Ainda paira sobre a minha mente com excessiva intensidade o recordo jovial e barulhento dum feito recente, acontecido nesta cidade de Compostela, para que poidam escapar as minhas ideias ao desejo de evocá-lo antes de submetê-las à estreiteza objectiva e sintética do tema (…)

Refiro-me ao acto singelamente infantil mas verdadeiramente sugestivo, cheio dumha forte emoçom cívica, nom superada em movimentos cidadaos de índole mais séria, da proclamaçom da República Federal Galega, levada avante por essa mocidade rebelde, afouta, à frente dumha multidom imensa, ébria de entusiasmo revolucionário e fervor galeguista.

Aquela oleagem humana, que também mostrava no alto a sua crista de escuma da bandeira galega, rompendo-se e juntando-se em manifestaçom pressurosa polas nossas ruas até se desfazerem em pdoerosa ardentia contra o Consistório ia empurrado de tal entusiasmo que, ainda quando se tratar de restar-lhe importáncia, terá sempre para nós, os amantes dumha Galiza livre, umha transcendência exemplar digna de ter presente.

Digam o que dixerem essas pessoas ‘sérias’, reaccionárias à fim, esses novos avanços de hoje na ialma daquela multidom vibrava um sentimento tam puro para a liberdade da nossa terra e umha arela tam pura das nossas reivindicaçons regionais que dava a sensaçom, exactamente, de produzir-se em proclamaçom formal.

Uns e outros tivemos o capricho de ‘jogar à proclamaçom’, de fazer a nossa pequena e joguetona revoluçom, persuadidos, assi, do seu infantilismo, mas com a firmíssima conviçom de que estávamos a preparar umha juventude que dentro de poucos anos poderá manifestar-se com outra responsabilidade e produzir-se com a mesma energia, mais conscientemente, para encarreirar a revoluçom galega, única fórmula pola que atisbamos como possível a nossa redençom.

É, pois, que nom foi umha ‘rapaziada’ que em termos despectivos dérom muitos em chamar; muitos que se querem fingir galeguistas e que som incapazes de sentirem a emoçom imensa que produz o clamor sublime dumha multidom enardecida ao ver ondear com todo orgulho, enarbolada polo próprio esforço, no mais alto da casa Consistorial, a bandeira azul e branca.

Eu compreendo que ainda os mesmos que num intre de exaltaçom galeguista temos participado jubilosamente em aquele enfurecido assalto nom poidamos sensatamente glorificar a façanha, porque em primeiro lugar faltava o caudel de aquele momento, peça essencialíssima destes movimentos; mas cumpre-nos sair ao passo, com toda valentia e a mais firme coragem, a todo aquele ‘descastado’ filho indigno da Galiza, que tiver a ousadia de censurá-lo.

Ainda que apenas for como exemplo e ensaio de rebeldia para esta juventude galega que ha de impor as suas ideias e o seu amor à liberdade da sua terra o dia de manhá, a ingénua proclamaçom da República Federal Galega em Santiago encerra umha virtude e umha eficácia admirável que ninguém pode discutir-lhe; incompreensível unicamente para quem vivem à margem dum santo e nobre ideal, para aqueles que traiçoam vilmente à sua terra figindo um amor que nom existe nem nunca fôrom capazes de sentir.

Ora bem, é preciso insistir tantas vezes como cumprir, a mocidade galega debe aproveitar eficazmente esse dinamismo que emerge da sua actual rebeldia. E este aproveitamento nunca melhor empregado, para consumi-lo quantas vezes for preciso, que nas fileiras vanguardistas. Este é o posto da juventude renovadora que olha com olhos inteligentes e compreensivos o porvir da nossa terra.

O liderato é, em troca, por razom de experiência e de carácter; de serenidade e de eficiência; do valor representativo e de outras cousas, um posto que foge às nossas próprias possibilidades; é um posto de consequência nestas lides e nom de oportunismos e de improvisaçom.

A mocidade galega deve de ser, nesta revoluçom galega que temos encetado, a força impulsiva que acomete o avanço por todos os flancos, nom o líder que dirige o ataque. Outra cousa iria ser precocidade, nom eficácia. E a precocidade iria fazer os efeitos dum foguete que arranca com toda decisom para explorar em metade da sua parábola; enquanto que a eficácia é o projéctil que preparado com mais elementos de técnica e despedido com precisom dará ao final no alvo.

Tampouco nom é a rua nem a tribuna o lugar mais atinado para que esta juventude revolucionária se manifeste apenas desse modo.

É preciso que mocidade estudosa mantenha firmemente no povo trabalhador e na classe média o fogo sagrado dum amor a Galiza valente e sincero, livre de falácias e enganos; mas é urgente que esta mesma juventude dirija as suas iniciativas e esta força dinámica do seu espírito, em tensom perene, para o agro, para o desenvolvimento da nossa economia e a superaçom da nossa personalidade regional com a forte propulsom da nossa riqueza e dos nossos próprios meios.

(…)

Abusou-se excessivamente do academicismo nos labores galeguistas e a umha obra tam hermética nom puido chegar o interesse e a compreensom das classes populares e dos galegos puros, que nom vírom, ainda, um resultado positivo das doutrinas galeguistas.

E isto é o que cumpre fazer ver à mocidade galega ao mesmo tempo que tentamos gizar, progressivamente, os planos dumha revoluçom galeguista com sentido prático e eficaz.

El Pueblo Gallego, julho de 1931. Publicado em ‘República galega. Umha aproximaçom histórica’, editado pola AC Lucerna, A Revoltaina Cultrual da Beira de Bergantinhos, A.C. Foucelhas, A Gentalha do Pichel, Corsárias Galiza Livre e Escola Popular Galega em 2010.