Testemunho de Adolfo Telmo Pérez, médico de Primária no Centro de Saúde de Tui oito meses depois de iniciado o estado de alarma que durou até junho.
Adolfo Telmo Pérez publicou na revista Luzes a finais de abril a Carta aberta dum médico de família ao presidente Feijóo. “Preocupa-nos que passará quando os centros de saúde vaiam retornando a unha certa normalidade. Nom volverá ser todo igual. Passaram semanas nas que nom puidemos fazer o seguimento habitual de muitos enfermos. E preocupa-nos nom te-los atendido e nom sermos quem de atende-los. Imos necessitar mais pessoal, mais investimentos. E preocupa-nos porque vostedes só cohecem a palavra «recortes» e o só usam o termo «colaboraçom público-privada», o eufemismo com o que tapam o desvio de enormes quantidades de dinheiro aos hospitais e fundaçons privadas, parasitarias do público”, dizia.
Passou o veram e Adolfo Telmo Pérez segue preocupado. Nom vê avances por nenhum lado (se acaso, os da privatizaçom). A pandemia, acelerador de processos, está empurrando à gente cara a sanidade privada. O centros de saúde vivem ao bordo do colapso, a gente está mal atendida, a saúde da povoaçom empiora.
“Durante o estado de alarma, nos centros de saúde limitou-se a assistência como resposta ao avanço imparável da pandemia e com objeto de aplanar a curva e preservar o sistema sanitário. Também para evitar que os centros sanitários se convertesem em lugares de transmissom da enfermidade”, declara ao adiante.gal ao rematar a jornada em Tui. “Foram tempos duros, os sanitários pagaram com vidas e contágios; foram tempos dos aplausos e do reconhecimento dumha sociedade que compreendeu que só uns serviços públicos fortes podiam combater e vencer à covid19”.
Neste outono, a situaçom epidemiológica é diferente, advir-te. “Chegou o momento de questionar as ferramentas. “A covid trouxe demasiada dor, cambiou as nossas vidas e também a assistência sanitária. Multiplicaram-se as consultas telefónicas e reduziram-se as citas médicas presenciais até extremos pouco defendíveis numha situaçom de ausência de transmissom comunitária sostida. A consulta telefónica suscitou-se com a finalidade de evitar os contágios. Mas ao pouco tempo alguém começou a pensar que aquilo poderia servir também para cambiar a prática clínica. E a Junta apuntou-se à moda e à promoçom da telemedicina. ‘A medicina do futuro’. Toda a medicina que se possa fazer sem presença física é medicina do futuro, dizem-nos”. Já em abril, quando a pandemia ainda nom remitira, o aparato de publicidade de Feijóo emitiu a boa nova: espertos do comité clínico da Junta traçam um plano para recuperar a atividade ordinária no SERGAS (Serviço Galego de Saúde) que contempla aumentar amplamente a atençom telefónica.
“Na teoria, a consulta telefónica é unha forma de aceso à Atençom Primária, umha parte da telemedicina, a mais básica, que deveria aforrar tempo e facilitar os trâmites aos pacientes e, por méio das vídeo-chamadas ajudar nos controles e a resolver dúvidas. Com menos citas, deveria aumentar o tempo que dedicamos aos pacientes. Nada disso se conseguiu. O SERGAS limita-se a redigir protocolos e deixa que a realidade se ocupe do resto. Nom se reforzaram as linhas telefónicas nem aumentou o pessoal, nom se puxo em marcha o correio eletrónico nem as vídeo-chamadas. E partiamos dumha situaçom de precariedade crónica e de falta de pessoal. As agendas estavam saturadas desde primeira hora. Medrou a lista de espera, mesmo apareceu em sítios onde nom a havia. Qualquer cita presencial faz-se a costa de fazer oco onde nom o há…”
“O SERGAS limita-se a redigir protocolos e deixa que a realidade se ocupe do resto.”
Adolfo está igual de farto, mais enfadado, que em abril quando lhe escreveu ao presidente. “A consulta hoje tem umha imensa carga de trabalho, atendemos todo o que podemos a base de aumentar as jornadas laborais. O pessoal está ao bordo do colapso. Mais todo esse esforço nom é visível para a poboaçom”.
O médico mostra como se vam abrindo as fendas no sistema diante duns usuários que nom entendem o que esta a passar, aceleradamente… A urgência subjetiva, “aquilo que precisamente deveria evitar a cita telefónica”, aumentou porque a gente vai a Urgências ou chega aos PAC solicitando atençom presencial.
