O nacionalismo galego foi historicamente dominado por homens, maioria numérica esmagadora dum movimento que aliás secundarizou as mulheres e escureceu os seus contributos. Ainda, contra as tendências mais fortes neste sentido, houvo moças que com força de carácter e claridade de ideias tentárom um papel protagonista na causa galega, mesmo nas suas origens. Na secçom de memória dos sábados, conhecemos a Micaela Chao Maciñeira, fundadora das Irmandades da Fala.

Nasceu numha família abastada do Ortegal e com os irmaos e os seus pais, Juan Chao e Carmen Maciñeira Bouzamayor, marchou a Cuba para reforçar os negócios da família. Em 1908, a sua vida decanta-se para o movimento galego. Na Havana, participa na ‘Sociedad Gallega de Declamación Rosalía de Castro.’ Ao que parece, lá conheceu Antom Vilar Ponte, futuro ideólogo e organizador nacionalista. Com ele iniciaria amizade e depois relaçom de parelha.

Em 1910 voltam ambos a Galiza. Micaela assenta na aldeia natal de Susavila, em Ortigueira; os Vilar Ponte assentam pouco tempo depois na Corunha, e é possível que por intermediaçom do cacique e erudito Federico Maciñeira, parente de Micaela, um dos irmaos, Antom, entre a trabalhar em ‘La Voz de Galicia’.

Em 1913 topamos Micaela e Antom já na Corunha contraendo matrimónio. Tivérom dous filhos, dos quais a mais nova, Carme, morrerá muito nova por causa da tise. Apesar das suas origens acomodadas, os dous futuros militantes irmandinhos vivêrom na estreiteza económica; sostenhem-se apenas polos ingressos jornalísticos de Antom, e aliás dedicam tempo e recursos a várias organizaçons cívicas e políticas.

Micaela, junto com as suas irmás Tareixa e Carme, foi das primeiras mulheres do país a espalhar o ideário nacionalista, que na altura aparecera sintetizado no panfleto de Vilar Ponte ‘Nacionalismo gallego. Nuestra afirmación regional.’

Ela é a única mulher presente em 18 de maio de 1916 no local da Academia Galega. Funda-se nesse dia a primeira Irmandade da Fala, e ela demonstrará ser umha activista de primeira linha. Acode, também como única mulher, à celebraçom da ‘Semana da Galiza na Catalunha’, organizada polos nacionalistas cataláns.

Entre 1917 e 1918 estará também entre o grupo de mulheres que achegam recursos para financiar a dotaçom dumha bandeira galega bordada pola Irmandade. Além de muitas representantes da pequena burguesia local, também as trabalhadoras da cigarreira da Corunha, organizadas num montepio, contribuírom com umha importante soma de dinheiro.

No ano 1918 encontramo-la à frente dumha Secçom Feminina da Irmandade corunhesa, que soma mais de 200 associadas, se lhe fixermos caso a A Nosa Terra. Lá toparia-se com outras dirigentes do nacionalismo irmandinho, como Maria Miramontes ou Elvira Bao. Possivelmente foi a acçom das mulheres organizadas a que estivesse por trás dumha das proclamas da Assembleia Nacionalista de Lugo: ‘igualdade absoluta, política e civil, da mulher com o homem.’ A influência das teses feministas deveu chegar também a Antom Vilar Ponte, que nas páginas de La Voz apontava a defesa dos direitos da mulher, como temos recolhido já neste portal.

As irmás Micaela e Carme participárom também do Conservatório Nacional de Arte Galega, ‘preparaçom para o advenimento de bons autores e competentes autores que lhe abram ao nosso teatro amplo campo para um êxito triunfal.(…) pretende ser solar da arte galega que recolha também da irmá Lusitánia aquelas manifestaçons artísticas que se ajeitem às nossas.’ As irmás Chao envolvêrom-se nesta iniciativa participando como actoras amadoras em várias obras, entre elas a conhecida peça de Cabanillas ‘A mao da Santiña’.

Com apenas 36 anos, Micaela Chao falece, vítima dumha nefrite, deixando um oco difícil de cobrir no galeguismo. Corria o ano 1928, e a imprensa do movimento salienta o grande contributo organizativo e moral desta precursora: ‘conselheira primeira da Irmandade feminina corunhesa, e completamente identificada com os nossos ideais galegos, manifestando-o acotio com forte intensidade e constáncia’, diz A Nosa Terra. Céltiga, em Bos Aires, escreve que ‘naquela casa de Rego d’Água, era o espírito animador do nosso primeiro grande jornalista. Nas horas tristes do grande luitador, quando por defender os seus nobres ideais se ia à cadeia, a boa senhora despedia-o com um naturalíssimo até logo, infundindo-lhe, com o seu heroísmo silandeiro, insuspeitado pulo.’ Em 1936, oito anos depois do seu passamento, Ben Cho Sey recordava em artigo de ANT o comportamento íntegro de Micaela no seu fogar, educando as crianças em galego, nuns tempos em que esta língua estava proscrita nos ambientes da pequena burguesia urbana.

*Os dados para a elaboraçom deste artigo fôrom extrazidos do trabalho de Emilio Ínsua ‘Micaela Chao Maciñeira, irmá da fala’, publicado no seu blogue https://ainsuadoinsua.blogspot.com/