Desde esta segunda-feira a água cotiza no mercado de futuros na bolsa de Wall Street. O feito de que a água se negocie na bolsa de valores é umha boa prova das dúvidas que esperta a sua disponibilidade no futuro próximo.

Em concreto, o primeiro contrato de futuro é o de janeiro de 2021 de CME Group e está ligado ao índice Nasdaq Veles California Water. O valor refere-se à disponibilidade de água em Califórnia. Estes contratos de futuros fôrom anunciados em setembro à vista das intensas vagas de incêndios florestais e secas que sofre todos os verãos o estado norte-americano. Deste modo, os grandes produtores agrícolas e as empresas energéticas querem garantir-se o subministro e o preço da água.

Que é o mercado de futuros?

O mercado de futuros, também denominados fordwards, consiste na negociaçom de contratos de compra-venda de determinados bens de consumo para umha determinada data futura, acordando na atualidade o seu preço, a sua quantidade e o seu vencimento. A simples vista pode parecer que este método de negociaçom pode ser favorável para as duas partes implicadas. Deste jeito o vendedor poderia garantir que o seu produto vai ter um preço rendível, e ao mesmo tempo o comprador pode assegurar-se de que terá garantido o subministro dum bem que necessita a um preço acessível. Tratar-se-ia, enfim, dum sistema de proteçom perante eventuais flutuaçons imprevisíveis do mercado.

Por exemplo, poderia acordar-se um preço de venda dum volume de água determinado dum manancial determinado para o próximo verão. No caso real do contrato descrito antes, a cotizaçom é de 496 dólares por cada acre-pé (1.233 metros cúbicos) que deveriam ser subministrados durante o mês de janeiro do ano 2021. Deste jeito o comprador assegura-se o subministro de água a um prezo aceitável e nom se arrisca a que o prezo se incremente demasiado devido a umha seca ou às flutuaçons do mercado. Ao mesmo tempo, o vendedor assegura-se um comprador e a um prezo de venda que considera bom.

Qual é a realidade?

Esta forma de negociaçom mercantil apareceu no século XIX, teoricamente, como um sistema de proteçom dos produtores agrícolas para regular e estabilizar os preços ao largo do ano, mas na realidade converteu-se noutra fonte de especulaçom. Os mercados de futuros estám incluídos entre os produtos financeiros por se tratarem dum dos produtos financeiros dos que pode extrair-se mais rendabilidade.

Para os gurus financeiros, o feito de que um bem cotize no mercado de valores garante a sua disponibilidade e deste jeito os agricultores e câmaras municipais poderiam garantir-se o aceso à água a prezos acessíveis. Porém, a realidade é que apenas o 2 % de futuros de produtos básicos finalizam com a entrega do bem físico enquanto o 98 % restante som movimentos especulativos que só provocam um encarecimento do bem em questom.

Embora na teoria o mercado de futuros evita as flutuaçons no preço dum bem básico, na prática tem o efeito contrário. A experiência previa na cotizaçom de outras matérias primas básicas no mercado de futuros, como foi o caso do trigo e de outros alimentos básicos, apenas provocou a sua especulaçom e a conseguinte crescida no seu preço, o que provocou fomes em muitas zonas do planeta durante a crise iniciada no ano 2008.

A vida como negócio

A mudança climática provocou um incremento da intensidade e da frequência das secas, que à sua vez acelerou o processo de desertificaçom dos solos. Se a isto sumamos o aumento da populaçom e a contaminaçom dos aquíferos, a escassez de água está a se converter num dos grandes problemas do planeta.

Como é óbvio, previamente à cotizaçom da água foi necessária a sua monetarizaçom, foi necessária a penetraçom do capital em algo tam essencial como é beber ou regar. Agora, num contexto de emergência climática, fazer dum bem básico como é a água umha mercadoria susceptível da especulaçom só pode empurrar-nos a um futuro incerto e injusto onde grandes camadas da populaçom nom terám aceso a um bem vital.