Roi Cuba é na actualidade o vicepresidente de ADEGA, e combina a sua implicaçom no activismo em defesa da Terra com a afeiçom pola ornitologia. Biólogo de formaçom, oferece-nos algumhas chaves para nos aproximarmos ao mundo das aves. Além dum prazer para os sentidos, Cuba insiste no valor deste tipo de fauna para conhecermos o estado do nosso meio natural.
Como te inicias no estudo e na defesa da natureza?
Eu som biólogo de formaçom, mas o meu interesse vem de atrás. Já desde cativo estivem muito aproximado à natureza. Lembro que o primeiro que me chamara a atençom foram as labouras da horta, logo as espécies de árvores…comecei muito devotado à botánica, pois ainda que som de origem urbana fum morar ao rural quando estudava ensino meio. Logo, o meu interesse dirigiu-se para as aves que é o ámbito ao que hoje dedico mais tempo, ainda que como afeiçoado.
Em relaçom com esta querência pola natureza impliquei-me no compromisso ecologista. Sendo bem novo, recordo que me chamou a atençom umha campanha de ADEGA para a eliminaçom de exóticas invasoras, gostara muito da iniciativa. Ao rematar a carreira, decido-me a entrar em contacto com a delegaçom em Lugo da associaçom, e até hoje, aqui estou participando, levo já oito anos. Hoje som o vicepresidente, se bem isto nom quer dizer que tenha umha implicaçom superior a outras companheiras ou companheiros.
O público apriori interessado na natureza, parte dele urbano, quiçá nom conheça tanto como gostaria o mundo das aves na Galiza. Que lhe poderias dizer, em poucos traços, desta tua paixom?
Permite-me começar com umha obviedade. O traço principal das aves é que nom entendem de fronteiras, porque voam; mas si é certo que podemos apontar algumhas singularidades de localizaçom. Habitamos o suroeste da Europa e o noroeste da Península Ibérica, um área especial, desde que somos passo obrigado para muitas aves marinhas que tenhem de bordear os cabos. Recordemos aliás que a Galiza tem muitos kilómetros de costa, e que o seu perfil é mui característico. Temos umha especial intersecçom de mar e terra, as rias biologicamente som enormemente ricas, logo há esteiros, umha densa rede fluvial, humidais.
Cumpre salientar aliás outros traços de nosso: somos umha área climaticamente atlántica mas em transiçom cara o mediterráneo, zonas do sul som temperadas e permitem o hábitar de outro tipo de espécies; o mesmo acontece em fundos de vales, em que a temperatura sobe uns graus frente o contorno. Além disto, na nossa terra conservam-se zonas de natureza relativamente virgem, refiro-me aos cordais montanhosos, onde há espécies singulares que logo podemos comentar.
Como em outras partes do mundo, temos aves que chamamos residentes, temos migratórias (que podem ser de inverno ou estivais), e logo as de passo. As primeiras, nem cumpre explicá-lo, moram entre nós todo o ano. As que passam aqui o inverno criam no norte, mas logo baixam até aqui quando o clima é mais rigoroso, porque normalmente as suas zonas originárias ficam cobertas polo gelo; e finalmente, as estivais criam na Galiza, mas com o rigor do nosso inverno prefirem passar estes meses no sul do Saara. Finalmente, as aves de passo, quer aquáticas, quer terrestres, limtam-se a parar pontualmente para conseguir alimento, e continuam a sua viagem.
Dito isto, e ainda reconhecendo a singularidade da Galiza, cumpre dizer que nom há nenhum área do mundo má para a observaçom das aves. Todas tenhem os seus traços estimáveis, e por isso a ornitologia é umha actividade tam democrática, qualquer pode praticá-la.
Como está a afectar às aves a mudança climática?
Som enormemente sensíveis ao clima, e por isso som tam bons bioindicadores. Há umha disciplina chamada fenologia, que é a que nos indica em que época do ano acontecem fenómenos naturais. Um deles seria a chegada das aves migratórias, e por exemplo, isto quer dizer que com a ampliaçom dos meses cálidos, com temperatura de verao, certas migratórias iriam chegar antes à nossa Terra, ou marchar mais tarde. Logo, a mudança climática tem efeitos mais negativos. Nom assinalaria rotundamente extinçons, porque as extinçons adoitam ser produto dumha combinaçom de factores.
Mas imos assinalar alguns problemas graves: um é o dos incêndios, muito de actualidade. Se bem a maioria das aves, se nom som crias, podem fugir do lume, o território calcinado nom as acolhe mais, entom mudam de zona, e na zona à que chegam vam-se produzir desequilíbrios no ecossistema, sem dúvida.
Logo, pensemos que a vegetaçom está a mudar por causa da suba das temperaturas, e esta ruptura de equilíbrios de hábitat e alimentaçom afectará-as sem dúvida. No caso das aves marinhas, a suba do nível do mar pode rematar com as melhoras zonas para algumhas aves. Por dar-che um exemplo, a pílhara das dunas estaria em perigo num contexto em que o mar cobrisse amplas faixas de terra.
