Após meses de mobilizaçons e um frustrado intento de venda, o ERE da planta de alumínio de Sam Cibrao é anulado através dumha sentença do Tribunal Superior de Justiza de Galiza. A multinacional estadounidense Alcoa é umha das principais produtoras mundiais de alumínio e enfrenta agora umha derrota judicial que a obriga a continuar com a operatividade das cubas de eletrólise e com todos os seus empregados.
Em conversa para o Galizalivre, falamos com Paulo Carril, secretário geral da CIG, sobre a luita sindical em Sam Cibrao e as vias abertas no conflito após a resoluçom judicial.
– Que valoraçom fazem da sentença desde a CIG?
A sentença vem a confirmar todo o que levamos dizendo desde que Alcoa anunciou o seu intento de feche. É umha decissom que nasce em funçom de critérios exclusivamente empresariais e pode provocar um profundo dano na Galiza, num sector tam importante como é o do alumínio e numha comarca como a da Marinha. Pensamos que toda a mobilizaçom social e popular trasladou-se ao ámbito no que se estava a discutir nesse momento, que é o judicial, e foi aí onde desbaratamos os planos que Alcoa leva meses querendo levar adiante.
– Na Marinha som bem conhecidas a táctica da empresa de ameaçar com o feche, e há a impressom de que quando a empresa faz um movimento, tem já planeados os três seguintes. Já que logo, qual pensades vós que é o seguinte passo?
O que dis é matizável, porque Alcoa nom contava com que a sua decissom fosse ter umha oposiçom tam contundente por parte do conjunto da comarca, e umha oposiçom sindical tam evidente. Polo tanto, Alcoa aí excedeu-se e infravalorou a capacidade de mobilizaçom que temos no povo galego quando se nos ataca dumha forma como esta.
Entom, que dissemos nós? A sentença nom resolve este asunto, porque a maneira de resolver o conflito é que se dêm passos decididos no caminho dumha intervençom pública ante o que entendemos que é um sector estratégico como é o do alumínio. Nom cabe outra alternativa dada a importáncia e o impato que tem desde o ponto de vista do emprego. Apartir de aí, temos claro que Alcoa tem tomada umha decissom e estamos convencidos de que vai intentar levá-la adiante.
“A sentença nom resolve este asunto, porque a maneira de resolver o conflito é que se dêm passos decididos no caminho dumha intervençom pública”
É certo que a formulaçom que temos é continuar na greve, entanto enquanto Alcoa nom cese o intento de feche, retome a operatividade da planta e repare as cubas. Há que lembrar que há duas empresas auxiliares (Cyrgasa e Reymogasa) que têm um ERTE até finais deste ano como consequencia da decissom de Alcoa de nom fazer o mantimento das cubas. Queremos continuar com a greve porque somos cientes de que Alcoa vai tentar consumar a sua decissom deixando morrer a fábrica.
Com ela queremos interpelar a empresa para que cesse e aceda a umha venda ou a umha soluçom de continuidade industrial, mas também para que desde o governo galego e espanhol haja passos decisivos nessa intervençom pública, nessa expropiaçom, que é o que vai dar continuidade da factoria.
– Na semana anterior o conselheiro Francisco Conde solicitava a intervençom do Estado. Como de fatível considerades que é esta questom? Qual sería o papel do Estado e do governo galego?
Nós desde o mês de abril do ano 2019, quando o ERE das plantas da Corunha e de Avilés, solicitamos um informe à Universidade da Corunha para avalar a tese de se havia possibilidade dumha intervençom pública. E, recentemente, voltamos atualizar esse informe. Do ponto de vista jurídico, do ponto de vista da acçom do Estado, há diferentes vias. Desde umha adquisiçom pública, amistosa, até umha expropiaçom pura e dura em base ao caráter estratégido do alumínio, mas também em base à política europeia que contempla o direito dos poderes públicos a intervir na economia ante o dano social que pode provocar o feche dumha atividade estratégica.
“O julgado impede que a factoria feche, mas nom impede ou resolve o conflito”
Nós é o que levamos dizendo desde um princípio: este conflito de Alcoa em Sam Cibrao confirma muitas das propostas e denúncias que levamos anos fazendo desde a CIG. Nom se pode retrassar umha intervençom pública quando é umha decissom política nom umha decisom jurídica. Nom pode pretender que o julgado resolva isto. E acabamos de ve-lo. O julgado impede que feche, mas nom impede ou resolve o conflito. É o que levamos dizendo nós: nom trasladem vostedes ao ámbito judicial ou que é umha decissom política.
Polo tanto, a intervençom é nesse caminho. O lamentável disto é que já sabemos o nível de despreço e nula importância que tem para o Estado espanhol o que acontece na Galiza, o grave é que o governo galego nom fora o que tomara a iniciativa no marco das suas competências e forçara esta intervençom.
– Durante as negociaçons do ERE, desde o comité de empresa houvo denúncias de que estavam deixando os trabalhadores abandonados durante as negociaçons.
