(Imagem: María Rodríguez na homenagem às vítimas. Foto Colectivo Amanhecer) Seis meses depois de detectado o gromo de covid19 na Residência Sam Carlos, o primeiro num centro de maiores na Galiza, que afectou 82% das usuárias e mais da metade das trabalhadoras, a activista advirte:“Isto nom rematou, as deficiências continuam, os problemas medrárom e non se vê ajuda por nengures”.
REDE assinala que em Cela Nova dá-se umha circunstáncia particular que permitirá que o concelho poida participar da gestom do centro, e as famílias também trabalham para estarem presentes nos órgaos de gestom.
‘Foi tanta a tensom…tanta, que nom tenho claras nem as datas nem quando tivo lugar esta ou aquela conversa. Lembro que para mim todo empeçou no 11 de março, quando fechárom a residência às visitas. Seguim a falar cada dia com a minha tia. Tratei de explicar-lhe a situaçom. Há um vírus muito forte e nom podemos entrar, é o que temos que fazer para proteger. Maria Rodríguez (Cela Nova, 1978) converteu-se em activista em questom de semanas. Primeiro, de maneira natural : começou a colaborar com a residência a procurar materiais, a organizar um grupo de voluntárias, a ajudar a outras famílias a manter o contacto naqueles dias terríveis. ‘Eram dias de 24 horas a pensar na residência, no que estava a passar dentro. Dias de impotência e raiva. Ninguém podia imaginar o que nos vinha enriba.’ Depois, de maneira consciente : integrou-se em REDE (Federaçom Galega de Famílias de Usuárias de Residências), entrevistou-se com políticos, participou da delegaçom de familiares que visitaram o parlamento galego, e organiza a homenagem mensal em Cela Nova às vítimas da covid no centro de maiores, cada dia 11, para lembrar às onze pessoas que falecêrom lá entre março e abril. No dia 18 cumprírom-se 6 meses desde declarar-se o surto.
Mudárom muitas cousas ? As necessárias ?
Mudárom, e muitas. Mas eu diria que o fundamental, nom. A atençom às maiores segue pendendo dum fio. Nom se dotou à residência de mais pessoal, seguimos sem serviço de enfermagem 24 horas, os médicos apenas entram a avaliar o estado de saúde das residentes…e isto, depois do que passárom, porque já nom é apenas a covid, som outras patologias as que se agravárom, nomeadamente no que atinge à saúde mental. A residência de Cela Nova segue abandonada polas administraçons públicas. Queixamo-nos quando começou todo de nom a terem intervido, como se passou em outras com incidências similares ; agora seguimos orfas, as famílias, as trabalhadoras, até mesmo o padroado. Há umha iniciativa municipal em andamento, porque esta residência é peculiar. Nasceu dumha doaçom, e umha parte dessa doaçom foi ao Concelho de Cela Nova através da figura do alcalde. Essa é hoje em dia a nossa porta à esperança, a normalizar a situaçom dentro da nova normalidade, e melhorar em todo : atençom, recursos, condiçons laborais, transparência na gestom. Nessas estamos, mas o dia 19 soubemos por algumhas famílias que lhes estavam a fazer testes a residentes. Nós já com o material e com voluntárias, soubemos que a enfermeira titular apanhara a baixa dias antes de se fechar ao centro. E soubemos da primeira vítima, umha senhora que derivaram para o Hospital de Ourense no dia anterior. Eu informei-me disso pola facebook da residência. Depois contárom-me que naquela mesma noite do 18 entrou um médico e mandou duas trabalhadoras para a casa por sintomas da covid e foi ele quem decidiu o translado da mulher. No dia 20 começárom a chegar os resultados dos testes. Primeiro, que se onze residentes contagiadas…eu falei com a directora. Ali ninguém botava umha mao. Quando começárom as baixas, eu mesma lhe conseguim o telefone dumha ETT para lhe passar contactos de enfermeiras. Porque resulta que a enfermeira substituta renunciou no dia 20, superada polo que estava a passar-se. Depois estivemos dias sem enfermeira nenhuma. Nenhuma! Nos momentos mais críticos da crise, a Residência de Cela Nova passou-se um mês sem enfermeira. É umha cousa criminosa…nom lhe parece ?
