O metal pontevedrês tivo ontem, se nom me trabuco, a que era a primeira concentraçom, do que se prevê que seja um novo ciclo de pulsom, para pressionar à patronal; para força-la assim, a levantar o bloqueio que tem sob as negociaçons do novo convenio provincial.


Em Vigo, a devandita protesta tivo lugar perante ás portas da Associaçom de Metalúrgicos da Galiza [Asime]. Umha concentraçom que nom tivo moita propaganda, o esforço comunicativo foi flebe. E isso é algo raro. Já que estamos a falar do Metal. Um setor que, noutrora, fora o coraçom que fazia rugir à cidade Olívica.


Bem é certo que, esta falha de pulo na comunicaçom, pode-se dever aos próprios tempos da protesta, cos quais nom estou familiarizado. Porém, a minha intuiçom apostava mais por que isto nom deixava de ser um sintoma do seu estado atual. Um sinal mais, dos muitos que nos espreitam, que nos venhem mostrar o desleixo no que se atopa o tecido industrial do país, da vila que antano fora o eixo do vindicalismo galaico.


Ao final, para lá que fum. Eram as 12:05, quando entrava pola rua “Doutor Corbal”. Na que, depois de tomar umha curva de esquerdas, polo passeio da mao do condutor, os edifícios do bairro obreiro de Teis abrem-se para deixar-lhe espaço ao palacete onde os patrons deste grêmio armam todos os seus plans de negocio. Todos os seus tratos coa política de alta alvernia. De onde sairom os vimbiaços que a classe operária leva bem marcados nas suas costas, bem aprendidos no seu protestar.


A mesma classe que se atopava bloqueando as portas do tobo da besta. Vigiando-a dende ambas as duas beiras da estrada. Eu, passei entre eles tentando concentrar os meus ouvidos nos seus cânticos, em extrai-los de entre o estrondo co que a choiva estava acossando o meu carro. Justo depois de passá-los, ponho os quatro pisca-pisca e deixo o carro em dobre linha. Baixo-me dele, dedicando-lhe algumhas pestes ao dioivo que levava toda a manhá fazendo-se notar. E, ao ir-me achegando à concentraçom, certo pesimismo foi borrando o sorriso que me prendera nos beiços ao ver como os guarda-chuvas partilhavam aquele ceu fechado coas estreleiras e as bandeirolas dos três sindicatos que convocavam.


A culpável dessa sensaçom fora ter comprovado, ao atravessar aquele treito de rua onde se concentravam, tentando empregar os edifícios colidentes como defesas contra da água, o que já intuía. Aquela falta de publicidade tinha pinta de dever-se à situaçom atual do grêmio. O que alô olhava era a imagem da sua situaçom vegetal. Já mo advertira um vizinho da freguesia «A cousa está-che fatal; os empresários som-che uns filhos de puta, uns filisteos, a administraçom já nom che conto, e os trabalhadores uns desclassados. Mui pouco choio e as previsons nom som boas. Depois de 30 anos trabalhando nele, dando a cara, só podo dizer que imos costa abaixo e sem freios».


Já se sabia o seu estado, nom se poder agochar; mas olhar a realidade sempre é mais duro que imaginá-la. Citroën passou de ser um maná, a ser umha porqueira, e os estaleiros, foram desmantelados aos poucos. Todo como consequência dum processo de reconversom urbana que, à calada e tendo como aliado o tempo, fosse traspassando os fundos da indústria, dos outros setores primários e secundários, e do tecido social ao setor do turismo e da especulaçom. Um processo de trasformaçom que, além de expropriarmos direitos, converteu esta cidade e as sua gente numha caricatura, num meme, do que eram antes. Num mono de feira que tenta imitar os modelos falidos e enfermiços das grandes metrópoles.


De súpeto, um estoupido fijo-me pegar um chimpo. Devolveu-me as boas sensaçons. Aquele barreno, o seu cheiro, lembrara-me a essência das folgas de antano. Aquelas demostraçons de orgulho, de começos dos 2000, onde os sonhos luitadores enchiam as ruas com umha raiva exemplar. Aquelas jornadas de trabalho, fora da fabrica, onde a gente luitava co que tinham a mao, co que estavam acostumados a empregar nas suas jornadas laborais. Aquela essência que os pícaros daqueles anos já apercebíamos, e interiorizávamos, na atmosfera do fogar, nas ruas da cidade, na escola e, sobre todo, nos telejornais que nos tentavam debuxar como herois aquelas façons, de corpos enfarinhados, que as mafias nos enviavam desde a meseta para zoupar-lhes aos nossos pais e a todo o que se lhe pugesse em diante. Para que defendessem, como cans doentes, os roubos dos que dirigem a sua cadeia de mando.


Ontem, alô em Teis, ainda ficava um chisco dessa essência. Os berros eram os mesmos que naqueles tempos. Os carros passavam e faziam umha reverencia coa sua buzina. O punk, o rap, o rock bravu também se ouviu alô. Inclusive estavam os piolins olhando desde dentro da sua gaiola, sem molharem-se claro, isso nom vai com eles. Embora, se estavam presentes, era que os chefes também lembram aqueles intres. O som dos petardos também deve transportá-los a aqueles tempos, onde a consciência do povo bem podia tirar ao chao os seus benefícios. A mesma força que ontem trocou o ritmo lento, e os olhares altivos, que levava aquela leiteira, ao atravessarem a concentraçom, nas gargalhadas e mofas das pessoas ali presentes ao ver como esta gripava no meio delas.


Sim, ontem nom chegavam aos 100 guarda-chuvas ergueitos, seriam como muito pouco mais de 50 pessoas, mas a essência estava presente. E onde há faíscas, sempre queda lume. Sempre podem voltar a gomar os incêndios e rematar coa pilhagem desta terra, cos petos que lhes roubam a vida. Para isso só se precisa que voltem soprar ventos da rebeldia. A situaçom voga nessa direçom. Já nom fica em pé nengum dos seguros do estado de direito, já nom tenhem nada que oferecer. Seguem a roubar como sempre, isso sim, mas as realidades de acotio som mais pobres que há uns anos, já nom há estabilidade, que futuro nos aguarda? A cidade, o país, é um polvorim; aproveitemo-lo. Os mitos do progresso estám polo chao, som o lastre que afonde as mentiras deste empório fracassado, deste sistema que fai as suas contas coas nossas realidades. Sacrificam-nos em prol do benefício. Pagamo-lo todo e nom temos nada, produzimo-lo todo e nom temos futuro, os jornais decentes som cousa do passado.


Eram já as13:00 horas. A música deixava de soar e tomam o micro os representantes sindicais, a choiva amaina e o público atende desde o meio da rua, detém-se o tráfego e os carros guardam ringleira, aguardam sem alterar-se, amostrando o seu respeito à luita popular. Anunciam o que já nom é nengumha novidade. Os cochos deste palacete nom querem negociar, as necessidades da gente jogam a prol deles, esse é o seu poder. Som coma o gato que joga co rato, deixando-o ir, até rematar matándo-o. Sabem que tarde ou cedo as necessidades apremiam. Que coas faturas e a fame a água voltará ao rego. Ante isso, só podemos antepor a contundência da nossa força. Trabá-los sem perder o tempo. Quebrar-lhe a sua paz, foder-lhes os privilégios. Sem jogos. Sem procissons inúteis. Apertar as mandíbulas, deixar sair a raiva e prender nas ruas as fogatas da ledícia, aquecê-las co orgulho de estar em pé.


A próxima visita será com dinamita!