‘Nos povos, como nos indivíduos, dam-se sempre três fenómenos que marcam dum jeito cristalino o índice da sua potencialidade, do seu vitalismo: som o fenómeno da imitaçom, da assimilaço e da expansom. Todo ser inferior imita; um génio na arte, na ciência cria escola; geraçons continuam a imitá-lo; a imitaçom é a confessom dumha potencialidade incompleta; quem imita demonstra-se incapaz para criar ele por si mesmo, e se algo tem de seu, o menosprezo das cousas próprias mostra a sua inferioridade. Assimilaçom é a imitaçom consciente, é fazer próprios os valores alheios dando-lhes personalidade distinta por meio do trabalho próprio. Assimilar para transformar e transformar para superar. E por isto último, a expansom dá-se nos valores superiores, fecundos por natureza, cujá superabundáncia dá-lhes umha vitalidade expansiva própria.

Estes três fenómenos dam-se na história de todos os povos que nos seus inícios, faltos dumha cultura, dumha civilizaçom, dumha consciência colectiva, nom fam mais do que imitar os costumes dos povos mais adiantados. Depois desse período de dependência espiritual esses povos, ou nom chegam a formar um fundo de energias próprias -e nesse caso desaparecem absorvidos ou esnaquiçados por outros mais fortes-, ou vam a pouquinhos criando umha personalidade própria consciente de si mesma, com necessidades de seu, e daquela assimilam os valores de outras civilizaçons acondicionando a sua estrutura. Já entom tenhem vida de seu. Mas ainda tenhem de superar-se acotio, levando a degraus mais altos os seus valores, criando reservas de energias, e entom espalham o seu vitalismo a outros povos, a outras geraçons.

O povo galego tem costumes de seu, direito, tradiçons, estrutura própria. E porém nom fai mais do que imitar, em todos os aspectos da vida, outros povos. Isto nom é confisom da nossa inferioridade como povo? Por que nom nos imponhemos a nós mesmos os nossos costumes, tradiçons e estrutura? Porque o nosso povo ainda nom tem afincada a consciência da sua personalidade.

E enquanto nom olharmos a consciência da nossa personalidade e ainda da nossa superioridade como povo, enquanto nom impugermos os nossos valores próprios por cima de todos os valores extranhos, nom teremos direito à vida cidadá. Muita relaçom, si, com as civilizaçons afins à nossa, mas nom para imitá-las, mas para assimilá-las e superá-las. Se nom o fixermos assim, se seguimos a imitar servilmente aos alheios, rebaixando as nossas causas, fazemo-nos inferiores, incapacitamo-nos, matamos as nossas energias autóctones, e o nosso corpo regional, falto de energia própria, será dominado e invadido por umha vida estranha; desaparecerám a nossa vida e o nosso carácter; a Galiza seguirá a chamar-se assim, mas os galegos nom seremos filhos dum povo que é nosso, senom escravos dum povo estranho. E dizer que se nom tratamos de impor os nossos valores sobre os valores estranhos, será pola sua inferioridade; e se nom os superamos será porque nom nos cremos com força para superá-los; se nos cremos sem forças, se nom temos fe nas virtudes nossas, daquela aos galegos como povo, como colectividade, nom nos resta outro remédio que suicidar-nos, porque nom teremos direito a umha vida independente e digna.’

Publicado originalmente n’A Nossa Terra, em 10 de março de 1918. Adaptaçom ortográfica do Galiza Livre.