(Imagem: Xoán Pousa) Xoán Pousa é um activista viguês incansável em defesa da Terra, labor em que leva várias décadas envolvido, tencionando pôr freio às inúmeras desfeitas que ameaçam o património natural. Combinando a militáncia ecologista com a educaçom ambiental, Xoán fai denúncia e divulgaçom, e explica-nos nesta entrevista os grandes reptos que enfrenta o meio na Galiza.
Conta-nos, para começar, como acorda em ti o interesse pola natureza.
Acho que o feito de ser criado como neno ‘semi-urbano’ ou ‘semi-rural’ tivo umha grande importáncia. Ainda que nascim em Vigo, desde os oito anos começamos a passar o verao numha aldeia do Morraço, onde vivíamos toda a família: avôs, tios, pais, curmaos, a modo de comuna ou clam. Logo já meus avôs trabalhadores, com as suas cativas poupanças, fixérom umha casinha e já começamos a ir na primavera, nos fins de semana. Ali deleitava-me na contemplaçom dos paxaros, das formigas, recolhendo amoras, levando as ovelhas a pastar acarom do rio com as crianças da zona, montar em burro, ajudar a apanhar as patacas…criei-me como um neno livre.
Logo, os documentários de Félix Rodríguez de La Fuente e os de Cousteau fixérom o resto. Sem ter muito claro o que ia estudar, todo me foi levando até os estudos de Biologia, que se bem nom tinham a aura romántica de aventura que eu esperava, servírom-me para adquirir conhecimentos e destreças para o futuro. Na universidade conhecim também um grupo de moças e moços comprometidos que iriam marcar a minha trajectória vital.
Qual foi o teu compromisso no movimento ecologista galego? De que modo te iniciache?
A semente estava plantada desde neno mas agromou na universidade, quando topei um grupo de companheiros com os que fundamos o Grupo Ecologista GABITA onde tratamos de sensibilizar os companheiros da faculdade, o professorado e o resto de pessoal da universidade sobre a importáncia de respeitar o meio ambiente. Com campanhas sobre a utilizaçom de papel reciclado, a importáncia da recolhida dos refugalhos químicos dos laboratórios, a experimentaçom com animais e muitos outros temas.
Logo contactamos os grupos locais da cidade e formou-se a Plataforma dos Três Erres. Reclamamos que se instalaram contentores de reciclagem de papel na cidade quando em Vigo só havia contentores de lixo geral e os de vidro. O papel e cartom recolhiam-se nos locais de distintas associaçons. Estivemos na luita contra a construçom da empacotadora ou planta de transferência de resíduos de Guixar, no bairro de Teis. Entendimos que devíamos tentar frear o que suporia pôr a primeira peça do plano SOGAMA, baseado na incineraçom do lixo. Nós defendíamos a reduçom reutilizaçom e reciclagem e obviamente a compostagem da fracçom orgánica.
Após esta experiência, esta Plataforma iria dar origem à Coordinadora Ecologista de Vigo, que agrupava a vários colectivos ecologistas da cidade. Com a Coordinadora tivemos umha certa influência nos meios locais com a defesa do rio Lagares, do meio marinho, a denúncia das instalaçons do zoo da Madroa…
Mais adiante implicaria-me com outras organizaçons no ámbito galego, como a Sociedade Galega de Educaçom Ambiental (SGEA), onde trabalhávamos para dar a conhecer a dignificar a profissom de educador ambiental na nossa sociedade.
Que evoluçom observas no movimento nas últimas décadas?
Como em outros colectivos sociais, há dificuldades para o relevo geracional também no movimento ecologista. No ano 2002, com o naufrágio do petroleiro Prestige, o movimento Nunca Mais fijo acordar também a nossa consciência ambiental e marcou um fito importante na mobilizaçom, conseguindo a implicaçom de muitos e muitas voluntárias. Algum deles mesmo ficou a trabalhar em distintas organizaçons.
Na actualidade, o nascimento dum movimento mundial com muita força pola defesa do clima, nomeadamente por parte da mocidade, está a servir como enganche. Também os incêndios florestais de 2017 conseguírom acordar a consciência de parte da cidadania, que começou a se envolver em organizaçons ecologistas e sociais, com comunidades de montes, nas campanhas de ‘deseucaliptizaçom’, plantaçom de espécies de frondosas e labores de vigiláncia do monte. Estám a conseguir também muita implicaçom social as campanhas para frear o uso dos plásticos e microplásticos no mar, um tema de grande importáncia
Por que apostache na educaçom ambiental? Quais pensas que som as suas grandes potencialidades?
Desde o ecologismo cheguei à educaçom ambiental. Já dentro da Coordinadora Ecologista de Vigo começáramos a fazer campanhas nas escolas da cidade, onde dávamos palestras de sensibilizaçom sobre conservaçom de bosques, e realizávamos sementeira de landras de carvalho para criar um pequeno viveiro que o ano seguinte se plantava com a colaboraçom das comunidades de montes.
