1.

Apesar do que ponham as leis, o galego nom é umha língua oficial. Comprovamo-lo cada dia. Ao nom existir um desenvolvimento legal que faga efetiva a oficialidade do idioma, este continua reduzido á clandestinidade, ao voluntarismo e aos jogos florais.

Por vezes apresentam-se os preconceitos linguísticos como se nom estivessem diretamente relacionados com umha violência física, psicológica e simbólica contra a populaçom galegofalante. Umha violência extrema, capilar e sistemática que desencadeou umhas consequências psicosociais devastadoras. Umha violência denominada “bilinguismo” polo negacionismo imperante.

Alexandre Bóveda marca um sinistro cume dum imenso iceberg de barbárie. Dum dia para outro ficou erradicada a vida colectiva, exterminada qualquer mostra de dissidência, abolida a sociedade civil. Esta destruiçom da trama social arrojou o indivíduo a um absoluto desamparo subjectivo. Durante séculos a diglossia funcionou como um mecanismo de supervivência. Neste momento acontece o inimaginável, irrompe o incompreensível. O processo genocida dana os vínculos sociais mais íntimos. Instaura a impunidade. Racha a rede que sustinha o Nós. Umha ameaça totalitária invade todos os âmbitos e acelera a ruptura da transmissom linguística familiar.

Com cosméticas inovaçons tecnológicas, a escola constitui um lugar privilegiado para administrar a privaçom linguística, cultural e histórica. Recolhemos dez testemunhas dum século de extermínio da identidade galega. A participaçom em diferentes iniciativas reparadoras permitiu a estes ativistas elaborarem a ferida colonial.

No entanto, a maior parte do povo galego permanece desprovido dum discurso com o qual compreender a injustiça padecida. A transferência desse silêncio forçado traduze-se em cada geraçom dumha maneira diferente: do indizível ao impensável. O peso de décadas e décadas de repressom linguística vai-se acumulando, interiorizando e estendendo polo corpo social até hoje. O disciplinamento da populaçom forjou um novo hábito: a exclusom das crianças da comunidade linguística.

2.

Neira Vilas: Em 1936 havia pouco que eu começara a ir à escola. Vivim por tanto os rezos e os castigos habituais daquela, e a substituiçom da imagem da República por um crucifixo e o “Cara al sol” (…). Ainda mais: a repressom idiomática. Situaçom grave porque atentava contra a psique dos nenos. Um fundo complexo de inferioridade ia-se apoderando de todos nós. Um dia a mestra dixo-nos: “Todo en castellano, dentro y fuera de la escuela”.

Santiago Álvarez: O mestre fixo ao meninho umha pergunta em castelhano. Como era natural, o interpelado respondeu naturalmente em galego. E o mestre propinou-lhe unha brutal malheira. Zoscou-lle com umha vara de vímbio até lhe fazer nas orelhas e no rosto vermelhos hematomas. Ainda que daquela os castigos de tal natureza nom deixavam de ser correntes, o que o meninho non podia compreender era que lhe zorregassem por responder a pergunta em galego”

Carlos Casares: No seminário falar galego estava absolutamente proibido. E aquilo era mais paradoxal e grave quanto a meirande parte dos seminaristas eram galegofalantes, de procedência rural. Cada vez que dizias umha palavra em galego tinhas que escrever mil, cinco mil, dez mil vezes: “No hablaré gallego, no hablaré gallego”.

Isaac Estraviz: Se eu agora estava falando contigo e se me escapava uma palavra galega em lugar da castelhana, tu davas-me a mim uma moeda que era testemunho de que acabava de cometer uma infração falando galego (…). Quando os outros se deitavam e dormiam na cama, quem tiver a “cadela” deveria ficar ajoelhado e com os braços em cruz (…). Eu cheguei a confessar-me bastantes vezes do pecado de ter falado galego.

Manuel Maria: O que mais me chamou a atençom foi que dom Domingo, na escola, nom se apeava do castelhano. Quando lhe perguntou algo a um aluno, este respondeu com unha castrapada que agora nom lembro. A classe estourou numha gargalhada homérica. A mim aquilo magoou-me e acobardou-me. (…) Cando nom tinha a segurança total do significado da palavra que empregava, calava.

Xabier P. Docampo: No internado entrei no ano 56. Havia um anel de chumbo que tinhas que entregar a alguém que atopasses falando galego. Isto criava um sistema tremendamente sofisticado de delaçom. (…) O que se atopava com el no momento de ir à cama tinha que pagar umha multa, um peso, cinco pesetas. (…) Eu falei mui pouco galego no seminário. Os que zoupavam em mim tinham-lhe bastante carinho ao meu pelejo. Ali recebim um trato brutal. E meu pai por nom pagar a multa dizia-me: “Pois fala bem”.

Freixeiro Mato: Nos anos cinquenta, nenos do mundo rural, como o autor destas linhas, eram fisicamente castigados e ridiculizados no seu primeiro dia da vida escolar por se expressarem na única língua que sabiam, aquela que falavam seus pais, avós e irmaos. Para que logo se ponha em boca real que “a nadie se le obligó nunca a hablar en castellano”.

Emilio González: Tendo em conta a distribuiçom da populaçom existente em Conjo, o 95% dos tolos empregavam o galego como língua familiar. (…) Nom obstante, todo o “tratamento” recebido polo tolo para o curar realizava-se em castelhano. De tal jeito que quando algum tolo se expressava em galego diante do médico era-lhe aumentada a dose de pílulas para que fosse bem falado, é dizer, para que o figesse em castelhano, “como Dios manda”.

Lupe Gómez: Eu sempre falei galego (…). Mas também é certo que quando me ensinárom a escrever e ler aprendim-no todo em castelhano. A minha primeira mestra foi minha tia, na casa, e logo a escola, em Curtis. Para mim foi terrível, umha dura e pura castraçom. E logo quando fum estudar à Corunha ainda foi pior, porque falava castelhano (…) No fundo eu sentia umha dor mui grande. Umha ferida enorme. O sistema estava a criar em mim um trauma. Difícil de resolver. (…) Ainda me dói.

Lídia Pena: Quando decidim ser mae, eu dixem “eu vou criar as minhas filhas em galego e isto vai ser facilíssimo”. Mas a minha filha foi galegofalante até que entrou na escola pública no ano 2015. Numha semana vinha corrigindo-nos em castelhano ao seu pai e a mim. Quando o seu entorno era galegofalante, mas as crianças com as que entrou em contacto nesse momento todas ao 100% eram castelhanofalantes. Em menos dumha semana estava a corrigir-nos. Isto foi o que nos fixo o clique de dizer “aqui há que fazer algumha cousa”. Porque ainda que nós apostássemos pola língua nom é tam fácil como nós pensávamos.

3.

Tendo em conta a dimensom da catástrofe, surpreende a persistência do desejo de língua. A identidade nom vem dada, é umha conquista colectiva. A nossa simples existência questiona o seu regime.