A política é a ciência e a arte de governar um Estado, e política som os princípios diretores da açom dum governo. 

Os princípios diretores da açom dum governo aprendem-se, transmitem-se e constroem-se nos modelos sociais. Nas escolas, nas famílias, nos espaços comuns. No desporto. 

O desporto é política. 

Eu aprendim a entender a política no rúgbi. Depois de 10 anos jogando, de ter vestido as cores de seis equipas, aprendim formas de gerir coletivos e jeitos de entender o rúgbi mui, mui diversos. Nunca contabilizei as horas que dediquei ao rúgbi, pero a dia de hoje adestro 8 h por semana numha equipa que joga na máxima categoria do estado, jogo partidos aos fins de semana (às vezes viajamos 14 h, 7 ida e 7 volta; às vezes jogo dous partidos no mesmo fim de semana), e ademais passo muitas, muitas horas com as companheiras da equipa falando de rúgbi. Se tivesse dedicado o mesmo tempo à universidade teria carreira, mestrado e doutorado. Mas o rúgbi é outra cousa. 

No rúgbi aprendim política. Há equipa em horizontais em que há roles (capitã, adestradorxs, jogadoras, delegada, árbitro etc), mas nom há hierarquias. Todas as pessoas somos importantes, as veteranas cuidam das novatas e todas temos valor. Também há equipas em que quando o adestrador di algo nom se pode questionar, em que às novatas se lhes recorda constantemente que o seu lugar na pirámide está abaixo. No rúgbi aprendim política. Aprendim que há equipas em que existem os privilégios e que as 15 jogadoras titulares adestram mais que as da segunda equipa. Que há equipas em que cada jogadora é cuidada, valorizada e adestrada para que chegue a ter todas as ferramentas para ser umha jogadora excecional. 

No rúgbi aprendim política. Aprendim cuidados. Acompanhar-nos ao hospital, ajudar-nos nas lesoms, quedar para falar da vida, escrever-nos antes dumha data importante, apoiar-nos nos nossos projetos. Aprendim autogestom. Organizar o terceiro tempo para convidar a comer e beber a equipa contrária. Aprendim respeito. Mas também aprendim a nom dar nada por assente, porque nom é o rúgbi, som as equipas e as pessoas. O rúgbi ensina-nos umha cultura, os clubes fam política e levam a cabo as açoms segundo uns princípios ou outros para governar as suas equipas. 

O económico como secundário.
Os cuidados, a aprendizagem e a
diversom como prioritário.

No rúgbi eu aprendim a fazer política. Entendim a anarquia, mesmo antes de saber que se chamava assim. Apoio mútuo, organizaçom nom hierárquica, baseada em roles e autogestom, cuidados, trabalho diário para aprender, melhorar e construir cambios. O económico como secundário. Os cuidados, a aprendizagem e a diversom como prioritário. E graças a que no rúgbi aprendim a ser forte em coletivo, aprendim a querer-me, cuidar-me e crer em mim. Continuo nisso. 

Quando conhecim o autoritarismo, soubem que havia outra cousa. Quando vivim em competitividade, eu sabia que podia haver colaboraçom. Quando vim preconceitos, sabia que há lugares onde a gente te valoriza por seres quem és, sem te julgar. Quando vim que há lugares em que há classes eu sabia que há outros sítios onde quem menos sabe é cuidada por quem mais experiência tem, quem está na posiçom vulnerável é mais apoiada. Assim se formam as famílias. No rúgbi aprendim como quero viver, de quem me quero rodear e como quero organizar-me. Poderia dizer muito mais, mas para entende-lo há que joga-lo. Só quero dar as graças a este desporto tam especial em que as gordas som felizes com o seu corpo, a masculinidade e a feminidade redefinem-se, tratamos o árbitro por “senhor” e só a capitám pode falar com ele, batemo-nos e rimos depois comendo e bebendo e, sobretodo, podemos aprender que a vida é outra cousa. 

Tirado de Revirada Revista Feminista.