Agora, que seica estamos a presenciar umha recomposiçom no nacionalismo galego, aproveito para debulhar algumhas ideias sobre dez questons que me andam a remoer no caletre desde há uns aninhos. Nom som ideias novas, no seu celme fórom e som defendidas ou atacadas por muitos autores. Porém, achei que nom tem sentido nem sequer enumerá-los aqui num exercício patético de erudiçom que ofusque a cerna do que me interessa partilhar. Isto quer ser simplesmente um falar, um comunicar catártico sem aguardar mais que coa sua simples transmisom dê aclarado um chisco os meus próprios pensamentos e poda arrufar-se-me ainda mais a esperança. Velai vai:
1º O trabalho institucional
Se umha organizaçom tem como objectivo sincero a destruiçom dum modelo socioeconômico e das suas formas institucionais, nom é contraditório que centre os mais dos seus fôlegos em administrar essas mesmas formas institucionais? Nom resulta ainda mais absurdo se essas instituiçons se correspondem com umha identidade estrangeira invasiva e violenta que usurpa a soberania real da sua comunidade? A participaçom normalizada (sublinho normalizada) nelas, ainda coa ânsia de abrandar o impacto das agressons que se padecem, nom contribui a legitimá-las? Ao cabo, reforçam a aparente autenticidade da sua representaçom co disfarce do falso pluralismo. Desde o presuposto inicial, a única razom para aceitar a participaçom institucional nom deveria ser a de dificultar o funcionamento e exibir as contradiçons dessas mesmas instituiçons?
2º O poder popular
No momento em que umha organizaçom popular decide participar no modelo representativo vigente (municipal, sindical, autonômico…), nom se vê arrastada a umha dinâmica que tem como fim a absorçom de toda a actividade dessa força? Aventurar-se nesse remoinho, sem nengum mecanismo de controlo democrático curtido previamente na interacçom coa sociedade, nom é umha via certa à integraçom no sistema? As instituiçons actuantes no nosso país nom estám desenhadas para lhe furtar o poder de decisom ao povo mediante umha falsa representatividade? Acreditar que servem para criar o poder popular que nom se é quem de artelhar desde fora delas, nom é precisamente o engado que emprega este sistema para canalizar e diluir a oposiçom que vai gerando?
3º A marginalidade elitista
A desestruturaçom que padecemos como sociedade nom fará com que as organizaçons exerçam tamém um papel de integraçom para muitos inadaptados? Muitos sociópatas vem no grupo a soluçom às suas carências particulares. É a penetraçom destes elementos inerente à participaçom social ou há jeito de regulá-la? O messianismo, o elitismo, as batalhas de egos, a conversom das organizaçons em clubes de rol exclusivos onde se desenvolvem jogos de poder fictício, tenhem a ver co predomínio deste perfil militante ou som inevitáveis? Realmente a sua preponderância é inversamente proporcional ao número de interacçons concretas coa sociedade que a organizaçom leve a cabo com sucesso?
4º A profissionalidade
Quando um dirigente passa a viver do aparato da organizaçom (entendido este no sentido amplo, tamém instituiçons, fundaçons…), nom deixa de partilhar a situaçom dos seus representados? Desde esse momento, nom estám os seus interesses objectivos no mantimento do próprio aparato por riba das finalidades da mesma organizaçom? Ceder a gestom da representatividade aos que vivem dela conduz sempre ao sequestro da organizaçom polo seu quadro de pessoal? Em todo caso, reduzir o sucesso dum modelo organizativo à vontade de resistência à tentaçom dos seus representantes nom é, quando menos, umha temeridade?
5º A disciplina e a discrepância
Antepor a adesom ao aparato à promoçom do debate crítico admite variaçons no resultado ou leva invariavelmente à consagraçom de dogmas e à petrificaçom analítica? É o mesmo repetir argumentos que argumentar? Pode alguém ser representado sem ser escuitado de verdade?
