A Eubulides de Mileto, filósofo grego, é-lhe atribuído o paradoxo de sorites ou o paradoxo do monte, entendido monte como umha quantidade grande de cousas, porquanto sorites significa pilha, monte ou montom. A formulaçom clássica deste paradoxo pode ser descrita pola seguinte pergunta: Em que momento um monte de areia deixa de sê-lo quando se vam removendo os grãos? Se tivermos um monte de grãos de areia, e procederemos a retirar um a um os grãos de areia que o conformam, em que ponto deixará de existir um monte? E possível que um único grão faga a diferença entre ser um monte a nom sê-lo?
Este paradoxo, sem entrarmos na argumentaçom lógica e além dumha enteléquia própria dum debate filosófico, aparece continuamente no mundo real, pois em muitos casos, entre dous estados claramente diferenciados, nom existem fronteiras nítidas e claras. Um claro exemplo é a fronteira ente seres vivos e inertes. É claro que umha árvore e um peixe som seres vivos, e que umha pedra nom o é. Mas que acontece com os vírus? Mesmo dentro da comunidade científica nom há consenso e existe um forte debate desde há décadas. O mesmo ocorre noutros campos científicos, como pode ser a fronteira do que é, ou deixa de ser, um planeta.
As simples dicotomias nom se ajustam à realidade e na sociologia acontece o mesmo. Que é um movimento social ou um movimento político? Num princípio poderíamos defini-lo como umha associaçom de indivíduos que agem coletivamente com a finalidade da transformaçom –ou preservaçom– dumha determinada ordem social.
Mas se parafraseamos a pergunta com a que descrevíamos o paradoxo sorites, em que momento um movimento social, ou político, deixa de sê-lo quando se vam retirando as pessoas que o conformam? Quando restam menos de mil pessoas? Menos de cem? De dez? Duas pessoas poderiam ser um movimento? Depende do número de pessoas? E se argumentamos no sentido contrário, quantas pessoas som necessárias para conformar um movimento político? Dez, cem, mil? Talvez de aqui venha a conhecida legenda dos centros sociais galegos: 10, 100, 1.000 centos sociais!!! Isto é algo que me tenho preguntado muitas vezes.
E parece que a Guarda Civil, os agentes do CNI e os juízes da Audiência nacional, também refletírom sobre isto mesmo. Creio que é assim que se pode entender a dureza com a que o régime espanhol tem castigado o independentismo galego. O independentismo galego, embora numericamente pequeno, se o compararmos com o movimento independentista catalám ou basco, existe. E como existe tem latente dentro de sim a potencialidade de qualquer outro movimento emancipatório. Tem a potencialidade de medrar, e da noite para a manhá ultrapassar o limite de rotura que pode suportar o régime espanhol.
Neste sentido, as inúmeras mostras de solidariedade que estám a receber as pessoas que estám a ser julgadas nas últimas semanas no juízo que ontem ficou visto para sentença, som umha clara mostra que o independetismo galego está mui vivo. Este juízo serviu para somar muitos grãos de areia.