de zanfona, 1946

Consegue a bolsa Conde de Cartagena que lhe permite ampliar os seus estudos em Roma, Florença e Siena. É elegido para participar na primeira experiência no Estado de Desenho Industrial e, em 1942, aceita uma vaga de professor de desenho na Escola de Sant Jordi em Barcelona, na Cátedra de Luis Muntané. Nos seguintes anos, com um grande sucesso que reflete a prensa do momento. Durante este tempo, mantém um relacionamento com Carme Árias, a quem conhecerá no atelier da sua tia Dolores Balinho e com quem casará em 1945.

Da pintura à cerâmica: nascimento de Cerâmicas do Castro

Neste intervalo vital de grande reconhecimento profissional, Isaac decide quebrar com esta etapa de pintor, nomeadamente com o trabalho que fazia para a burguesia do momento, com a qual sentia um grande distanciamento e começar uma nova aventura criativa no mundo da cerâmica. Com este objetivo, desloca-se de Madrid ao seu amado país, Galiza, ao Castro de Samoeda, em Sada, onde funda um pequeno obradoiro em terrenos do paço familiar da sua mulher. Este laboratório, onde se fariam as primeiras provas com caulino da zona de Sargadelos, Cervo, dará como resultado Cerâmicas do Castro.

Ao princípio, inicia a produçom com figuras decorativas na linha da pintura que Diaz Pardo mantivera nas suas obras e, uns meses depois, fabrica-se a primeira louça de mesa. Após poucos anos, o pessoal atingia quase as 100 pessoas. Carme Árias, a sua companheira, teria um papel fulcral na decoraçom, achegando os seus conhecimentos artísticos na formaçom de novas trabalhadoras da fábrica.

Isaac recebe um convite da Argentina para instituir uma nova fábrica seguindo o modelo bem-sucedido de Cerâmicas do Castro

Costureiras, porcelana do Castro, década de cincuenta.

O Castro vira num exemplo internacional e o seu sucesso chega além mar, até Argentina, de onde Diaz Pardo recebe um convite para implantar uma fábrica semelhante ao Castro em terras da Magdalena, a 100 quilómetros de distância de Buenos Aires.

A aventura americana: a Fábrica da Magdalena na Argentina

Em 1954, Isaac viaja a Argentina, ficando a fábrica sob a direçom de Carme Árias e dos seus sócios. No país andino inaugura uma mostra das suas pinturas e cerâmicas no Centro Galego de Buenos Aires, acto em que se encontrará com muitos exilados galegos. Um deles, o grande pintor Luís Seoane, marcará o percurso vital e profissional de Díaz Pardo.

Na Argentina, Diaz Pardo encontra-se de novo com Luís Seoane e juntos empreendem o grande projeto do Laboratório de Formas.

Na fábrica da Magdalena (Argentina), 1958-59

Ambos os dous matinham contacto devido às colaboraçons que Isaac enviava à revista Galicia Emigrante. A partir desse momento, estes dous vultos da cultura galega começarám o seu labor criador em favor da recuperaçom da cultura e da memória histórica da Galiza, recuperando instituiçons que o fascismo quigera eliminar.

Luís Seoane e o Laboratório de Formas

O Laboratório de Formas, fundado em 1963, será o nome que vai receber o ente criativo no qual trabalhem os dous artistas e, posteriormente, unirá-se o arquiteto Andrés Fernández-Albalat.

O Laboratório foi constituído com o fim de reativarem a atividade cultural na Galiza e de recuperarem as instituiçons desaparecidas no tempo, como o Seminário de Estudos Galegos, o Laboratório Geológico de Laxe, a fábrica de Sargaledos, e também de criar novas continuando o mesmo objetivo de recuperaçom, como o Museu de Arte Contemporánea Carlos Maside, Ediçons do Castro, o Instituto Galego de Informaçom, entre outros.

Sargadelos

Diaz Pardo continuará com os seus projetos aquém e além mar durante 13 anos, de 1955 até 1968. Magdalena continua a sua atividade com muito sucesso e Isaac cruzará 20 vezes o Atlântico para o atendimento de ambas as fábricas e trabalhar arreo num dos projetos chave do Laboratório de Formas: a fábrica em Sargadelos, que é inaugurada em 1970.

Isaac e Seoane no Castro, fotografados por Eduardo Blanco-Amor, 1969.

A partir deste momento, Diaz Pardo e Luís Seoane levam a cabo um trabalho imenso de recuperaçom da memória na Galiza através dos diferentes órgaos criados polo LF. Seoane falece em 1979 e, desde aquela altura, Isaac continuará na mesma linha, trabalhando pola modernizaçom e internacionalizaçom da cultura galega e pola regeneraçom da desartelhada história da Galiza.

Diaz Pardo foi um dos maiores bultos da cultura galega, sendo a pessoa mais galardoada do país e uma das figuras chave do nacionalismo galego contemporâneo

Isaac no seu obradoiro do Castro. 24/08/2009

Em 2001, Isaac e os seus achegados concebem a Fundaçom Sargadelos com o alvo de estudar, divulgar e proteger a cultura industrial do Grupo Sargadelos. Em 2006, Diaz Pardo é apartado do grupo de empresas que ele próprio criara como consequência duma mal intencionada estratégia dos seus sócios. Esta mudança vital fai difícil os seus último anos de vida, anos em que o assulaga uma sensaçom de fracasso. O seu legado, e o do seu pai Camilo Diaz Balinho, permanece pola sua vontade na Biblioteca da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, em coerência com os seus valores de serviço ao País.

Exposiçom: As miradas de Isaac

Trata-se da primeira grande mostra sobre Diaz Pardo depois do seu falecimento, na Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, podendo visitar-se até o 4 de abril de 2012.

Imagem da exposiçom. Cidade da Cultura, Santiago de Compostela.

Video-instalaçom de Cecilia Díaz Betz e Jordi Cussó

A exposiçom conta com um espaço central vertebrador do resto das secçons, no qual se projeta esta peça audiovisual de criaçom, dirigida pola fotógrafa e jornalista cultural Cecilia Díaz Betz em parceria com o realizador Jordi Cussó.

Uma vídeo-instalaçom envolvente criada a partir de materiais de arquivo, na qual se propom um encontro com Isaac, sendo ele próprio quem nos relata em primeira pessoa a sua vida e obra. Uma forma radicalmente diferente de vindicar e lembrar a figura de Diaz Pardo, de acordo com a sua própria visom vanguardista, na qual se quer reviver o seu universo e o seu espírito sempre aberto, tangencial e multifacetado.