Faleceu num 10 de novembro de 2010 depois de que um cancro fulminante segara a sua vida, ainda prometedora e cheia de projectos. Chamava-se José Manuel Samartim Bouça, mas o povo conhecia-o como ‘Martinho’. Ainda apesar da sua extraordinária discreçom (ou precisamente por isso) foi umha das figuras capitais do independentismo moderno. A sua morte prematura golpeou duramente o nosso movimento, precisamente nuns anos em que a intensificaçom repressiva era a norma, o mesmo que o fora na mocidade militante do nosso homem.
Nasceu no concelho de Fene numha família obreira. Operário industrial nos asteleiros, fundiu desde a primeira mocidade a consciência de classe com a consciência nacional, como naquela altura (finais dos anos 70 e inícios dos 80) faziam milhares e jovens da Galiza mais industrializada. Iniciou-se nas fileiras da Uniom da Mocidade Galega e aderiu ao sindicalismo nacionalista em tempos da reconversom. Oposto à integraçom do nacionalismo popular no quadro constitucional, apostou na luita armada nas fileiras do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive. Caiu num atraco frustrado e viu-se condenado à cadeia mais cedo do desejado, mas ao sair da prisom reincorporou-se ao combate. Todo o seu património económico, milhons de pesetas da época, foi destinado à organizaçom armada. Volveu a cair em 1988 trás meses na mais estrita clandestinidade nas serras ourensanas, e enfrentou paliças e torturas com grande dignidade nos dias da ‘lei antiterrorista.’ Um dos seus irmaos e amigos, Antom Garcia Matos, hoje preso em Teixeiro, tracejou um completo quadro biográfico de Martinho num artigo que foi publicado há anos neste mesmo portal. https://www.galizalivre.com/2017/11/10/martinho-vive/
Trás oito anos consecutivos de cadeia, dispersado e submetido a todo tipo de limitaçons, Martinho procura custosamente trabalho e reincorpora-se aos asteleiros em vários pontos da Galiza. Incorpora-se ao excursionismo independentista nas fileiras da Coordenadora Galega de Roteiros, dinamiza as Juntas Galegas pola Amnistia e oferece ajuda e conselho às novas geraçons envolvidas na Assembleia da Mocidade Independentista. Participa também da primeira fase de NÓS-Unidade Popular, que abandona decepcionado em 2005. Activista da Fundaçom Artábria, em todas as iniciativas em que se envolve deixa a pegada dumha enorme capacidade de trabalho. Assume as tarefas menos vistosas e mais duras, fala sempre o justo, e trata com igual respeito o militante mais veterano e consagrado que a jovem activista recém aterrada nas nossas estruturas.
Em Martinho funde-se a evocaçom do melhor do nosso país e dos valores da camaradagem, o trabalho entregado, a escuita, a amizade ou o valor da natureza. No juízo celebrado há umhas semanas na Audiência Nacional contra Causa Galiza e Ceivar, o seu nome volveu a aparecer nos informes da inteligência espanhola. Ao que parece, o Estado considera o seu recordo e vindicaçom ‘apologia do terrorismo’. Perseguem a sua lembrança, pois sabem que um povo que nom recorda com gratitude pessoas como Martinho está abocado à própria morte.