6º A política de meios
Se umha organizaçom acha os meios de comunicaçom do sistema (comerciais ou institucionais) peças válidas para a construçom da sua alternativa, nom se entrega voluntariamente aos ritmos e temáticas pré-desenhados por eles? Nom se encadeia às formas de expressom homologadas polo poder e à assunçom fechada do seu marco de valores? A pretensom dum trato legítimo e rigoroso por parte destes instrumentos, criados e nutridos polo próprio poder hegemônico, parte da candidez extrema ou da perversidade falsária?
7º A forma e o conteúdo
O problema é o objectivo estratégico ou a transmisom correcta da sua necesidade à cidadania? Realizar umha aparente rebaixa ideológica por achar que o resto do país é incapaz de digerir o verdadeiro programa nom acaba por consolidar esse programa à baixa na própria organizaçom? As tentativas de camuflar as renúncias como passos adiante nom favorecem o sistema? Por outra banda, a reproduçom mimética de modelos doutras latitudes e a repetiçom autista de palavras de ordem gerais nom serám efeitos dumha sacralizaçom da estética promovida polo mesmo sistema? A espiral de frustraçom em que acabam estas condutas associais, que prescindem da avaliaçom honesta da realidade, som intranscendentes ou beneficiosas para o sistema?
8º A coerência
Umha organizaçom é mais o que fai ou o que di? O seu funcionamento interno e esterno deve ser um espelho do que realmente persegue para o conjunto da sociedade? Serve de algo predicar democracia directa, transparência, ou horizontalidade enquanto se practica a manipulaçom das próprias assembleias em reunions paralelas ou se canoniza umha direcçom permanente infalível? Pode ser útil umha organizaçom sem credibilidade social? Existe algumha maneira melhor de gerar credibilidade que a de dar exemplo? Há jeito de chegar à autêntica democracia sem practicar a democracia? E à igualdade? Qualquer meio serve ao fim? Chegar, por exemplo, a empregar o desfalco ou o enchufismo para o sustentamento e a ampliaçom do aparato pode ajudar realmente ao avance nos objectivos da organizaçom? Há jeito de normalizar um idioma minorizado sem tentar empregá-lo correctamente e em toda circunstância? Alguém que practica ou promove a submisomn pessoal interna pode-lhe transmitir rebeldia à sociedade?
9º A vanguarda
O que tradicionalmente se chamou vanguarda é susceptível de ser fechado nas paredes dumha estrutura partidária no presente? Satelizar as luitas sociais a través da vampirizaçom das dirigências populares polos aparatos nom debilita os próprios movimentos sociais? Outramente, o recurso teórico à vanguarda clássica nom servirá para justificar comportamentos e status já assimilados ao sistema a dia de hoje? Assim, a invocaçom deste conceito para legitimar as listagens oficiais fechadas na eleiçom dumha direcçom permanente, nom perpetua a elite dirigente frente à massa militante num paradoxo desvergonhado?
10º A independência e a auto-organizaçom
Se umha organizaçom anti-imperialista fai depender o seu funcionamento da achega econômica que puder perceber das instituiçons ou das mesmas entidades financeiras, nom se transforma num instrumento desses poderes? Favorecem a auto-organizaçom e a autodeterminaçom das naçons as estruturas de âmbito nacional dependentes economicamente de forças alófilas? É possível que a sua actividade reivindicativa ultrapasse a linha traçada pola sua fonte de sustento? Paralelamente, essa organizaçom nom empeceria o desenvolvimento dumha força combativa sem essas dependências se usurpa a retórica e a simbologia tradicionais do movimento libertador? Nom se viraria na canle perfeita para o deságue inofensivo de qualquer veleidade rebelde?
Desculpo-me polo estilo plúmbeo que empreguei, quiçais seja o peso de determinados sociolectos característicos dalgumhas famílias do nacionalismo galego.
*Publicado no primeiro número d’O Golpe em Julho de 2012