Luís Álvarez é enfermeiro em Atençom Primária, membro da Asociaçom Galega para a Defensa da Sanidade Pública e da plataforma SOS Sanidade Pública. Leva anos denunciando o desmantelamento do sistema publico de saúde na Galiza. “A Atençom Primária leva muitos anos com uns níveis de marginaçom importante”, advir-te no começo da entrevista, “na atençom hospitalária, na saúde mental e no âmbito sociosanitário as situaçons som semelhantes, mais o que marca a diferença com respeito à atençom hospitalária é que dentro dos minguados orçamentos, os hospitais seguem sendo o terreno preferente, seguimos orientando a assistência e a atençom cara esse modelo hospitalocentrista e medicalizado que tam mala resposta dá aos problemas de saúde que mais prevalecem neste país”.
Essa deriva do sistema dificultou a resposta à pandemia da covid19. “Tinhamos mitificadas a tecnologia e a farmacopeia como soluçom a todo e topamos que as únicas soluçons passam polo lavado das mans, as máscaras e a distancia social”, diz Álvarez. “Partiamos dumha situaçom má, assim que era complicado que governos, centros epidemiológicos, de saúde pública, entidades científicas e demais puideram dar unha resposta ajeitada e rápida a unha ameaça desta magnitude”.
Hoje, oito meses depois de decretada a alarma, com mais de 700 falecidos pela covid19 na Galiza e um impacto na saúde da povoaçom e no serviço galego de saúde que ainda nom se avaliou, a Atençom Primária volve estar no foco, um dos piares essenciais do sistema sanitário está tocado, nom se reforçou e as deficiências seguem aí.
– Que valoraçom fai da resposta global e da resposta local à primeira vaga da covid19?
– A nível mundial o caminho foi de clara improvisaçom, de ir aprendendo sobre a marcha e dando passos para atrás e para adiante. Alguns países tinham já experiência no manejo de situaçons semelhantes e ao principio fizeram algumhas coisas melhor. Nas nossas sociedades, fundamentalmente pelas leis do mercado capitalista que orientam o desenvolvimento ao consumo, com economias de baixa sustentabilidade que concentram povoaçom e cumha industrializaçom brutal da produçom alimentaria, os germes que podem provocar unha pandemia gozam dum terreno favorável para multiplicar-se. Este é um problema global. Mais também podemos ver que as realidades som moi diferentes, a composiçom demográfica, o tipo de relaçons sociais, as dimensons dos países, o tipo de tecido produtivo… fazer comparativas no quantitativo é algo moi arriscado e teremos dados com muitos nesgos.
– Fala de diferenças por países, mais há padrons em quanto o impacto segundo os níveis de riqueza das povoaçons?
– Os dados sobre a afetaçom da COVID-19 som evidentes e mostram que nesta pandemia também há classes. Nas cidades a doença golpeia mais nos bairros de menos recursos, mais nos ambientes obreiros, naqueles que tenhem que empregar o transporte público, massificado, nos que nom podem teletrabalhar.
– No âmbito da Atençom Primária, tem-se melhorado algo nestes meses desde março?
– Tehem melhorado poucas coisas. As ratios de pessoal seguem igual, os médicos devem levar controle dos doentes, mais a capacidade de fazer seguimento é moi baixa. Sendo o primeiro nível de contacto direto com a povoaçom, a Atençom Primária deveria de ser um dos alicerces na luita contra a pandemia, junto com as unidades de Saúde Pública, que também tenhem sido marginadas. Houve melhoras nos circuitos de solicitude de provas, na dotaçom de material de proteçom, nos protocolos… mais no cerne do enfoque seguimos igual.
“Os governos também deveriam aprender a ser claros e concisos nas mensagens para nom sementar mais confusom. E sobre todo tem que haver moita transparência nos dados e estatísticas”
– Que empiorou?
– O empioramento tem a ver com esse empenho em nom querer ser conscientes da importância da Atençom Primária. As consultas passarm a estar moi minguadas, houve um aumento exponencial do trabalho a través da consulta telefónica e dificuldades para derivar os pacientes a nível hospitalário, tanto para provas diagnósticas como para intervençons ou consultas de referência. Todo isto provoca atrasos, adiamentos nos problemas de saúde das pessoas que som precisos resolver e que podem agravar-se. A consulta telefónica pode ajudar, mais nunca pode substituir à atençom presencial. Se o doente nom está presente podem-se-nos escapar problemas importantes.
– Como o vivem as usuárias e os usuários?
– Com incerteza, com medos e inseguridades. E os próprios profissionais sanitários também as padecemos. Se a atençom primária se tive-se fortalecido no seu momento, a resposta teria sido muito melhor. Ante unha situaçom de emergência sanitária a resposta nom é só ter um grande sistema de saúde pública: a coordenaçom entre os níveis de gestom administrativa política, com a parte social de sindicatos e empresas resulta moi importante.
– Como valora a resposta no âmbito sociosanitário, onde se seguem a dar verdadeiros dramas por exemplo nas residências?