No dia 23, segunda feira, veu todo à tona, apareceu a UME, aparecêrom os meios, falou Feijoo…
Os responsáveis políticos parece que se começárom a mover no domingo 22. Entre a Junta, a Subdelegaçom e o alcalde trouxérom à UME. O alcalde tirou um bando a dizer que a UME se ia fazer cargo da residência. Enganárom-no e enganou-se. Com o alcalde, as famílias falamos muito depois. Dixo-nos que fixera isto e aquilo. Nom sei…saímos da reuniom com a impressom de que nom nos escuitou, aqui as únicas heroínas que há som as trabalhadoras.
As mesmas que naquela segunda feira saírom à porta da residência a berrarem ‘necessitamos maos, nom burocracia’?
Exacto.Essa manhá tinham mais de cincuenta residentes ao cargo. Alguns contagiados, outros nom, elas mesmas com companheiras de baixa, mais da metade do pessoal. A UME chegou e dixo que apenas vinha desinfectar. Daquela, decidírom sair e falar diante dos meios que vinheram acompanhar os militares. Falei com a encargada nessa mesma manhá, justo antes de que falasse diante dos meios. Estava a chorar, desesperada, estavam sozinhas, oito trabalhadoras sem saberem que havia que fazer, ninguém dizia nada. Pensamos que a UME ia intervir. Nom está para isso. Essa manhá compreendemos que se o SERGAS ou Política Social nom botavam mao daquilo, ia ser umha hecatombe. Nom o fixérom. Às que estavam vivas, salvárom-nas as trabalhadoras. As cinco que ficaram, e todas as que vinheram depois. Elas som as heroínas.
Depois a Junta arbitrou umha soluçom
Naquela segunda feira começaram a acondicionar um centro em Banhos de Molgas que estava sem inaugurar. Na terça, enquanto o presidente da Junta dizia em rolda de imprensa que os patrons da residência eram muito maiores e viram-se superados, botando-lhe o morto acima, começárom a sacar os positivos, acho que foram onze nessa tarde, para Banhos de Molgas. As famílias nom sabíamos o que se passava, informavam a cada umha por separado, a directora estava a trabalhar desde a morada porque foi umha das contagiadas.
Houvo momentos em que nem elas nem nós podíamos dar mais…de Banhos de Molgas nom houve comunicaçom com as famílias até umha semana depois. A umha das familiares chamárom-na para lhe dizer que a sua tia estava muito bem e comia pola sua mao, que comera judias e um bisté…a senhora levava dous anos a comer purés e com ajuda. Imagine-se, aquilo pareceu-me improvisado, como para se removerem o problema de enriba. Depois resultou que aparecêrom mais positivos entre os residentes e nom os levárom a todos. A minha tia ficou em Cela Nova.
Por que nom a transladárom?
Ficárom ela e sete mais. Dixérom que Banhos nom estava aconcidionado para grandes dependentes. Eu já nom entendia nada : ou nos sacam a todos, ou a nenhum…pensei que iam medicalizar a residência. Nom havia nem sequer enfermeira! As trabalhadoras seguiam sem ter descanso…fôrom caindo. Lógico. Para as famílias o medo aumentou, havia problemas para falar com os nossos. Eu botei três dias sem poder falar com a minha tia.
Ficaram em maos das trabalhadoras
si, porque as autoridades desaparecêrom. A directora continuava a tirar de listas de ETT e de outras que lhe passárom da Mancomunidade para procurarem pessoal. Nom se topava. Mas em Banhos abrírom um centro em três dias…nessas semanas tínhamos boa sintonia com as trabalhadoras. A cousa torceu um bocado quando começárom a regressar anciaos da corentena de Banhos. A nós diziam-nos umha cousa, que os maiores vinham mal, alguns mesmo com golpes, parecia que nom se alimentaram bem… e na imprensa apareceu a residência, trabalhadoras, porque nom havia ninguém mais à frente, dizendo que todos estupendos, que muito contentes. Aos poucos dias algumha das anciás que regressárom de Banhos tivo que ser derivada ao hospital. Naquela altura, acho que as trabalhadoras estavam submetidas a muita pressom, que se pugérom num lugar, entre as maiores e as famílias, que nom era o que correspondia. Entom pensei que teríamos que berrar sozinhas as famílias. Houvo distanciamento e levou tempo recompor a confiança. Nesta residência conseguimo-lo. Acho que somos afortunadas.
