(Imagem: Santiago Martínez, ex-número 2 do Ministério de Interior) O nome de Santiago Martínez nom foi ainda muito popularizado pola imprensa do Regime, nem tampouco a sua mais que possível vinculaçom com escándalos de corrupçom nos esgotos do Estado. Menos ainda o seu importante papel na tentativa de desorganizaçom e ilegalizaçom do independentismo galego, como um dos máximos responsáveis de Interior na ‘Operaçom Jaro’. Na passada semana, com o levantamento do secreto sumarial da ‘Operaçom Kitchen’, sabíamos que um dos seus principais promotores está baixo a lupa da justiça.

A investigaçom judicial posta em andamento com o nome de ‘Operaçom Kitchen’ pretende desvendar as responsabilidades de vários dirigentes do PP na espionagem a Luis Bárcenas, relacionada com a blindagem do partido ante hipotéticas inculpaçons dos mais altos responsáveis. Neste momento, a fiscalia está a pedir a imputaçom de Jorge Fernández Díaz e María Dolores de Cospedal, e para tal imputaçom assinala o papel fundamental na trama de Francisco Martínez.

Deslocado do poder

Santiago Martínez é o típico político da direita espanhola que nom desentona com os seus colegas: de formaçom universitária e perfil tecnocrático, poderia passar desapercebido entre os milhares de burocratas que engraxam o Reino de Espanha. Nascido em Madrid em 1975, formou-se na Universidade Pontifícia de Comillas, típico destino académico dos fihos e filhas da burguesia vinculada à Igreja Católica. Trabalhou como professor nessa mesma universidade, até que entrou no aparelho de relaçons internacionais do PP e, posteriormente, no Ministério de Interior como Secretário de Estado de Segurança. Os seus anos no Ministério coincidem com duras condenas a independentistas galegos e galegas, dispersom penitenciária, e operaçons policiais contra militáncia política pública e legal.

Agora, a sua carreira política entrou no crepúsculo. Segundo documentos revelados por elDiario.es, várias notas da autoria de Martínez certificam a sua participaçom protagonista na trama que, utilizando recursos ‘públicos’, policiais, organizava a espionagem contra o próprio Luis Bárcenas, tentando evitar todo filtrado de informaçom que comprometesse o grande partido da direita. Desde que a pesquisa se fijo pública, a finais de 2018, o ex-número 2 de Interior viu-se na obriga de abandonar a política activa. O novo PP de Casado eliminou-no das listas eleitorais e perdeu mesmo o seu posto de deputado. Em documento pessoal, reconhece que a nova situaçom está a supor-lhe uns ‘grandes custes pessoais’.

Polícia política

Normalmente, com o nome ‘polícia política’ fai-se alusom às brigadas de informaçom de polícia e guarda civil, dedicadas à espionagem e perseguiçom, quando se considera pertinente, dos movimentos rupturistas e revolucionários que desafiam o Estado. Nos últimos tempos, e particularmente desde o governo Rajoy, o termo ganhou amplitude. A ‘Operaçom Kitchen’ revela que parte do governo espanhol estava a recorrer a serviços policiais para vigilar os seus próprios rivais dentro do sistema institucional espanhol, e mesmo indivíduos díscolos do próprio PP.

De Cospedal e Fernández Díaz, dous dos investigados na Operaçom Kitchen

Um dos cometidos desta rede paralegal era a eliminaçom de provas que Bárcenas agochava, implicando a dirigência do PP na trama corrupta. Para tal fim, a trama policial chegou a contratar os serviços dum delinquente comum, que teria que entrar na morada de Bárcenas a roubar material informático comprometedor.

Na procura de protecçom

Os primeiros indícios da trama partem dum dos comissários de tal polícia paralela, que acusou Jorge Fernández Díaz de pôr em andamento a rede de espionagem. Ante a resposta do ex-ministro, que declarou ‘que nom lhe constava para nada tal cousa’, Martínez considerou que o seu anterior chefe deixava sozinhos os seus subordinados. Como medida de protecçom, Martínez decidiu apresentar ante o notário o conjunto de SMS que intercambiou com o Ministro de Interior, e que posteriormente o Diario.es também deu à luz.

