Se nom podo negar que para todo o que for pessoa ciente e séria, inimiga de farsas, ostentaçom, e todo o que implicitamente denotar umha filiaçom política determinada, implicitamente leva consigo a obriga ineludível de seguir umha conduta que endejamais poida achar-se em contradiçom com as normas que o qualificativo presupuger.

Será nacionalista, chamará-se nacionalista, nom aquele que pertence a umha de tantas bandeirias políticas como existem ; nom se trata de ser simplesmente um de tantos entre o número mais ou menos grande de indivíduos que seguem tal marca ou bandeira política;ostentar umha marca que apenas em determinados momentos obrigar ; ter um nome com o que se dispensar dos mais que, como nós, nom pensam (…)

O tal qualificativo de todo isto tem, e mais ainda. Por isso mesmo, honrarem-se com ele é dispor-se a botar acima dos ombreiros a carga inescusável e nada ligeira duns deveres sagros, dos que nom se pode prescindir, e som a jeito dum imperativo categórico.

O nacionalista, a diferença do que acontece noutros credos ou bandeirias políticas, pode dizer-se que endejamais deixa de estar em funçons, em plena actividade. Para ele qualquer momento, qualquer instante, o minuto mais cativeiro do seu viver é aproveitável decote. Nom há situaçom nem existe acto no que ele poida deixar de estar agindo. A inactividade é a palavra que o nacionalista tem que desconhecer. E a dita palavra, o mesmo que acougo, sossego, transigência e outras, nom podem ter acolhida no nosso léxico.

Para um nacionalista todos os momentos devem de ser bons e todas as ocasions doadas para fazer labor de apostolado. Quem assim se chamar nom pode ter agardas nem deve adiar o seu trabalho. A tarefa de espalhamento da doutrina é tarefa para a que todo o tempo é ajeitado e conveniente. Por aquilo de que a Pátria sofre, e sofre sem acougo, sem trégua no seu sofrer é polo que a obriga do trabalho ininterrupto, sem pausa, fai-se terminante e decisiva. Laborando incessantemente minguam as dores da Pátria : um nacionalista, conhecedor deles, sabedor das suas mágoas, tem que desejar que desapareçam o antes possível. Para isso o remédio ajeitado é trabalhar sem acougo, pois só assim se acaroa a jornada salvadora do triunfo.

Baixo a etiqueta de outro qualificativo qualquer o indivíduo pode dormitar sem preocupaçom e sem inquietude, confiado, tranquilo. Baixo o qualificativo de nacionalista, nom, nom pode ser. Para que um assim se chamar nom pode haver mais tranquilidade que aquela que segue supetamente e supetamente desaparece, ao cumprimento dum dever. A desapariçom dum motivo de inquietude e desacougo deve de ser seguida pola iniciaçom de novos motivos do mesmo.

Como a soluçom do problema polo que luitamos os nacionalistas é umha soluçom que nom pode admitir estados intermédios senom que tem de ser total, definitiva, e esta soluçom acha-se integrada por diferentes resoluçons parciais, que à sua vez aparecem completadas e formadas por múltiplas circunstáncias, é muito natural que cada umha delas nom for senom umha insignificante paragem no constante lavourar, para tomar fôlegos com que iniciar as outras novas liquidaçons. Deste modo fica mostrada a verdade dos nossos assertos.

Mas ainda há mais, o nacionalista, se tem que sê-lo de verdade, se o apelativo tem de cobrir umha realidade e nom umha ficçom, deve de arredar de si todo sentimento egoísta de excessivo individualismo, para trocá-lo por aquele sentimento de irmandade que fai olhar, em todos os irmaos que se orgulham com o mesmo qualificativo, verdadeiros irmaos, e que obriga, polo mesmo, a proceder em consequência. (…)

Intransigência, inflexibilidade, firmeza no ideal, som três características que devem de adobiar o que se chama nacionalista. Nos outros ideais podem admitir-se variaçons momentáneas, arranjos oportunistas, atenuantes circunstanciais segundo o demandarem as circunstáncias do momento. No nosso ideal, nom. A sua luz, desde que alumeou os nossos cérebros e feriu os nossos coraçons, marcou-nos um caminho que, demore mais ou menos, havemos de percorrer. Este caminho leva em direitura ao triunfo; desviar-se dele seria causar um adiamento deste, e como os adiamentos só serviria para que com o retraso do triunfo aumentassem os dias de escravizamento da Pátria, velaí porque todo o que nom for ir em direitura ao nosso será prejudicial, e polo mesmo, francamente condenável.

Há outro detalhe que, todo o que se nomee nacionalista, tem que ter muito presente. Este detalhe é a necessidade do renunciamento. O bom nacionalista, melhor dito, o nacionalista simplesmente (…) tem que achar-se decote disposto à renúncia decote de todo aquilo que, ainda suponhendo vantagem para ele num senso que se nom regira à sua economia individual, particularíssima, poida restar energias à empresa sagra da redençom pátria.’

A versom completa deste artigo foi publicada originalmente n’A Nosa Terra, novembro de 1920.