– O sistema de atençom a dependência está altamente privatizado e orientado ao beneficio empresarial. Se assumimos que a gente que tem altos níveis de dependência, tanto pela idade, por incapacidades, e as soluçons passam por criar centros massificados, com poucos profissionais e orientados aos cuidados básicos de higiene e alimentaçom e fugimos de tentar manter ao dependente no seu ambiente, preto da sua realidade familiar e social, pois estamos criando dispositivos que no caso de infeçons ou epidemias som um caldo de cultivo moi propicio para que neles se concentrem unhas altas taxas de morbilidade e mortalidade. E isto sucedeu a pesar da luita incansável e heroica de moitas trabalhadoras.
“A orientaçom que se lhe dê ao nosso sistema de saúde marcará as necessidades de profissionais: se precisamos mais ou menos enfermeiras, médicos, psicólogos, fisioterapeutas…”
– Que seria o mais urgente que haveria que mudar?
– O urgente é aprender desta grande liçom que nos está a dar a pandemia a nível mundial. A realidade diz-nos de jeito nítido que é imprescindível fortalecer os sistemas públicos de saúde. E dentro desse fortalecimento, a Atençom Primária tem que ser o alicerce sobre o que se sustente a gestom e administraçom sanitária. Também é moi urgente fortalecer os menosprezados serviços de Saúde Pública, unha peça fundamental para controlar e previr as infeçons e epidemias e nom só no referido ás pessoas, também todo aquilo que tem que ver coa sanidade animal e controle de alimentos. E tem que mudar de jeito radical todo o referido à atençom sociosanitária. Outra das eivas que puxo de manifesto a pandemia som o impacto dos recortes e ajustes à baixa no terreno da investigaçom. O sector público tem que liderar este eido. Os governos também deveriam aprender a ser claros e concisos nas mensagens para nom sementar mais confusom. E sobre todo tem que haver moita transparência nos dados e estatísticas.
– Mais todo isso exihe quase um cámbio “cultural” na gestom sanitária?
– Há coisas que nom se solucionam da noite para a manhã. Temos que entender que si seguimos mantendo um sistema orientado à curaçom, ao hospital, a solucionar todo com fármacos… repetirám-se os cenários e os problemas. O caminho é um sistema orientado a prevençom, ao fortalecimento da educaçom para a saúde, à promoçom de estilos de vida saudáveis. E isso permitirá mudar certo tipo de relaçons sociais e laborais… um mundo mais justo e equilibrado. A orientaçom que se lhe dê ao nosso sistema de saúde marcará as necessidades de profissionais: se precisamos mais ou menos enfermeiras, médicos, psicólogos, fisioterapeutas…
– Como está respondendo estes dias o serviço de enfermaria de Primaria nos vossos centros diante desta segunda vaga?
– A situaçom é moi díspar dependendo dos centros, os contextos som moi diferentes em concelhos do rural, nas vilas e nas cidades. Pessoalmente penso que a enfermaria foi um dos estamentos profissionais mais desaproveitados, leva-o sendo de jeito geral e polo tanto o normal é que as coisas nom mudassem durante estes meses. O papel das enfermeiras como agentes de saúde (que pouco gosto disso dos rastejadores) puido ter tido um aproveitamento muito maior. Nesta segunda vaga, creio que nos colheu com algo mais de seguridade e tranquilidade, pero estamos com moita incerteza cara o último trimestre. Os problemas respiratórios habituais desta época do ano vam solapar coa sintomatologia da covid19 e polo tanto isso pode criar um incremento grande da carga assistencial e mesmo dos contágios dentro dos profissionais.
“A melhora nom passa por fazer hospitais de campanha ou que o Exército substitua a falha de pessoal sanitário”
– Como está o pessoal de enfermaria anímica e fisicamente e como é a sua preparaçom contra a covid19 a estas alturas?
– Há cansaço e preocupaçom. Todo gira arredor da covid19 e segue sem ver-se unha saída. Em muitos centros existe pressom assistencial, e temos que ir mais devagar, extremar os cuidados e as medidas de seguridade… todo isto racha coas rotinas e hábitos de trabalho anteriores. Temos que mudar muitos comportamentos e enfoques no profissional e no pessoal e isso implica a nível psicológico dificuldades de adaptaçom e de comportamento. Muitas companheiras tenhem caído enfermas e isso também gera desajustes nos centros de trabalho.
– Que passaria com o pessoal de enfermaria se volve outra onda como a de março?
– Vai depender muito a quem afete. Se os sectores de povoaçom som aqueles nos que se precisam menos ingressos hospitalários, menos UCI e pelo tanto existe menos mortalidade, o papel de agentes de saúde e controlo do seguimento domiciliário terá que ser prioritário. Se aumenta a mortalidade e os ingresso hospitalários e temos risco de colapso dos mesmos será moi diferente. Já vimos o que passou em março, abril e maio em muitos lugares. Certo que a nível técnico e de proteçom tem-se melhorado, pero essa presom que segue existindo de colocar a produçom económica como prioridade e polo tanto baixar a guarda nas medidas de contençom ou mesmo de confinamento e nom acompanha-lo do fortalecimento dos sistemas de saúde pode ser um grande problema. A melhora nom passa por fazer hospitais de campanha ou que o Exército substitua a falha de pessoal sanitário. Nom se deve perder de vista que no caso de afectaçom importante da povoaçom os sanitários também somos parte dela e pelo tanto podem producir-se baixas difíceis de substituir.