Que zonas de especial interesse recomendas para a pessoa que se quiger iniciar na ornitologia?
Com certa disposiçom de material, de recursos técnicos, a zona mais afamada do nosso território é Estaca de Vares, o ponto mais nortenho da Península. As aves migratórias fam o seu percurso muitas milhas mar adentro, mas ao tratar-se dum cabo, vem-se na obriga de passar perto dele, o que oferece umhas oportunidades de avistamento excepcional. Por vezes dam-se mesmo registos infrequentes, por che dar umha anedota, no agosto passado puido-se ver em Vares um petrel anibranco, espécie ausente da Galiza e da Europa, procedente do hemisfério sul. E por algumha razom que desconhecemos avistamo-lo na nossa latitude.
Considero Vares, porém, umha zona mais para especialistas. Para iniciar-se eu recomendaria a Ria do Burgo, que tem um passeio a modo de divisória, e fai com que as aves nom estejam tam pressionadas por animais domésticos, os cans, sobretodo. É um terreno mui bem delimitado, e para o inverno é óptima para avistamentos.
Logo temos a opçom da montanha, o hábitat ideal para ver abutres, rapazes, e também as aves associadas à agricultura tradicional. Essas vemo-las mais pertinho das aldeias, das zonas cultivadas, que dos bosques, porque estám em simbiose. Quem quiger subir aos cúmios, poderia avistar por exemplo abutres, que nom som mui abundantes na Galiza, mas existem.
Qual é a situaçom da ornitologia na Galiza?
A afeiçom vai a mais, como está a acontecer em todo o mundo. Por dar-che um dado, no Reino Unido estima-se que é a primeira afeiçom da sociedade, mesmo por diante do futebol. As marcas de material óptico ganham muito por este motivo. E é que a ornitologia é doada, podemos ver aves com facilidade, a diferença de outro tipo de fauna. E mesmo se nom as vemos, podemos escuitá-las. E até para a pessoa que nom as reconhece, é um prazer sensorial.
Acho que as novas tecnologias ajudárom. Pujo-se em andamento umha plataforma, de nome E-Bird, que se basea num sistema muito singelo. Qualquer pessoa pode observar, anotar, e subir a umha listagem para ser partilhada com todo o mundo. Logo, há uns revisores que comprovam os avistamentos, para dar-lhe rigor. A ornitologia democratizou-se enormemente.
As pessoas que se quigerem formar online sobre a nossa natureza, mormente em galego, podem fazê-lo em blogues muito interessantes. Por citarmos apenas alguns, recomendaria-che https://avesenaturezadafonsagrada.blogspot.com/, https://sanxenxobiodiversidade.blogspot.com/,
https://avesdelariadoburgo.blogspot.com/ ou https://bichosedemaisfamilia.blogspot.com/.
Que grandes ameaças enfrentam as aves na Galiza?
Som muito variadas. A caça é umha delas. Outra seriam as marés negras; nom apenas as grandes, que conhecemos, mas os chamados ‘sentinazos’, aqueles barcos que lavam os tanques no mar, do que nos enteiramos porque avistamos aves mortas, petroleadas, manchadas…antecipam umha catástrofe, de maneira que podemos evitar que esse resíduo chegue à costa se as divisamos a tempo.
Logo, como as aves podem deslocar-se tantas distáncias e escolhem hábitat, sabemos que quando nom habitam umha zona é que está muito danada, ou quanto menos que há problemas ambientais graves. No agro, por exemplo, dam-nos prova de excesso de pesticidas e simplificaçom de ecossistemas. Elas padecem muito todo monocultivo, for de eucalipto, de milho, de prado simplificado, sem riqueza…os sisons, por exemplo, som um ave estepária que quase desapareceu da Galiza, na Límia está extinta, e sobrevivem poucos exemplares na Terra Cha, precisamente por isso, pola falta de alimento derivada dos monocultivos.
Também existe um outro problema nom muito conhecido, o das exóticas invasoras. Aves alheias, normalmente domésticas, que fogem e desaloxam as autóctones, nomeadamente nas cidades. Assim acontece por exemplo com as cotorras em cidades como Vigo.
A sensibilidade social poderia ser mais grande, resta muito por fazer. A gente pensa nas aves como algumha cousa alheia à nossa vida, mas permite-me dar-che alguns dados: umha família de ferreirinhos, esses paxarinhos pequenos, pode comer num ano 14 milhons de insectos. Há melhor prevençom contra eles? E um ave como a coruja devora até 5000 roedores ao ano. Na cidade de Lugo existe a maior colónia de cirros, instalados na muralha; som o melhor antimosquitos da cidade. Portanto, imaginemos o que supom o enfraquecimento ou desapariçom de tais espécies: prováveis proliferaçons de plagas contra as que, a dia de hoje, ainda nos protegem.