De maneira que no verao de 2013, curiosamente nos mesmos meses que Santiago Martínez pressionava publicamente a um tribunal pedindo a declaraçom da resistência galega como ‘grupo terrorista’, recebia ‘instruçons mui concretas’ para investigar a Luis Bárcenas. Som palavras literais de Martínez que se recolhem na instruçom da Operaçom Kitchen, e que coincidem com a descoberta das contas em Suíça de Luis Bárcenas. Na altura, o ex-responsável das finanças do PP contra-atacou ao seu aparelho de partido com informaçom comprometida. Bárcenas apontava a existência de doaçons ilegais e sobressoldos em negro, e ameaçava com ‘apresentar provas’ desde a cadeia de Soto del Real. A primeira delas ia ser a mensagem enviada ao próprio Bárcenas por Mariano Rajoy, o sms com as palavras ‘se fuerte’.

Ciente do perigo que corre, Martínez deixa de parte qualquer lealdade aos seus antigos superiores, procurando salvar-se a todo preço : ‘se me citar o juiz hei de ser muito claro em todas as explicaçons, e entregarei todo o material provatório que puider achegar. O que ninguém pode pretender é que seja umha espécie de mártir dumha causa que nom é a minha’, diz numha das cartas que a polícia atopou na sua pesquisa.

Existência dumha ‘polícia política’ é reconhecida já pola mídia empresarial

Dado que Martínez, como alto funcionário que foi do Ministério de Interior, conhece a engrenagem da justiça, propom no mesmo documento algumhas estratégias dilatórias, no terreno da alegalidade, para evitar a consumaçom da causa : procurar que o caso nom progresse, deixando-o ‘dormido’, e tendo em conta que o principal acusado ‘está muito doente’ ; já no terreno da ilegalidade, Martínez recomenda tocar ‘pessoas com umha relaçom muito estreita com o titular do julgado (exemplo, Zoido). Também deveria haver pessoas com capacidade de chegar aos fiscais, que estám obsessionados com esta peça, por vingança, por afám de notoriedade.’ Cumpre lembrar neste ponto que o titular do julgado número 6 da AN é García Castellón, que fora ascendido a juiz de enlace em Paris e Roma polo governo Aznar.

Políticos rivais e controlo da imprensa

Além do trato de cercania e familiaridade entre políticos do PP e juízes que devem o seu posto à obediência à direita extrema, Martínez também propom na sua carta como manejar e influir nos rivais políticos. Lamenta que o actual ministro Grande Marlaska continue a ‘desclassificar documentos’, e afirma que se o fai é por ‘conseguir pedigree socialista diante do presidente’. Em qualquer caso, anuncia que de seguirem a desclassificar-se e libertar secretos ‘vai ser sobre todo, nom só sobre o que a mim me pode prejudicar. Precisamente, a minha defesa estará baseada nesta libertaçom do secreto sobretodo aquilo que puider justificar que eu nom actuei fora da lei, e que cumprim instruçons’

A Martínez tampouco escapa a importáncia do controlo mediático, e no seu documento enfatiza: ‘se houver notícias na imprensa sobre este assunto, deveriam fazer-se declaraçons de apoio, no canto de ‘pôr-se de perfil’. E despejando qualquer dúvida sobre a alegada independência da imprensa, aconselha que ‘cumpriria dar um toque’ aos jornalistas que, baixo o ditado do actual Ministério de Interior ‘socialista’, estám a ‘fazer ruído com este assunto’.

Martínez e a perseguiçom ao independentismo

Num interessante fio, o twitter das e dos encausados na Operaçom Jaro recorda algumhas das declaraçons mais sonadas de Martínez em relaçom com o independentismo. Particularmente, a conta traz à tona a importante implicaçom de Martínez na Operaçom Jaro, desde que ele ocupava o posto de Secretário de Estado para a Segurança quando a guarda civil, em 2015, irrompeu na morada de dez militantes de Causa Galiza, detendo-os e conduzindo-os a Espanha para declararem na Audiência Nacional.

Desde entom, e desde o 2017 no caso de Ceivar, os seus e suas activistas enfrentam um pesado processo, que poderia desaguar mesmo em ilegalizaçons.

Aliás, se Martínez demonstra nom acreditar em absoluto na independência judicial no caso da ‘Operaçom Kitchen’, também o demonstrou em 2013, quando, ante o juizo de quatro militantes galegos e galegas na AN, pressionou o tribunal para a declaraçom da resistência galega como ‘grupo terrorista’.