Sim, foi o que passou. Nom se pode pretender levar a julgado, mas tampouco se pode pretender resolver num ERE um asunto desta índole. Isto volta demostrar que a reforma laboral tem que ser derogada. Nom pode ser que umha decissom empresarial decida se te despidem ou nom de forma unilateral, e aqui estamo-lo vendo. Tem que haver umha acçom decidida por parte do poder público para garantir a continuidade industrial, como acontece em muitos estados europeus onde estám dando passos para capitalizar empresas privadas, como em Itália, com Portovesme. Ali é o próprio governo italiano quem leva adiante umha acçom de recuperaçom industrial da fábrica de alumínio que tinha Alcoa.
“Em Itália é o próprio governo quem leva adiante umha acçom de recuperaçom industrial da fábrica de alumínio que tinha Alcoa”
– Defendem entom a tese de forçar umha venta para que depois a factoria seja operada por umha empresa como, por exemplo, Liberty House?
Nós aqui, neste caso concreto, vemos que há duas opçons. Essas duas som as que entendemos que têm que dar-se, mas para que se dê essa opçom de Liberty tem que haver primeiro umha adquisiçom pública, porque Alcoa já deu por finalizado o processo de interlocuçom com Liberty, salvo que agora o retome. A realidade é que o 27 de setembro, data na que acabam as negociaçons para a venda da factoria, foi a SEPI quem estava a frente do processo porque Alcoa já dera por finalizada a negociaçom com Liberty, já nom a reconhecia como comprador.
– Nom vem risco a que volte acontecer o mesmo que nas plantas de Avilés e da Corunha?
Eu já dizia estes dias que tememos, ainda que o duvidamos, que Alcoa simule umha soluçom trazendo e/ou inventando um comprador, mas aqui está tudo visto e aqui nom há soluçom nem para Alcoa nem para o governo. Alcoa nom pode tirar mais coelhos da chisteira, nom pode intentar repetir o periplo da Corunha, mas tampouco os governos têm outra alternativa que nom seja a intervençom. É que nom há alternativa! Aqui estamos falando do primeiro produtor de alumínio do mundo, sem contar China. É o auténtico capital. Quando falamos do capitalismo, e quem é o capital, pois aqui vemo-lo expressado. Usando a analogia, se me permites, “quem é Deus na terra?” Pois nom o sei, cada um tem a sua ideia quem acredito nisso. Agora, quem é o capital, neste momento? Alcoa.
Portanto, nom há volta. Já se está demostrando como o capital é capaz de pôr de jeonlhos o poder público. Afinal demostra também o poder omnipotente que o capital tem, e que há que frea-lo. Já o fazemos nós com a mobilizaçmo social e popular. Onde estám os governos para por-lhes freio? Se nom estám nom há alternativa, nom há soluçom.
“Alcoa nom pode tirar mais coelhos da chisteira, nom pode intentar repetir o periplo da Corunha”
– A jeira do pessoal da fábrica e a comarca da Marinha contra Alcoa foi umha espécie de batalha de David contra Goliat. De facto, a raíz disto, como foi o trabalho sindical para lograr esta vitória? Nom só está a CIG representada, há outros sindicatos…
Sim, há outros sindicatos, mas esta é a segunda parte da Corunha e Avilés. Pelo tanto, havia aqui umha diferença substancial e qualitativa que é a força e a capacidade que tem o sindicalismo nacionalista em Sam Cibrao em comparaçom com a que tinha na Corunha. Na Corunha nós tinhamos um delegado de treze, e em Sam Cibrao temos nove, tantos como Comissons Obreiras. E temos também umha presença importante nas auxiliares. Entom, aqui dam-se várias diferenças. Primeiro, a presença da CIG é importante mas também a experiência vivida na Corunha e Avilés…
– Ajudou para aprender a nom cometer os mesmos erros?
Ajudou. E é um reconhecimento a aqueles que dissemos que nom, porque nom havia garantias. Se diziamos em janeiro de 2019 que a parada de cubas ia ser definitiva e que Alcoa nom era crível nem o governo dava garantias de que fossem arrincar as cubas… Estamos vendo o que está a acontecer nos casos da Corunha a Avilés. A diferença penso que também radica em que a Marinha é umha comarca que tem umha história e umha tradiçom de mobilizaçom, num episódio como foi o Casón. Penso que havia e há umha capacidade de resposta enorme que está por riba de qualquer previssom que podiam ter os governos do que podia acontecer.
“A diferença com A Corunha e Avilés é que a Marinha é umha comarca que tem umha história e umha tradiçom de mobilizaçom, num episódio como foi o Casón”
Nós levavamos meses trabalhando com a coordenadora de auxiliares e, pelo tanto, havia um trabalho preparatório para ter umha formulaçom sindical clara, que foi o de que as cubas nom se param. Arredor dessa reivindicaçom e da situaçom que tem a comarca, dám-se as chaves. Porque os conflitos nunca se dam de jeito espontáneo, há um trabalho prévio de concienciaçom. Contudo, aqui houve umha capacidade de mobilizaçom por abaixo que também lhe fez ter vertigem a outros atores sindicais que sempre resolvem isto com a negociaçom fácil.
Isto é difícil para trasladar em palavras, porque alguém pode entender mal, mas é igual que o que aconteceu com o conflito de Ferroatlántica, com as centrais hidroelétricas. Estamos falando de que a capacidade de resposta da clase trabalhadora e do povo galego é enorme, tem um potencial extraordinário.