Posteriormente criamos umha cooperativa dedicada à gestom de aulas da natureza, projectos de educaçom ambiental nas escolas, rotas em espaços naturais e campanhas sobre distintas temáticas como o consumo responsável e o comércio justo. Paralelamente seguíamos envolvidos no mundo do ecologismo em distintos colectivos.
Parafraseando o poeta Gabriel Celaya… ‘a educaçom ambiental é um arma carregada de futuro’, é umha ferramenta fundamental para adquirir uns valores de respeito polo meio ambiente. Deve permitir a formaçom de cidadaos críticos e sensíveis, que sejam cientes de vivermos num planeta com recursos limitados, e devemos cuidá-lo. Já dizia Pitágoras: ‘educai os nenos e assim nom teredes que punir os adultos’.
“A educación ambiental é un arma cargada de futuro”. A educación ambiental é unha ferramenta fundamental para adquirir uns valores de respecto polo medio ambiente. Debe permitir a formación de cidadáns críticos e sensibles, que sexan conscientes de que vivimos nun planeta con recursos limitados e debemos coidalo. Xa decía Pitágoras: “Educade os nenos e así non teredes que castigar os adultos”.
Como educador ambiental, quais achas que som os principais obstáculos para o respeito ao meio? Dependem de decisons políticas ou relacionam-se mais bem com atitudes sociais?
A principal barreira é a cobiça, a obsessom por seguir medrando, polo crescimento económico sem medida. Isto nom é possível num planeta com recursos limitados, onde aliás existe um reparto desigual da riqueza. Obviamente é preciso todas e todos tomarmos consciência na nossa responsabilidade e formos cientes de termos mudar as nossas vidas adquirindo hábitos que nos levem cara a sostibilidade, como a poupança de água, energia, minimizar a produçom de lixo, que transporte utilizamos. As compras que fazemos, como influem no contorno social: ‘pensa global, age local’. Em definitiva, tratar de reduzir a nossa pegada ecológica no planeta.
No confinamento, durante a crise do coronavirus, vimo-nos na obriga de ficar nas moradas, com as dificuldades que isso implicou, mas ao mesmo tempo isso fijo com que se reduzissem as emissons de gases de efeito estufa a nível mundial, como nunca tinha acontecido nesta década. O planeta tomou um respiro. Um organismo microscópico obrigou-nos a frear o nosso modo de vida e enxergarmos alternativas. Mas demos-lhe a volta no momento em que os governos dam ajudas à indústria do automóbil. A soluçom nom passa pola construçom de carros eléctricos, mas por pensarmos o desenho das cidades para reduzir as necessidades do transporte, que nos permitam ir andando do trabalho à escola, por fomentar o uso da bicicleta, polo uso do transporte colectivo.
Além do nosso compromisso individual com o planeta é fundamental a nossa implicaçom social, participando de colectivos ecologistas, associaçons vicinais, cooperativas…implicando-nos politicamente para mudar as cousas.
É evidente que as decisions políticas vem-se condicionadas polas grandes multinacionais do automóbel, as energéticas, os bancos, que pressionam para conseguir seguir medrando sem limites e defendendo os seus interesses. A educaçom ambiental nom pode ser neutral, senom crítica, e servir como ferramenta de mudança cara modos de vida sostíveis.
Se quigeres dirigir-te a qualquer rapaza ou rapaz mergulhado nas novas tecnologias, que desconhece todo o meio que o rodeia, como farias para que sentisse a atracçom e o interesse pola terra?
Ninguém desconhece todo o meio, desde que todos fazemos parte dele. A tecnologia deve de ser umha ferramenta, nom um fim em si mesma. Cumpre pôr as máquinas ao serviço dos humanos e da conservaçom do planeta, fazendo umha utilizaçom racional destas. A tomada de terra é fulcral. Pegar na terra com as maos e sermos cientes de que todo está junguido, de que fazemos parte dum todo, e nom podemos viver fora, nem ficar fora. É preciso reinventar a escola e fazer umha escola mais aberta à natureza. Crianças devem aprender no bosque, nos rios, no mar, com os cinco sentidos bem espertos. A escola actual, rígida, choca com o meio cambiante onde os nenos vam ter que adaptar-se e viver. Cumpre começar de pequenos tocar a terra, num trabalho conjunto entre famílias e escola. As tecnologias podem ser também umha ferramenta muito interessante na educaçom ambiental, mas nom podemos ficar no ecrá, temos que sair e tocar essa árvore, cheirar esse cogomelo, molhar os pés no rio. A aprendizagem desde a experiência sensorial é insubstituível e permanece na memória.
É um feito que a tomada de consciência de muita gente polo cuidado da Terra vai em aumento. Reduzindo o transporte privado, empregando a bicicleta, consumindo produtos locais e de temporada, fazendo um uso racional de energia e água, minimizando lixo. Envolvendo-se na limpeza dos rios, das praias, e no cuidado dos montes. Levando as crianças a caminhar para conhecerem os espaços naturais, ensinando a cultivar a terra, educando polo respeito por outras formas de vida do planeta. Resta muito por andar, mas estamos no bom caminho.