“As autoridades sanitárias nom crem na cita telefónica nem na telemedicina. As consultas médicas baseadas exclusivamente na telemedicina som contrarias ás normas deontológicas. Gera incerteza e desigualdade. É imposível trabalhar com medo a que se nos escapem coisas A carga da incerteza torna-se insoportável quando as consultas som todas telefónicas. E tampouco há estudo nehum que sustenha que os centros de saúde som lugares de contágio. A situaçom na Galiza, pela incidência e a prevalência do vírus, é distinta a Madrid. A cita telefónica permite moitas coisas, mas também é unha barreira para moitas doentes”, resume Adolfo.
E chama a atençom sobre o tratamento doutras patologias e enfermidades que se esqueceram pela covid19. “Temos que exigir que o Ianus (a aplicaçom de gestom sanitária) permita fazer listados onde se poida interatuar, é possível fazer um listado de crónicos mas a aplicaçom nom permite engadir determinadas condiçons, por exemplo: ‘diabético maior de 60 anos e sem controle no último ano’. Haveriaa que ir dando preferência a determinados grupos e evitar que gente nova e sem patologias ameacem o pessoal de administraçom, como esta sucedendo, com ir o PAC ou a Urgências se nom som atendidos imediatamente. Deve-se abrir a cita presencial a maiores e crónicos. Cunha estrita ordem em tempo de consulta para evitar aglomeraçons de mais de seis pacientes por bloco e por tramos horários. Assim garantiríamos um mínimo diário presencial. Hoje só unha de cada quatro consultas é presencial”.
Na ediçom 2018 do Barómetro Sanitário (Ministerio de Sanidad) os parâmetros mais apreciados em Atençom Primária eram o trato do pessoal sanitário, e a confiança e seguridade que transmite o médico e o pessoal de enfermaria. Todo isso, advir-te Adolfo Pérez, “podemo-lo perder a golpe de consulta telefónica”. E prognostica: “ a barreira que creia esta situçom é saltada como sempre polos que podem ir a unha clínica privada onde a golpe de euros atendem-te aginha”.
“A gente nom assinala à Junta ou ao PP como os culpáveis, as críticas dirigem-nas a todo o pessoal dos centros de saúde. A nossa força está na gente, no seu agarimo e na sua proximidade, nom podemos perde-la… Nom é o momento de discutir, e menos de impor, modelos de atençom sanitária sem contar com um debate na sociedade civil”, apela o médico que dá voz a um amplo sentir entre os pressionais.
“Se isto demora, a gente vai marchar para a sanidade privada”
Testemunho de Pablo Vaamonde, médico de Primária no Centro de Saúde de Labanhou, na cidade de A Coruña, dous meses após o fim do estado de alarma que durou três meses.
Que melhorou?
A tentaçom é dizer que nada melhorou. Mas com relaçom ao início da pandemia, hoje temos equipamentos de proteçom, acesso rápido a testes de PCR e circuitos desenhados, estamos mais treinados e sabemos melhor como se comporta este vírus. A resposta que se dá desde a Atençom Primária é correta, mas escassa e insuficiente. Falta de meios… O serviço de Atençom Primária, que estava num momento mui difícil, já estava mal antes da pandemia, e agora está pior do que estava.
Que está pior?
Nom há mais recursos. Em muitos centros, como o meu, somos quatro médicos fazendo o trabalho de seis cupos. Neste centro, reconvertêrom a consulta presencial, que é como deve ser uma consulta de saúde, em telefónica ou telemática. É um déficit… porque a visom, a exploraçom, a anamnese som umha parte importante do encontro médico-paciente e da resposta do médico. Seguimos a carecer de pessoal e de tempo… Estamos mui sobrecarregados, e quando falta um companheiro, ter que atender de pessoas que nom segues já é difícil, mas fazê-lo através do telefone, mais ainda. Aumenta a incerteza na toma de decisons. Muitas vezes duplicas a consulta, porque nom se consegue resolver por telefone e tes que mandar vir o paciente.
A carga de trabalho vem pola atençom à COVID?