Ajudou a isso o desconfinamento? Foi todo bem nessa fase?
A primeiros de maio a residência ficou oficialmente livre de covid. As primeiras visitas fôrom tensas, sobretod, pola situaçom sanitária e pola peleja que mantivéramos por denunciar o que acontecera dentro…nós faziamo-lo com o fim de chamar a atençom sobre a residência, que nunca foi intervida, insisto, mália que o precisava. Houvo algumhas irregularidades: devolvêrom do hospital um covid e a residência nom protestou, mantivérom umha residente sa durante onze dias no andar dos covid, permitiu-se a entrada dum fotógrafo para tirar imagens edulcoradas quando ainda havia covids e nem as famílias podíamos entrar. Todo isto pujo a residência no foco.
Mas o desconfinamento correu bem, cumprírom-se as fases, e houvo regateios, mas foi-se acalmando a cousa. Todas entendemos que estamos aqui polo mesmo. Se calhar algumhas cousas nom se entendêrom. Em Cela Nova fomos as primeiras em pedir que se dera atençom em saúde mental aos residentes, mas fixemo-lo depois de pedir conselho e com o apoio do Movimento Galego de Saúde Mental. Em Cela Nova fomos as primeiras em sofrer o golpe, mas também temos sido pioneiras em muitas cousas boas.
Também querem ser pioneiras em conseguir que as famílias participem da gestom
Em certo modo é o modelo das ANPAS nos colégios. Já se dá em residências na Catalunha. Quando chegou o momento, sentamos com as trabalhadoras, e levamos dous meses a falar com elas, e sentamos com o Padroado. Começárom a entender o nosso labor todos estes meses. Queremos cooperar e coordinar-nos. Umha iniciativa política do BNG assinalou umha porta que estava aberta desde havia anos. Temos pedido entrar no Padroado, e pensamos que há vontade por parte dos patrons de modificar os estatutos para poder fazê-lo, e quando nós, os grupos políticos e as trabalhadoras. Cela Nova pode dar exemplo, sermos pioneiras também nisto, sim.
As homenagens em Cela Nova nom tenhem um carácter reivindicativo como em outras residências. Participam famílias e trabalhadoras e vizinhas, todas juntas. Como se chegou a isso?
Pensamos que a homenagem tem de servir para o que é, para as vítimas nom cairem no esquecimento. E cada umha rendemos respeito em silêncio, mas todas juntas. Penso que isto simboliza o ambiente social que se está a criar por volta da questom da residência. Os actos fôrom muito emotivos. Todas saímos muito reconfortadas. As famílias, por enquanto, somos poucas, mas cada vez mais. E vam incorporando-se trabalhadoras e a gente que sempre estivo aí.
Mas REDE advirte cada semana que a crise nom rematou, que falta em Cela Nova para fechar a crise?
Antes do mais, corrigir as carências. Cumpre mais pessoal, enfermeira 24 horas, serviço próprio de cozinha. Cumprem quartos para material e para acondicionar o espaço às novas exigências. Sabemos que há deficiências em ventilaçom e aquecimento. O mantimento é um problema a levar em conta, e nessa gestom devem botar umha mao o Concelho e profissionais. Por último, cumprem recursos para cadrar as contas. O que nom se deve fazer é subir tarifas sem mais, porque tem de haver outros recursos. A residência é um serviço público e deve sê-lo com todas as consequências. Penso que a presença do público ajudará a melhorar, e a crise da covid nas residências evidenciou que as públicas funcionam melhor.
E as forças políticas, botarám umha mao ?
Na medida em que tiverem ganhas de trabalhar, botarám. Há algumhas que já o estám a fazer.