Ramom Vilar Ponte

‘Olhando a proximidade da luita eleitoral som muitas as gentes temerosas de que umha soada derrota acompanhe as forças regionalistas na sua primeira jornada. E estas gentes medrosas -medrosas e ingénuas- com um critério extremadamente simplista, suponhem que as consequências da temida derrota poderiam ser fatais para a causa da redençom galega. Desde logo, se bem se olhar, os temores destas gentes respondem a influências decisivas de ambiente e de educaçom. O temor, em todo caso, nom fai senom responder ao influxo psíquico produzido pola lembrança de determinados antecedentes, coautores dessa depressom moral que se chama medo, e nos que, por um fenómeno de miragem, o medroso olha certa relaçom com o que agora, adiantadamente, o deprime e o acora. (…)

Nada tem de particular que o fracasso acompanhasse todas as tentativas de renovaçom galega havidos até o de agora. Neles faltava algumha cousa de essencial, porque é espiritualidade e alma. Poderíamos dizer que essas tentativas renovadoras e redentoras eram a modo dumha armadura esplêndida, mas baleira. Deles achava-se ausente a força de coesom que aglutina e junta os elementos mais dispares, fazendo deles um bloco inalterável a todos os contratempos e todos os tropeços. Faltava neles a percepçom clara e contundente de qual é a verdadeira pátria, a pátria única, que tem como suprema modalidade do seu espírito, como exteriorizaçom da sua alma a língua galega, ergueita como bandeira ao começar a luita. A falta desta percepçom foi a causa dos fracassos. Mas hoje as cousas variárom totalmente. Triunfantes ou derrotados, com representantes próprios ou sem eles, todos os que formam nas fileiras galeguistas como cidadaos cientes dumha pátria viva e latejante, seguirám unidos no trabalho de redençom sabedores que, enquanto todo passa, apenas a pátria permanece.

O labor galeguizador, de recobro da nossa personalidade, prosseguirá decote. Nada servirá para impedi-lo, e menos que nada o cativeiro contratempo duns fracassos eleitorais. Acreditar no contrário -como acreditam os adversários- seria pensar que o galeguismo era um partido mais sem idealidade algumha e sem outra cobiça que a do desfrute das sinecuras que o mando, tal como até agora se exerceu, trai consigo. E o galeguismo nom é bandeira, como nom é partidismo. O galeguismo é a fusom estreita de todos os que comulgam na santa aspiraçom de olhar a pátria galega colocada na juntança livre de povos livres e donos de si mesmos. Portanto, o galeguismo nom vai finar endejamais e luitará sempre por abranguer tam alto fim.

Nós acreditamos que na oposiçom é como se formam os partidos. Todo o que for luita significa desenvolvimento de energias, acumulaçom de actividade, e isto, que de seu é um grande bem, unicamente quando se combate pode topar-se. Aliás, a luita é a grande forja onde se temperam as almas e se formam as rejas individualidades, antes do combate anónimas. Ela é a grande peneira para arredar a palha do grau. Por outra parte, luitar é ensaiar, e é induvidável que um povo amossa sempre correspondência entre a sua vitalidade potencial e as tentativas de ensaio que nele se fixerem. Capacidade para ensaiar quer dizer poder vital, e com Ortega y Gasset -o mestre que nos sugeriu estas consideraçons, num povo, mais grave que o muito fracassar é o pouco ensaiar.’

Publicado originalmente n’A Nosa Terra, 10 de fevereiro de 1918, com o título ‘Verbas e consideraçons’. Adaptaçom ortográfica do Galiza Livre.