Estamos mui focados nisso, sim. Parece ser a única patologia que existe. Está adoecendo e, com certeza, morrendo gente de outras patologias porque se deixou de fazer o acompanhamento de enfermagem e o acompanhamento das pessoas crônicas. Nom pola nossa culpa… isto está nas mãos do Concelheiro. Basta com dizer-lhe ao técnico informático que cambie a resposta que dá o sistema quando for solicitada umha consulta, que em vez de umha consulta telefônica saia consulta presencial. No meu centro, também lidamos ca detecçom de contatos ou de casos associados. Pedimos a cada positivo que faga umha listagem de nomes, apelidos e números de telefone das pessoas com quem tiveram contato nos dous ou três dias prévios. Nós nom podemos fazer o rastreio porque eu atendo de mais de quarenta pacientes diariamente. O que lhes dizemos aos positivos é, primeiro, que eles se isolem na sua casa, e depois, que chamem ao telefone dos rastreadores, supostamente há seis mil… para que eles avaliem que contatos devem fazer o teste. Nom sei onde estám os rastreadores nem temos comunicaçom com eles. Nom sabemos o que acontece despois…
Existem listas de espera na Atençom Primária?
Polo que me chega a mim, em muitos centros já existem. E nom só para consulta presencial, também para consulta telefónica.
Nom é umha imprudência nom citar as pessoas para consultas presenciais?
Nom podemos fazê-lo de súpeto, mas sim progressivamente. Temos que reiniciar a consulta presencial. Nom podemos continuar tendo à gente depois de tantos meses sem poder vir ao centro de saúde para fazer exploraçons, provas, acompanhamentos de pacientes crônicos… Nom acontece só nos centros de saúde, há muitos serviços hospitalares que também estivérom parados.
“Os meios som escassos e estám focados no COVID, insisto, e veremos um incremento doutras patologias de jeito inevitável”
Por que está acontecendo isto?
Por que existe medo. Entre profissionais, é claro, e porque as autoridades políticas temem que a COVID se espalhe polos centros. Esse medo é infundado. Nos centros de saúde podemos, sendo prudentes e com medidas de proteçom, fazer consultas presenciais.
Como de urgente é reiniciar?
Acho que deve ser feito já. Quanto mais esperemos, mais difícil será o futuro da Atençom Primária, que deveria ser o centro do sistema. Mas com as medidas atuais, a deterioraçom é rápida entre que temos pouco pessoal, porque nom é substituído, e temos pouco tempo para outras patologias que nom sejam a COVID; entre isso e que ademais estamos a colocar umha barreira física… se isto demora, a gente vai marchar para a sanidade privada.
Todos?
Há gente que contrata seguros privados, há quem vai diretamente a Urgências e há gente que piora na casa porque nom tem capacidade…
Lembrará os aplausos? Esperava estar assim cinco meses depois, sem reforços, com sobrecarga de trabalho?
Eu nom esperava que isto alcançara a dimensom que alcançou nem que durasse tanto. Desejava que tudo acabasse em pouco tempo. Nom vou repassar os erros. A abordagem foi a correta, o confinamento funcionou para evitar o colapso da assistência médica no auge da pandemia. Conseguimos freá-lo. O vírus nom circulou daquela, mas hoje circula. Há setores da populaçom que ainda estám em pânico e há outros que têm um comportamento frívolo com este problema. Os meios som escassos e estám focados no COVID, insisto, e veremos um incremento doutras patologias de jeito inevitável.
Quanto tempo dedica cada dia a tratar a COVID?
Numha jornada normal dedico a metade do tempo à COVID e a outra, ao restante das patologias. Existem dias que pido oito ou dez testes de PCR.
Onde haveria que incidir neste momento?
A estratégia passa por detectar casos rapidamente, isolá-los, rastrear contatos e, no caso de positivos, isolá-los… Precisamos entender que vamos conviver com isto por um tempo. O vírus atenuou-se nos seus efeitos, mas vai continuar a circular, igual vem para ficar. Na Atençom Primária, som necessários recursos e coordenaçom com as equipas de rastreadores e com Saúde Pública, e devem ser fortalecidas as equipas de epidemiologia para monitorar. E é preciso recuperar nos centros de saúde e hospitais umha certa normalidade. Isso há que reclamar-lho à Administraçom.
A batalha vai durar mais tempo do que se pensava… como está o pessoal fisicamente e mentalmente?
A situaçom é tensa, prolongada e tem umha carrega emocional evidente e muita incerteza. Nom há prazos para voltar à normalidade nem dispomos de terapia para curar. Os meios que temos para combater o vírus som vigilância, detecçom, seguimento… Claro que estamos cansados; mas o desgaste faz parte do nosso ofício.
https://adiante.gal/termos-un-sistema-sanitario-publico-forte-e-unha-bendicion-pero-eu-iso-xa-o-sabia/ [Adolfo e Pablo contárom a sua experiência durante os primeiros dias da crise nesta reportagem publicada no portal Adiante o 29 de março de 2020, duas semanas após o decreto do estado de alarma]